Moçambique: 20 anos do Acordo de Paz

Diamantino Guapo Antunes

Moçambique comemorou, dia 4 de outubro, o 20.º aniversário do Acordo Geral de Paz, que pôs termo a 16 anos de guerra movida pela Renamo contra o Governo da Frelimo. O histórico acordo foi assinado na capital italiana, Roma, pelo então Presidente da República de Moçambique, Joaquim Chissano, e pelo líder da Resistência Nacional de Moçambique (Renamo), agora principal partido da oposição, Afonso Dhlakama.

O Acordo Geral de Paz não foi apenas fruto da habilidade dos negociadores, pacientemente orientados na parte final pela Comunidade de Santo Egídio, mas deve-se sobretudo ao perseverante trabalho de formação nos valores do perdão e reconciliação, efetuado pelas Igrejas, com especial relevo para a Igreja Católica, no terreno.

A paz era o bem mais suspirado por todos em Moçambique. A Igreja fez tudo o que podia para ser sinal e protagonista da reconciliação. Os missionários foram chamados a ser mediadores concretos no encontro, na educação para a convivência e perdão recíprocos em todo o tempo e lugar.

A partir de 1982, a Igreja Católica começou gradualmente a recuperar o seu espaço de intervenção no âmbito social. A sua força moral foi-se impondo, denunciando as arbitrariedades, tanto do governo como da guerrilha, e apelando à paz.

Com a constituição da Caritas, estruturada a nível nacional, diocesano, paroquial e comunitário, a Igreja começou a colaborar em projetos de assistência e de promoção humana e integrou nos seus planos de ação a sensibilização para os temas da reconciliação e da paz.

A pouco e pouco a Igreja Católica emergiu como força capaz de dar esperança ao povo e consistência ao caminho para a liberdade e para a paz. Neste sentido, a Conferência Episcopal publicou várias cartas pastorais em que apelava à paz e à reconciliação das partes em luta (Frelimo-Renamo).

O acordo de paz é celebrado anualmente em toda a parte com alegria e também com algum ceticismo. Os frutos da paz são visíveis, mas existem ameaças à mesma: a pobreza e a exclusão social de grande parte da população e o déficit de cultura democrática nos partidos políticos. A Conferência Episcopal de Moçambique (CEM) denunciou recentemente em nota pastoral as "práticas autoritárias" nos partidos políticos do país e considera que a paz e a democracia podem estar em perigo. O alerta é deixado no documento ‘Construir a Democracia
para perseverar a Paz', por ocasião dos 20 anos do Acordo geral de Paz.

Fonte: Diamantino Guapo Antunes / Revista Missões

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