Moçambique: terra de esperança

Adilson Zilio *

O Regional Sul 3 da CNBB tem um convênio (entre-ajuda) com a Arquidiocese de Nampula - Moçambique. A Igreja do Rio Grande do Sul está mantendo cinco missionários nas Paróquias São Miguel Arcanjo de Micane e São Paulo de Larde. São eles: Pe. Maurício da Silva Jardim, da Arquidiocese de Porto Alegre, Pe. Luis Caldada, espanhol, mas há muitos anos na Diocese de Goiás, os leigos Camila Gomes e Edenilson de Santo Antônio da Patrulha, e Tatiane Silveira Soares de Cachoeirinha.

Nos dias 27 de julho a 13 de agosto, Dom Jaime Pedro Kohl, bispo de Osório, eu da Paróquia Menino Deus, de Caxias do Sul e a secretária da Animação Missionária, do Regional Sul 3, Silvane Agnolin, estivemos visitando os missionários, prestando nossa solidariedade e avaliando o projeto. Nestas poucas linhas quero partilhar o que vimos e ouvimos nestas terras Africanas.

As Paróquias São Miguel Arcanjo de Micane e São Paulo de Larde possuem uma população estimada em 80 mil habitantes. Apenas 20 mil são católicos. Os outros são muçulmanos ou de religiões tradicionais. Atendem a 140 comunidades, divididas em 19 zonas e 4 regiões. A grande maioria das comunidades recebe a visita dos missionários uma vez por ano. Outras, uma a cada três anos.

Uma comunidade começa com a sala de catequese, como costumam falar. Neste momento as pessoas são catequizadas (duração de três anos). Depois começam a se encontrar em grupos de oração e se abre a comunidade só quando há um número de casais que consigam assumir os ministérios da comunidade. Os coordenadores das comunidades se chamam anciãos. Os representantes das zonas formam o conselho paroquial.

A presença dos missionários, junto ao povo Moçambicano, é de muito orgulho e esperança para todos nós, pelo serviço prestado. Os padres ajudam na evangelização, formação e sacramentos e os leigos contribuem na organização, aulas de informática, atendimento a saúde, com visitas aos doentes e hospital, acompanham o Lar Vocacional, com 8 meninos da oitava série ao ensino médio, com aulas de reforço e ajudam a organizar pequenas associações de geração de renda em 10 paróquias.

A língua oficial de Moçambique é o português, porém o povo fala sua língua nativa, macúa. A moeda nacional é o metical. Uma moeda muito desvalorizada. Um dólar equivale a 35,00 meticais. Encontramos na "Vila" de Moma, como falam, um povo muito acolhedor. Em cada celebração fomos acolhidos com uma grande festa.

O que conseguimos perceber é que este povo esteve submisso a Portugal até o ano de 1975, quando da sua Independência, depois disso houve muitas guerras entre si, aumentando o sofrimento até o ano 1992. Neste tempo se criou um estado laico. Os religiosos, ou missões estrangeiras foram expulsas do país. As igrejas foram transformadas em escolas. Ainda hoje algumas continuam, não foram devolvidas para as paróquias. Apenas nestes últimos anos conseguiram um pouco de "democracia". Sempre estiveram longe do desenvolvimento. Poucos recursos públicos. Quase não tem emprego, ou a minoria tem salário. Esses com um salário bem baixo, 50 a 100 dólares. Outros vivem da economia informal. Mas é um povo que a cada dia procura defender sua vida, ganhando alguns meticais.

O tempo da "colônia" terminou mas alguns continuam com saudades. Neste tempo o povo foi acostumado a mendigar e receber tudo de fora. Por isso ainda em nossos dias as pessoas continuam pedindo. Encontram nos estrangeiros verdadeiros padrinhos. A responsabilidade da missão é mostrar que são capazes, e o são verdadeiramente. Percebi neste povo uma grande esperança e vou contar por quê.

O povo moçambicano é muito sedento de fé. Não mede esforços em participar da sua igreja. Muitas pessoas fizeram mais de 10km, a pé, para acolher o bispo e sua "comitiva". Alguns nunca tinham visto um bispo. Não demonstravam cansaço, mas sim a realização e felicidade. Não é por acaso que é o continente em que a religião católica mais cresce.

A terra de Moçambique é fértil. Isso nós podemos provar. Muitos alimentos foram partilhados nas celebrações. Uma escola de agricultores ou encontros formativos ajudariam para conseguirem alimentos para o ano todo. Eles dizem "o tempo é nosso". Para dizer o quanto estão dispostos a ouvir e aprender coisas novas. Graças a Deus os agrotóxicos não chegaram lá. Então imaginem quão saudáveis são os alimentos!

São incontáveis as crianças existentes por lá. Nem sempre bem tratadas e valorizadas. Uma Pastoral da Criança faria milagres. Produtos para a multimistura e chás tem. Ambiente também. Tempo disponível tem. Falta só alguém que as oriente. Há ainda muita precariedade na saúde. O que mais mata é a desnutrição e a AIDS. São 40% dos moçambicanos afetados. Faltam remédios, pessoas capacitadas. Com uma qualidade de vida tão baixa qualquer doença, como a malária, por exemplo, pode levar a morte, porém com orientação sadia, higiene e acompanhamento dá para salvar muitas vidas.

Entre as duas paróquias há 10 associações. Um investimento baixo que gera renda para as famílias. Dá para multiplicá-las. Tem campo para isso. Precisa de pessoas qualificadas para acompanhá-las. A água ainda precisa ser carregada dos poços rios e mananciais. Ainda é tempo de cuidar das matas ciliares, e das nascentes. Multiplicar as cisternas e abrir novos poços. O tempo de seca, que compreende os meses de agosto a dezembro, faz peregrinar em busca de água.

Os muçulmanos são a grande maioria. E sua cultura predomina. Porém eles não estão preocupados em transformar a realidade. Nossa religião sempre buscou o evangelho na vida. Consegue fazer a diferença. "Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância" (Jo 10,10). Este povo precisa de mais missionários; de leigos e consagrados. Com poucas coisas dá para transformar essa realidade de morte em sinal de vida plena. Por estes e por tantos outros sinais que eu posso dizer: Moçambique é Terra de Esperança.

* Padre Adilson Zilio, da Paróquia Menino Deus, de Caxias do Sul, RS.

Fonte: Animação Missionária Sul 3 da CNBB

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