Jovens formandos do IMC, na Amazônia, testemunham sua vocação

Antônio Hugo Botelho da Silva, Inácio Cordeiro Padrão e José Silva Menezes

Na oração cotidiana agradecemos ao Senhor que nos chama a servi-Lo. Sentimo-nos chamados à vida religiosa sacerdotal e fazemos o discernimento deste convite, por meio de reflexão, oração pessoal e também com a ajuda de missionários que já doaram sua vida a serviço do Reino. Da mesma forma, agradecemos ao Bem-aventurado José Allamano, que com a graça de Deus, fundou o Instituto Missões Consolata para levar a consolação aos filhos de Deus necessitados nos mais diferentes lugares do mundo. Nossos agradecimentos também ao IMC, que por meio de seus missionários atuantes na região da Amazônia, nos acolheram e acreditaram em nossa vocação. A resposta para dizer sim ao chamado do Pai é possível encontrar na medida em que se supera as dificuldades que se apresentam ao longo da caminhada em cada dimensão da formação, pois nisto se conhece os limites e pode fazer-se maior entrega a Deus.

O Instituto Missões Consolata é uma família consagrada a Deus para a missão. Fundado no ano de 1901, pelo Bem-aventurado José Allamano, o Instituto se caracteriza pelo seu carisma especial de missões Ad Gentes, isto é, anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo além-fronteiras. Nós, jovens formandos da Amazônia, tivemos a oportunidade de conhecer e descobrir o valor especial da vida religiosa com os missionários da Consolata. Por isso, estando concluindo esta importante etapa do postulantado e prestes a adentrarmos no noviciado no IMC apresentamos aqui uma breve síntese de nossa caminhada vocacional a partir de algumas experiências vivida ao longo desses primeiros anos da formação.

O sonho do Bem-aventurado José Allamano de anunciar a Boa Nova de Jesus a outros povos distantes e desconhecidos foi um grande desafio para tornar-se realidade. Porém, isso logo se tornou possível, pois o projeto de missão, conforme o próprio Allamano costumava declarar, não era dele e sim uma ação do Espírito Santo e da Mãe Consolata. Desde então, milhares de jovens têm se entusiasmado a anunciar Jesus Cristo além-fronteiras. Nós também ainda hoje, sentimo-nos entusiasmados e alegres de estarmos na caminhada vocacional no Instituto Missões Consolata e assim agradecemos ao Bom Deus por nos proporcionar a oportunidade de conhecer e viver o carisma IMC inserido por Nossa Senhora Consolata através do Pai Fundador.

Apesar de ser um grande desafio deixar a terra natal, família e amigos para anunciar o Evangelho a lugares distantes, nós ainda mantemos o alento de que isso é possível com o amor e a graça de Deus que se alcança por meio da devoção a Eucaristia e a Mãe Consolata. De fato, essas devoções, em especial, é o que caracteriza um missionário da Consolata, como carisma, que soma ainda, a dedicação no trabalho manual, à oração, a vida comunitária e também o despojamento de si para ir ao encontro do outro mais necessitado e excluído da sociedade. Esses são os valores que os missionários têm de especial e que nos incentivou e ajudou no nosso discernimento vocacional da vida missionária religiosa. Com estes valores aprendemos a integrar o valor da fé e da vida nas dimensões: humana, comunitária, espiritual, intelectual e missionária. Nós descobrimos e aprofundamos esse carisma em nossas orações, conversas, encontros comunitários e nos trabalhos pastorais.

As experiências pastorais realizadas nas comunidades nos ajudaram a aprofundar e integrar o valor da vida e da fé dando ênfase nos sacramentos cristãos da vida missionária religiosa. Por isso, nos possibilitou a descobrir que o missionário deve ter a missão no coração e o ardor missionário para levar a consolação, que é Jesus, até os confins do mundo. O verdadeiro discípulo nunca deve esquecer que ele é também missionário e, nas palavras do Bem-aventurado José Allamano "a Sagrada Escritura deve fazer sempre parte da vida missionária aonde se torna comunhão e missão, isto é, ação".

Uma belíssima experiência pastoral que, para nós, merece destaque foi a Pastoral Carcerária. Essa Pastoral nos ajudou a vivenciar o carisma do Instituto mais de perto, pois fomos ao encontro dos excluídos e rejeitados da sociedade e também desprovidos da Palavra de Deus em suas vidas. Por meio desse trabalho missionário lavamos aos encarcerados a consolação do amor de Deus e da Virgem Maria através dos ensinamentos do Evangelho e também nas conversas sobre a vida deles onde podemos escutar relatos de desabafos de injustiças sofridos antes e depois de cometerem o crime. A escuta parece ser uma coisa pequena e simples, mas quando é feita com atenção e dedicação traz ao detento um consolo e uma paz interior e somos felizes pelas vezes que levamos esse conforto a esses nossos irmãos.

A Pastoral Carcerária tem sido um trabalho missionário desafiador que nos marcou profundamente nesses primeiros anos de caminhada vocacional. Entrar para evangelizar no cárcere exige muito cuidado, coragem, disposição e, sobretudo, fé e amor pelo irmão que ali se encontra. Foi isso que procuramos manter nesse trabalho. Podemos ver nesta Pastoral a grande dimensão missionária dentro do carisma do IMC, pois os detentos são de maioria, pessoas pobres e excluídas da sociedade.

Outro trabalho pastoral importante que temos feito é a Pastoral da Juventude. Nesta Pastoral realizamos diversas atividades para envolver o jovem a fim de que ele crie um engajamento na comunidade local. Entre as atividades feitas destacamos as reuniões semanais em grupo. Feitas de forma dinâmica as reuniões foram sempre participativas com os temas atuais de interesse dos jovens e gincana bíblica. Essa atividade é realizada todo ano no mês da Bíblia e, por meio, dela procuramos unir os grupos de cada comunidade da área missionária para conhecer melhor a Sagrada Escritura; outra atividade importante é o Fest Jovem. Nesse evento os jovens participam por meio de amostras de talentos como danças, teatro, pinturas etc. Nessa Pastoral levamos aos jovens os valores cristãos e podemos assim cultivar o protagonismo juvenil e podemos ver eles manifestarem a fé em diversas formas.

Deixar o lar familiar para viver em uma comunidade religiosa tem sido um verdadeiro desafio para nós ao longo desses anos de caminhada no IMC, talvez a maior dificuldade tenha sido viver a interculturalidade. Porém, quando começamos a descobrir o valor da interculturalidade passamos a entender que isso enriquece nossa humanidade e espiritualidade. Aprendemos com o outro, diferentes modos de manifestações culturais e religiosas. Com a graça de Deus, superamos essa dificuldade quando começamos a nos conhecer, conhecer o outro e conhecer comunidades de povos ribeirinhas e indígenas por meio de visitas e vivências em experiências missionárias que fizemos juntamente com os missionários da Consolata. Isso nos possibilitou ao longo da caminhada compreender quanto é importante conhecer e acolher outras culturas de forma a entrar em sintonia e comunhão com o outro. O que tornou isso possível foi a disposição e dedicação dos missionários religiosos e leigos da Consolata que muito se empenharam em aprofundar o valor de cada cultura.

A oração pessoal é fundamental na vida de um cristão e principalmente na vida de um religioso, pois ela dá o sustento à vocação. Quando iniciamos a formação, tínhamos grande dificuldade para fazer momentos de oração e reflexão pessoal. Não conseguíamos fazer concentração e silêncio, dois elementos fundamentais nesse aspecto, pois não éramos acostumados a esse ritmo de oração, porém, com a exigência da formação e o amadurecimento de cada um, aos poucos fomos nos habituando e conhecendo o valor da oração, tanto pessoal quanto comunitária, para o sustento da vocação. Depois este aspecto foi mais aprofundado com a prática da leitura orante da bíblia que nos foi ensinado desde os primeiros meses da formação e tem sido fundamental nos momentos de oração, bem como a vivência do Evangelho, através da reflexão do mesmo.

A maior experiência espiritual foi conhecer a espiritualidade do Pai Fundador José Allamano. Ele mesmo ressalta "Eu dei-lhes tudo: sobretudo minha experiência espiritual". É nesta frase que ele considera que a espiritualidade parte da Sagrada Escritura, para ele, esse é o primeiro livro que os missionários devem aprofundar e ser a primeira matéria de estudo e na missão deverá ser o objeto de leitura cotidiana e servirá de consolação. Os retiros mensais e semestrais ao longo desses quatro anos de caminhada nos ajudaram a aprofundar mais o carisma do Instituto, sobretudo, os retiros desse último ano que especialmente foram assessorados pelos missionários e as missionárias da Consolata.

Nesta caminhada vocacional, Maria também tem sido nossa companheira, pois a devoção a Nossa Senhora faz parte dos ensinamentos religiosos que adquirimos desde a infância na catequese, sobretudo, aqui na Amazônia, onde a devoção a nossa Senhora de Nazaré, padroeira da Amazônia, já é uma herança que temos desde o lar familiar quando nossos pais foram os primeiros que nos ensinaram a rezar e amar a Santa Mãe de Deus. Para nós, ser devoto de Maria é uma grande dádiva que Deus nos concedeu, pois estar com Maria, é aprender com ela a ser disponível ao próximo e ao Senhor.

No Evangelho segundo Marcos 10, 28-31, Pedro questiona Jesus sobre o fato de ele e os outros discípulos terem deixado tudo para seguir o Mestre. Pedro manifesta a preocupação sobre o que irá receber em reconpensa disso e Jesus lhe consola respondendo: "Em verdade vos digo: todo aquele que deixa casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos e campos, por causa de mim e do Evangelho, recebe cem vezes mais agora, durante esta vida - casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições - e, no mundo futuro, vida eterna". São estas e tantas outras Palavras de Jesus que nos chama a servi-lo que nos matém alegres e firme nesta caminhada vocacional com os missionários da Consolata buscando, a cada dia, a graça de dizer Sim ao chamado do Pai.

Fonte: Antônio Hugo Botelho da Silva, Inácio Cordeiro Padrão e José Silva Menezes / Revista Missões

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