A falsificação teológica que esvazia o sentido da fé

Sandro Magister

Um dos modos de falsificar a teologia, disse o Papa, é a promoção da opinião pública contra o Magistério da Igreja. E outro é a divulgação do preconceito contra a fé, afirmando que a fé num só Deus gera violência.
Na segunda semana de dezembro de 2012, por ocasião da sessão plenária anual da Comissão Teológica Internacional, o papa disse algo fora do comum. Em 06 de dezembro, os 30 teólogos que compõem a comissão, cujo presidente é o cardeal Gerhard L. Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, fizeram uma peregrinação à Basílica de Santa Maria Maior para o encerramento da sessão.

A Comissão já tinha divulgado e explicado o significado desse gesto em uma mensagem publicada em outubro: "Confie o seu trabalho e o de todos os teólogos católicos à Virgem fiel, proclamada "bem-aventurada porque acreditou" (Lc 1, 45); ela é o modelo de crentes e baluarte da verdadeira fé ". O conteúdo essencial dessa mensagem era para expressar a verdade de que a "teologia não existe somente em relação ao dom da fé ", mas da vida. A tendência no mundo moderno - também dentro da Igreja - é dar à teologia um significado separado da fé, como um conhecimento, uma " visão" puramente científica da religião.

Está na moda o pensamento que não reconhece a teologia com o status de verdadeira ciência acadêmica e tende a retirar das universidades a teologia substituindo-a por disciplinas de ciências religiosas. Essa é a moda contra a qual Bento XVI tem lutado incansavelmente desde a memorável palestra que ele deu em 12 setembro de 2005 na Universidade de Regensburg na Alemanha.
Em 7 de dezembro, na verdade, a festa de Santo Ambrósio, ao receber os teólogos da Comissão, o Papa Joseph Ratzinger não perdeu a oportunidade para reiterar o que ele considera o "código genético da teologia católica, isto é, os princípios que definem sua própria identidade."

Essa é a mesma questão à qual a Comissão Teológica Internacional dedicou parte de sua reflexão. Na última etapa do trabalho trataram do tema: "A teologia de hoje Perspectivas, Princípios e Critérios". Mas mais do que o tema geral - ele já o abordara em outras ocasiões- Bento XVI quis se debruçar sobre dois itens específicos de disputa, examinados pela comissão teológica, durante a sessão plenária.

O primeiro é o "sensus fidelium", ou seja, o consentimento universal do povo cristão sobre questões de fé e moral. A opinião pública tende a criar distorções, sobretudo quando se pretende fazer entender a igreja como clientela, que pode ser manipulada para se colocar contra o magistério. Aos poucos se formulam "preconceitos", segundo Bento XVI, contra as religiões monoteístas como se fossem promotoras de violência por se considerarem donas da verdade. A partir desse preconceito defendem o politeísmo de valores para garantir a tolerância e a paz civil.

"A totalidade dos fiéis que recebeu a unção que vem do Espírito Santo (cf. 1 Jo 2, 20.27), não pode errar em matéria de crença e mostra isso através de um sentido sobrenatural da fé. O "sensus fidei" é um critério para discernir o que é ou não uma verdade que faz parte do depósito da tradição apostólica viva. O "sensus fidei" só pode crescer no crente autenticamente na medida em que ele participa plenamente na vida de Igreja, e isso exige uma adesão à sua responsabilidade sobre o ensino, o depósito da fé. Hoje em dia, no entanto, é particularmente importante entender o "sensus fidei" para esclarecer os critérios utilizados para distinguir o verdadeiro "sensus fidelium" dentro de suas limitações. Na verdade, não se trata de um tipo de opinião pública sobre a Igreja a ser confrontada com o Magistério. A verdadeira fé faz nascer uma sensibilidade, um relacionamento, uma comunhão entre os que acreditam.

Sandro Magister Roma 14 /12/2012

 

Fonte: Sandro Magister Roma 14/12/2012

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