Epifania: Manifestação de Deus

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No capítulo 2 do Evangelho de Mateus, temos presente a Epifania, ou seja, a revelação de Jesus à humanidade.

Por Paulo Mzé

Epifania quer dizer “manifestação”. De uma maneira única, Deus veio ao nosso encontro em Jesus. Ele se manifesta a Maria e a José, membros escolhidos do povo de Israel, e aos pastores, símbolo dos pecadores com quem veio reconciliar, manifestando-se aos magos, pagãos, que não pertencem ao povo de Deus. Isso quer dizer que a revelação de Deus em Jesus é para todos. Afinal, Ele é a luz dos povos.
Vamos estudar o capítulo 2 do Evangelho de Mateus (Mt 2, 1-12). Cada um dos quatro episódios do capítulo gira em torno de um topônimo: Belém, Egito, Ramá e Nazaré. Jesus era conhecido como galileu (Cf. Jo 7, 41-42) da cidade de Nazaré. As quatro cenas do capítulo explicam como Jesus, Filho de Davi, nasceu em Belém, como foi levado ao Egito a fim de evitar a ameaça de morte, porque não voltou a Belém e como Nazaré veio a ser sua cidade.

Cada episódio inclui uma citação do Antigo Testamento que contém o nome de um lugar, indicando que o itinerário do Messias foi guiado pela vontade de Deus.

Os magos

Depois de citar o local do nascimento de Jesus em Belém e sua data no fim do reinado do rei Herodes Magno (37-4 a.C.), o primeiro episódio apresenta magos do Oriente que possuem conhecimento astronômico e astrológico. O “astro” que viram pode bem ter sido a conjunção dos planetas Júpiter e Saturno. Também pode haver uma referência às especulações baseadas em Nm 24,17 (“De Jacó sobe uma estrela”), que ligavam o nascimento do Messias ao aparecimento de um astro.

Os pagãos representados pelos magos devem fazer uma longa caminhada, guiados pela estrela, para chegar a Jerusalém e informar-se onde nasceu o Senhor. Os magos representam o caminho de fé do pagão, ou seja, o nosso caminho.

Os esforços para identificar o astro não devem desviar a atenção dos assuntos principais da passagem. A tripla ocorrência de “prestar-lhe homenagem”, nos versículos 2, 8 e 11, expressa o tema fundamental, e o contraste entre os magos e Herodes, que desenvolveu-se no decorrer da história.

Em resposta à revelação imperfeita do astro, os magos pagãos vêm adorar Jesus. Mas precisam aprender nas Escrituras hebraicas que o Messias deve nascer em Belém (vv. 5-6). Seguem para Belém e adoram o Messias recém-nascido. A tradição de três magos desenvolveu-se no século V, e os três tipos de presentes relacionados no v.11, no século VIII.

A história dos magos sempre impressionou a cultura dos grandes e a piedade dos pequenos. O texto os chama de “magos”, mas tornaram-se ‘reis’, por influência de Is 60, 3 e do Sl 72, 10ss. O texto não os qualifica, mas na tradição, são contados ‘três’, em correspondência aos três dons que ofereceram. Ampliados simbolicamente, representam Sem, Cam e Jafet, os filhos de Noé, toda a humanidade, raiz ancestral da Igreja.

Os símbolos

O Salvador está presente, antes de tudo, na ‘estrela’, que simboliza a sabedoria, princípio de toda busca. A verdadeira sabedoria leva a Jerusalém: a sabedoria abre a mente e o coração para a revelação, e o Salvador está presente na ‘Escritura’, que indica em que direção deve ser procurado. Seguindo as suas indicações, a estrela reaparece numa nova luz: a razão é iluminada pela revelação e conhece aquele que procura. No recém-nascido, enrolado em trapos, ele é adorado: abrem-se para ele os tesouros. O Senhor está presente na ‘adoração’, no ‘beijo de comunhão’ com ele, e no ‘tesouro’ de quem dá como ele se deu. Assim, Deus já é e, finalmente será, em plenitude, “tudo em todos” (1Cor 15, 28). Em sua busca de Deus, os pagãos são ajudados pela sua própria sabedoria, simbolizada pela ‘estrela’. E os pagãos não chegam à fé de mãos vazias. O “ouro” representa o que cada um tem. O “incenso” representa o que cada um deseja. A “mirra” representa o que cada um é. Damos a Deus os nossos haveres, os nossos desejos e as nossas penúrias, e Deus nos dá o seu tesouro, o Filho amado que nos ama até o ponto de dar a vida por nós.

A fé dos magos pagãos contrasta com a cínica esperteza de Herodes. Como idumeu cujo judaísmo era suspeito, Herodes naturalmente temia todos os movimentos messiânicos como ameaças ao seu poder político. Embora tivesse acesso às Escrituras e entendem claramente o que o profeta Miqueias (cf. Mq 5,1; 2Sm 5,2) dissera sobre o lugar do nascimento do Messias. Herodes não estava disposto a adorar o rei recém-nascido.

A festa da Epifania do Senhor é um convite a fazermos de novo a caminhada dos magos, como se não soubéssemos ainda “onde” está o Senhor. É preciso fazer em primeira pessoa a trajetória, enfrentando as noites da vida e da alma, os desejos e as dúvidas, as esperanças e as incertezas, guiados por uma ‘estrela’, que aparece e desaparece. Para não virarmos aqueles escribas e sacerdotes que sabiam tudo sobre o Senhor e davam a pista para matá-lo ou Herodes, que não sabia de nada, mas tinha poder para matá-lo, e, assim, preservar seu poder. É preciso tomar o caminho dos magos e deixar-se possuir pelo seu coração: o caminho do amor, que, através da busca da inteligência e da revelação, da alegria e da adoração, chega ao dom de si. Só assim nascemos nele e ele em nós.

O episódio dos magos reflete a experiência que a Igreja primitiva tinha da presteza dos pagãos em aceitar o Evangelho e a lentidão desapontadora de todo Israel para recebê-lo. Também prepara o reconhecimento de Jesus como rei dos judeus (Mt 27, 11.29.37) e a missão universal dos discípulos (Mt 8, 11-12; 28, 18-20).

* Paulo Mzé, imc, é diretor da revista Missões.

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