Solo e sopro Sagrado

A Solenidade de Pentecostes é uma das celebrações mais importantes do calendário cristão, e comemora a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos de Jesus Cristo.

Por Isaack Mdindile*

De fato, sem o Espírito Santo, Deus está distante, Cristo é do passado, o Evangelho é letra morta, a Igreja é uma simples organização, a autoridade é dominação, a missão é propaganda, o culto é evocação, o agir cristão é uma moral de escravos. Mas, com o Espírito Santo e no Espírito Santo, o Universo é elevado e clama pelo Reino de Deus, a presença do Cristo Ressuscitado é reconhecida, o Evangelho é vida e poder, Igreja significa ‘koinonia’ trinitária, a autoridade é um serviço libertador, a missão um Pentecostes, a Liturgia é memorial e antecipação do mistério, o agir humano é divinizado (Cf. Ignazio Hazim, La resurrezione e l'uomo d'oggi - Ed. Ave, Roma, 1970).

Viver-Pentecostes-é-abastecer-se-do-Espírito-SantoA Solenidade de Pentecostes é uma das celebrações mais importantes do calendário cristão, e comemora a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos de Jesus Cristo. O Pentecostes é celebrado 50 dias depois do Domingo de Páscoa. A fonte dessa celebração está na Sagrada Escritura, que começa assim: Na tarde de Páscoa, Jesus no cenáculo “soprou sobre eles [seus discípulos] e lhes disse: Recebei o Espírito Santo”. [Jo 20, 19-23]

Este sopro de Cristo evoca o gesto de Deus que, na criação, “soprou sobre o homem, feito de pó do chão, um alento de vida, e tornou-se o homem um ser vivente” (Gn 2, 7). Com aquele gesto, Jesus vem dizer, portanto, que o Espírito Santo é o sopro divino que dá vida à nova criação, como deu vida à primeira criação. O salmo responsorial sublinha este tema: “Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e renovai a face da terra” [Sal 103, 1-34]

Em hebraico espírito é ‘ruah’ e em grego ‘pneuma’. Ambos os termos estão ligados aos processos vitais, pois significam sopro, vento, vendaval e furacão. Mas, sobretudo, significa a pessoa. Lógico, a terceira pessoa da Santíssima Trindade. Inicialmente, o Espírito não é conscientizado como Pessoa, mas como uma força divina e originária que atual na criação, se move nos seres vivos e age nos homens. Pois o ser humano não pode viver sem (nêfesh) a garganta, respiração, alento e fôlego. No mundo que considera tudo material, mecânico, sentimental, é importante sublinhar e enfatizar a força do Espírito Santo na nossa vida, como uma renovação e inovação saliente de todas as coisas.

O Espírito Santo é, portanto, Aquele que permite passar - a criação - do caos ao cosmos, o que faz assim algo belo, ordenado, limpo (cosmos vem da mesma raiz que cosmético, e quer dizer belo!), realiza assim um “mundo”, segundo o duplo significado dessa palavra. A ciência nos ensina hoje que este processo durou bilhões de anos, mas o que a Bíblia quer dizer-nos, com linguagem simples e imaginativa, é que a lenta evolução da vida e a ordem atual do mundo não ocorreu por acaso, obedecendo a impulsos cegos da matéria, mas por um projeto aplicado nele, desde o início pelo criador.

Resistências as surpresas do Espírito Santo?
E quando o Espírito nos surpreende com algo que parece novo ou que ‘nunca foi assim’, ‘é preciso fazer assim’; pensem no Vaticano II, nas resistências que o Concílio Vaticano II teve, e digo isto porque é o que está mais perto de nós. Quantas resistências... Também, hoje, há resistências que continuam de uma forma ou de outra, e o Espírito é o que segue adiante. E o caminho da Igreja é este: reunir, unir, escutar, discutir, rezar e decidir juntos. E isto é a chamada sinodalidade da Igreja, na qual se expressa a comunhão da Igreja. E quem faz a comunhão? O Espírito! Outra vez o protagonista. O que o Senhor pede? Docilidade ao Espírito. O que o Senhor nos pede? Não ter medo, quando vemos que é o Espírito quem nos chama. O Espírito – concluiu o Papa Bergoglio – às vezes nos detém”, como fez com São Paulo, para fazer com que partamos para outra parte, “não nos deixa sozinhos”, “nos dá o valor, nos dá a paciência, nos faz ir seguros pelo caminho de Jesus, nos ajuda a vencer as resistências e a ser fortes no martírio”. Peçamos ao Senhor – exortou – a graça de compreender como a Igreja segue adiante. Compreender como desde o início enfrentou as surpresas do Espírito e, também, para cada um de nós, a graça da docilidade ao Espírito, para seguir pelo caminho que o Senhor Jesus quer para cada um de nós e para toda a Igreja.

Para nós, cristãos, o Pentecostes marca o nascimento da Igreja e sua vocação para a missão universal. Festa do diálogo, da unidade dos cristãos e da compreensão das coisas do alto. Portanto, a Igreja deve continuar a ser sinal, ou seja, precisa tornar visível o Deus invisível; tornar tocável o transcendente. Como ela faz isso? Através de sinais visíveis: da comunidade cristã; da celebração dos sacramentos; da proclamação da palavra etc. Se Jesus é o "Enviado", cheio do Espírito do Pai, nós, ungidos pelo mesmo Espírito, também somos enviados como mensageiros e testemunhas de paz, missionários, Igreja "em saída". Quanta necessidade tem o mundo de mensageiros de paz, de testemunhas de paz! Também o mundo nos pede para fazermos isso: levar a paz, testemunhar a paz! A paz não se pode comprar, não está à venda. A paz é um dom que se deve buscar pacientemente e construir "artesanalmente" através dos pequenos e grandes gestos que formam a nossa vida diária (Cf. Homilia do Papa Francisco em Amã - Jordânia, sábado, 24 de maio de 2014).

Pentecostes tornou-se o símbolo do nascimento das comunidades cristãs, reunidas ao redor dos ensinamentos de Jesus. Por isso mesmo a Igreja celebra Pentecostes com a máxima solenidade.
Por fim, a pergunta para cada um de nós é: será que eu tenho todo o Espírito Santo? Aliás, será que o Espírito Santo tem tudo de mim?

*Isaack Mdindile, imc, é seminarista em São Paulo, SP.

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