FSM realiza seminários temáticos e avalia os dez anos de processo

Cecília Paiva

As atividades centrais do Fórum Social 10 Anos realizadas na Grande Porto Alegre, na manhã da terça-feira, 26, prosseguiram com três seminários temáticos. Os eventos realizados na Usina do Gasômetro e no Cais do Porto, analisaram as conjunturas ambiental, econômica, política e social no cenário mundial. No âmbito social, um dos componentes da mesa, o sociólogo Emir Sader da Conselho Latino-americano de Ciências Sociais - CLACSO, afirmou que os países que optaram pela integração regional enfrentam a crise econômica mundial com menor impacto. Como exemplo Emir Sader citou países da América Latina, como Brasil, Equador e Bolívia, que continuaram diminuindo a desigualdade social em relação a outros países. Para o sociólogo, os países que não dependiam de tratados com os Estados Unidos, epicentro da crise, tiveram mais autonomia em relação à política e à hegemonia preponderante. Avaliando os dez anos do FSM, Emir Sader vê a necessidade de se questionar sobre "que Estado precisamos", para então, sabermos que outro mundo está sendo construído. Para ele, é preciso reciclar as ideias e aderir à dinâmica social e política passando da resistência à construção de um outro mundo possível.

O empresário Oded Grajew, um dos idealizadores do FSM, avaliou o processo iniciado em 2001, na cidade de Porto Alegre. "Penso que esses dez anos foram muito produtivos. Tivemos muitos avanços naquilo que o Fórum se propôs realizar como espaço de articulação da sociedade civil e na união das forças dos movimentos. Serviu para a sociedade se encontrar, se comunicar, elaborar propostas e levar adiante processos de mudanças", disse. "No início era um Fórum unicamente para desmontar a ideologia neoliberal como a única proposta capaz de levar ao mundo a prosperidade e o bem-estar. O FSM conseguiu mostrar não só as mazelas do modelo, mas também, que existem outras alternativas. Hoje é difícil alguém empunhar a bandeira do neoliberalismo, embora, ele seja ainda praticado em vários lugares." Oded lembrou que, naquela época, "o grande defendor dos ideais neoliberais, na América Latina, era o então presidente Carlos Meném da Argentina, que levou o país à bancarrota. O FSM mostrou possibilidades de mudança em vários países, que mudaram de postura política, de quadros políticos e estão conseguindo levar adiante outros tipos de políticas. Essses países inclusive, sofreram consequências menores diante da crise", avaliou.

Outro ganho foi o fato de o FSM ter conseguido unir a sociedade civil em nível global, levantando a bandeira do desenvolvimento sustentável e da questão ambiental. Na opinião de Oded, como o FSM é um processo totalmente novo, seria bom se "repensar e rearticular, por que, além dos problemas, temos datas pela frente, colocada pelas emergências ambientais", explicou. "Os cientistas afirmam que, dentro de dez a quinze anos, a degradação ambiental pode se tornar irreversível", alertou. "Por isso que, após dez anos da primeira Edição do FSM é tempo de se reavalivar o próprio processo", destacou.

Ao ser questionado sobre a ocupação de espaços no Fórum por parte de governos e políticos, Oded explicou que nenhuma organização espera conseguir mudanças sem a participação dos governos. "Todos os movimentos e organizações agem na perspectiva de influenciar políticas públicas. Então é natural que governos e governantes estejam presentes para serem influenciados por essas ideias".

O FSM adotou a metodologia de organizar, a cada dois anos, fóruns descentralizados com atividades em vários países. Em 2011, por exemplo, o FSM irá para Dakar, no Senegal, África. Porto Alegre reivindica a sede permanente do FSM. Sobre essa questão, Oded avalia que "o Fórum possui autogestão, é livre e mundial. Quanto mais fóruns se realizam, mais o processo se torna disseminado, aumentando a força da sociedade civil. Contudo, penso que, Porto Alegre nunca deveria deixar de organizar suas ações aqui. Felizmente agora, teremos um memorial do Fórum na capital gaúcha que será um espaço vivo reunindo a memória do processo", concluiu.

Cecília Paiva, revista Missões no FSM 10 Anos em Porto Alegre.

Fonte: Revista Missões

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