Conselho Indigenista Missionário lança relatório de violência contra povos indígenas no Brasil

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) lançou nesta quarta-feira, 26 de julho, o relatório “Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil”, publicação anual que apresenta um retrato das diversas violências e violações praticadas contra os povos indígenas em todo o país. , e foi transmitido ao vivo pelo canal do YouTube do Cimi.

Participaram da mesa de lançamento, o secretário-geral da CNBB, Dom Ricardo Hoepers, o presidente do Cimi e arcebispo de Porto Velho (RO), Dom Roque Paloschi, o secretário executivo do Cimi, Antônio Eduardo Cerqueira de Oliveira, os organizadores do relatório, Lucia Helena Rangel e Roberto Antonio Liebgott, a vice-cacica da Terra Indígena (TI) Barra Velha (BA), Erilsa Pataxó, o líder indígena Guarani Kaiowá (MS), Josiel Kaiowá, e o presidente da Associação Wanasseduume Ye’kwana (RR), Júlio Ye’kwana.

Assista aqui:

Abrindo a mesa, o secretário-geral da CNBB, Dom Ricardo Hoepers, falou da importância dos dados divulgados pelo Cimi. “Este relatório vai muito mais além do que simplesmente a reinvindicação das políticas públicas necessárias. Quando vemos a grande questão da incidência de ações violentas contra a pessoa do indígena nos assusta muito. E aí os números em relação aos assassinatos, aos suicídios e a mortalidade infantil é algo que não tem como nos ficarmos alheios a essa situação de perda da dignidade da pessoa humana”, destacou.

Presidente da entidade, Dom Roque Paloschi lembrou que a cada ano, em um sinal profético, o Cimi chama toda a Igreja, sociedade e a todas as pessoas de boa vontade para perceber as atrocidades e barbáries cometidas contra os povos indígenas.

O arcebispo falou sobre o sentimento de indignação pelo sistêmico genocídio cometido contra os povos originários violentados em seu direito fundamental a vida e a terra. “O relatório de violência contra os povos indígenas do ano de 2022 escancarou as atrocidades contra os corpos de mulheres, homens, crianças, jovens e idosos. A maldade assumida numa escalada de violência que não respeitou a vida dos seres humanos e da terra, como organismo vivo e vital para a vida da humanidade e das futuras gerações, alguns perplexos outros indiferentes e outros ainda com sangue nos olhos assistiram a brutalidade do genocídio dos povos indígenas que aconteceu sistematicamente em escalada progressiva de norte a sul e de leste a oeste do Brasil”, afirmou Dom Roque.

 

Violência nas comunidades

Erilsa Pataxó, da Terra Indígena Barra Velha (BA), expôs os ataques sofridos nas comunidades Pataxó no Sul da Bahia. “Hoje estamos sendo atacados, não só por questões de fazendeiros, mas estamos sendo atacados por todos os lados. Pelas mídias regionais e eu gosto de dizer assim: hoje, a gente indígena, já começa a sofrer dentro do útero da nossa mãe, já pela questão da falta de assistência de saúde, e quando nasce, mesmo sendo indígena nesse Brasil a gente sofre muito, sofre preconceito e discriminação. Então essa violência ela está circulando a gente por todos os lados, mas nem por isso nós vamos desistir porque quando se mata um indígena nasce dez guerreiros para a luta. Não vamos desistir jamais do nosso território”.

Júlio Ye’kwana, da Terra Indígena Yanomami Roraima (RR), falou dos impactos do garimpo ilegal no território. “Sofremos, e estamos sofrendo ainda, sofremos durante quatro anos nesse governo passado, que deixou invadir em vez de proteger nossa terra indígena Yanomami. Isso é falta de interesse e falta de respeito pelos povos indígenas. Hoje, estamos vivendo dentro dessa consequência, como a colega falou aqui, nosso sofrimento começa a partir do útero da mãe, por conta do mercúrio que hoje tomamos água do rio contaminada. A partir daí que começa o nosso sofrimento”, garantiu.

“É triste ver a mãe perder a criança. Então o garimpo causou muitas coisas e doenças, sabemos disso, os senhores sabem do que estamos falando aqui. A malária aumentou muito e diarreia, vômitos e doenças respiratórias. Tudo isso causado pelo garimpo”, afirmou o líder indígena yanomami.

O líder indígena Guarani Kaiowá (MS), Josiel Kaiowá, sobrevivente do massacre de Guapoy, denunciou o genocídio e a militarização do estado brasileiro contra os povos indígenas.

Relatório

O Relatório, organizado em três capítulos e 19 categorias de análise, apresenta um retrato das diversas violências e violações praticadas contra os povos indígenas em todo o país. Para a produção do documento foram sistematizados dados obtidos através de informações dos regionais do Cimi, de comunidades indígenas e de veículos de comunicação, além de fontes públicas oriundas da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e de secretarias estaduais de saúde.

O levantamento reúne dados sobre violações contra os direitos territoriais indígenas, como conflitos, invasões e danos aos territórios; violências contra a pessoa, como assassinatos e ameaças; e violações por omissão do poder público, como desassistência nas áreas da saúde e da educação, mortalidade na infância e suicídios.

Lucia Helena Rangel apresentou alguns dos principais dados de violência contra os povos indígenas. O relatório aponta 416 casos de violência contra pessoas indígenas em 2022, registrando um aumento de 14% em relação ao ano de 2021.

Em 2022, assim como nos três anos anteriores, os estados que registraram o maior número de assassinatos de indígenas foram Roraima (41), Mato Grosso do Sul (38) e Amazonas (30), segundo dados da Sesai, do SIM e de secretarias estaduais de saúde.

Acesse o Relatório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil – 2022 AQUI

Ao comentar os dados, Roberto Antonio Liebgott agradeceu a todas as mãos e equipes que colaboraram com a construção do relatório. O missionário destacou o relato das lideranças indígenas que, segundo ele, mostram que não são mais silenciosas.

“Esse relatório, diferente dos outros relatórios, ele fecha o ciclo da perversidade, de um ciclo de quatro anos de brutalidade, e é por isso que a gente, ao trabalhar esses dados no relatório, se preocupou em trazer os dados copilados dos últimos anos”, afirmou.

Participaram pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil), a secretaria executiva Irmã Maria Irene Lopes, e a articuladora territorial, Dorismeire Vasconselos.

Fonte: REPAM

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