Marcha movimenta a capital do Fórum Social Mundial

Jaime C. Patias *

Uma Marcha com a participação de aproximadamente dez mil pessoas deu continuidade às atividades do Fórum Social Mundial 10 Anos, na tarde desta segunda feira, 25, em Porto Alegre. Movimentos sociais, organizações e membros da sociedade civil ergueram suas bandeiras e deram gritos de ordem na caminhada entre o Mercado Municipal, no centro da Capital gaúcha, até a Usina do Gasômetro, às margens do Rio Guaíba, percurso que durou mais de duas horas.

À frente, lideranças e expressões religiosas unidas reveindicavam liberdade e respeito às diferenças de credo. Segundo os organizadores da manifestação, o Rio Grande do Sul reúne 65 mil Terreiros de Umbanda, sendo o Estado mais negro do sul do país. Entre os manifestantes estava o jovem José Carlos Lemos que denunciava o racismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul - URGS. "Há dois anos, estudantes escreveram frases racistas contra pessoas afro-descendentes brasileiras, nas paredes da Universidade e a polícia não foi inteligente o suficiente para punir os responsáveis", denunciava José Carlos. Segundo ele, dois anos depois não houve punição e membros da Brigada Militar receberam promoção.

O argentino Jorge Tranquilauquen, da Província de Buenos Aires, veio ao Fórum como representante de um grupo de agricultores familiares. Após participar do 1º Fórum de Economia Solidária, em Santa Maria-RS, quis continuar participando do FSM na Grande Porto Alegre."Estamos na Marcha para dar continuidade ao processo de reflexão por um outro mundo possível. Na Economia Solidária, o caminho é lento, mas temos muita esperança," concluiu Jorge. Uma forte concentração de mulheres também marcou presença. "A nossa maior bandeira é lutar contra toda a espécie de violência e discriminação", afirmou Silvana da Liga Brasileira de Lésbicas.

Para João Pedro Stédile, membro da Via Campesina e líder do MST, o Fórum Social Mundial tem uma história exitosa porque, ao longo desses dez anos, conseguiu reunir uma ampla variedade de movimentos sociais e forças que lutam contra o neoliberalismo. "Acredito que conseguimos derrotar o neoliberalismo enquanto projeto ideológico, mas ainda precisamos juntar mais forças para derrotar o neoliberalismo enquanto projeto econômico e derrotar o imperialismo," destacou Stédile enquanto caminhava com a multidão. Para o sociólogo e ativista, ainda há uma longa caminhada pela frente. Na sua opinião, "os pilares do neoliberalismo que foram derrotados, foi, em primeiro lugar, o discurso ideológico que dizia que o capitalismo era o sistema mais perfeito da história. Segundo, que o mercado resolvia todos os problemas e, ao invés disso, ele só criou problema. Em terceiro lugar, os adeptos do neoliberalismo defendiam o Estado mínimo, mas na crise, tiveram que apelar para o próprio Estado salvar seus bancos. Por último, a atual crise demonstrou que esse projeto de crescimento econômico a qualquer custo, visando apenas o lucro, é inviável sob o ponto de vista ambiental. O planeta já não tem mais matéria-prima suficiente para produzir tantos bens de consumo de scartáveis" concluiu Stédile.

Após a marcha, os participantes continuaram concentrados às margens do Guaíba, próximo à Usina do Gasômetro para assistir a shows musicais que reunia bandas como Bataclã FC, Renato Borgetti, Revolução RS, Marieti Fialho, Tonho Crocco, Banda Gog, Teatro Mágico, Papas da Língua e Marcelo D2. A programação do FSM 10 Anos segue, na terça-feira,26, com seminários temáticos em diversos locais da Grande Porto Alegre.

* Jaime C. Patias, revista Missões no FSM 10 Anos em Porto Alegre.

Fonte: Revista Missões

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