Deus, acho que estou desconfiando do Senhor...

Hilário Cristofolini *

Mais uma vez, dom Servílio Conti e eu marcamos encontro e o Senhor não ajudou a dar certo. Senão, vejamos: Ele partiu da capital (SP), com padre Mariga e por problemas de saúde, acompanhou-o um enfermeiro. Objetivo da viagem: numa clínica da região, ele precisa reajustar seu marcapasso. A propósito: além dessa marca, o bispo tem mais duas: a marca dum grande amor a Deus e a marca dum incondicional amor ao próximo, de preferência aos mais pobres.

Hoje, 20/2/2014, manhã calorenta, ele tem pela frente uns 400 quilômetros. Eu, saindo de meu grotão, tenho a metade disso. Parti com Eleandro e a companheira de 44 anos, a cadeira de rodas. Para dom Servílio e para mim, vai valer a pena o encontro, pois não sabemos se teremos oportunidade de outros, porque ele tem 97 outubros, eu 77 junhos.

A paraplegia diz que a validade da vida deste cadeirante está vencendo... O Senhor sabe, meu Deus, que ninguém é de ferro. Então, marcamos encontro em Aparecidinha de São Manuel, no restaurante Carrero, de nosso amigo comum, o Carlinhos. Cheguei na cidade antes da hora marcada e aproveitei para ver o Santuário, onde dom Servílio, já com marcapasso e bengala, preferiu gastar as penúltimas forças físicas, não digo as espirituais, porque estas, nele, são inesgotáveis. Entrevistei uns fiéis, seus ex-paroquianos que sempre o veneram. Depois, de olho no relógio, fui ao restaurante. Carlinhos montou a grande mesa central. Lá fiquei com ele, bolando a recepção ao bispo. Convidamos alguns amigos, cada um com lembranças e perguntas ao bispo. Tínhamos até uns livros de sua biografia para ele autografar, e um fotógrafo. A entrevista seria digna dum grande jornal.

Eu sempre com um olho no relógio, outro na porta. Já são 14h30 e... Meu Deus, por que dom Servílio não chega? Mais 15 minutos e a preocupação se fez angústia. Depois, oração: Meu Deus, ele saiu de casa, fazendo o Sinal da Cruz e dizendo o que sempre diz: Em nome no Pai, do Filho e do Espírito Santo. O que aconteceu que ainda não chegou? Às 15 horas, eu já era confusão: Meu Deus, o que aconteceu nestas estradas tão perigosas? Logo depois, eu era desconfiança: Meu Deus, é a terceira vez que dom Servílio e eu marcamos encontro e... nada aconteceu, por quê, meu Deus? O Senhor tem algo contra mim? Ando desconfiando que nem no céu vou poder encontrar meu amigo? Por favor meu Deus!!!

Logo chegou Mateus com o recado: O carro do bispo quebrou. Mandou dizer que vai almoçar por lá, depois vai procurar a clínica. Frustrado, peguei a estrada e voltei, refletindo no que o mestre Servílio me ensinou: O homem propõe e Deus dispõe.

* Hilário Cristofolini é escritor.

Fonte: Hilário Cristofolini / Revista Missões

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