Pentecostes e o Brasil da Copa

Stephen Gichohi Ngari *

A solenidade de Pentecostes na Igreja é celebrada com pompa, música e dança. Nesse dia em que se comemora a descida do Espírito Santo aos discípulos, ressalta-se o nascimento da Igreja missionária. O Espírito fez decolar o mandato missionário dado aos apóstolos na Ascensão de Jesus. A força do alto apodera-se dos discípulos, o sinal da gratuidade e da presença de Deus neles e no mundo.

Hoje, seguindo o convite do Papa Francisco de ser a Igreja em saída, podemos celebrar o Pentecostes de olho nos setores da sociedade carentes da graça de Deus. A Campanha da Fraternidade 2014 manifestou o mal do tráfico humano existente no meio de nós e suas sequelas em milhares de pessoas. A pobreza na cidade e no campo continua desenfreada. Assistimos casos de violência e abusos de dignidade humana nas camadas baixas da sociedade; negros, indígenas e moradores de rua.

A solenidade também acontece na véspera da Copa do Mundo. A diversidade mundial estará presente no Brasil. O evento é uma manifestação da unidade na diversidade e deveria ser utilizado para promover integração e unidade no mundo. Infelizmente, o fator econômico é mais sublinhado que o fator cultural (diversão) e, portanto, torna-o um evento de alienação.

Brasil, o país que sedia o torneio mundial sentiu a dureza do seu caráter capitalista, quando viu bilhões de dinheiro sendo injetado nas infraestruturas exageradas e desnecessárias enquanto os serviços indispensáveis, saúde e educação, continuam na precariedade. Esta realidade fez o povo revoltar-se contra o governo e o evento.

Apesar das promessas do governo intervir para melhorar os serviços, nada que ajudasse foi feito. A grande massa continua indignada. Vale a pena notar a consciência alerta do povo. A era do pão e circo já passou. Os brasileiros, como são mundialmente conhecidos, gostam de futebol, entretanto, isso não os fez ficar quietos enquanto seus direitos estão sendo pisoteados em nome da Copa.

Conscientes deste contexto, o Espírito da verdade ajude-nos a aproveitar o evento para promover a paz e a integração. Acolhamos bem os visitantes e mostremos-lhes a cara alegre e pacífica dos brasileiros. Ao mesmo tempo, vigiemo-nos para não cair nas ciladas mercantilistas do torneio. A força do Espírito nos anime a continuar firme na luta para defender o direito de todos, principalmente dos mais fragilizados, durante e depois do evento.

Como os apóstolos depois da descida do Espírito Santo, que possamos deixar a zona do conforto em busca dos esquecidos da sociedade. A voz dos pobres, dos moradores de rua, dos jovens vítimas da violência, dos indígenas desterrados, dos negros discriminados, dos idosos e deficientes desrespeitados e esquecidos continua clamar a Deus. O Espírito Santo, a presença contínua de Deus em nosso meio, nos motive a socorrer esses nossos irmãos e irmãs para que possam ter sua dignidade humana protegida e respeitada.

* Stephen Gichohi Ngari, imc, é missionário da Consolata queniano, em São Paulo.

Fonte: Revista Missões

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