As migrações: um desafio para as comunidades cristãs

Um chamado à solidariedade e compreensão em tempos de diversidade globalizada.

Por Patrick Mandondo *

A Igreja deve ser acolhedora e caridosa para com todos os seres humanos, especialmente os mais necessitados, como os migrantes. Não basta ter um bom coração para ajudá-los. Para integrar esses irmãos e irmãs, é necessário ter boas habilidades de reflexão para entender essa realidade e não cair em preconceitos.

Os fluxos migratórios são frequentemente causados pela falta de recursos, instabilidade social e econômica, demandas demográficas e políticas, conflitos e pobreza. O fenômeno sempre existiu em todas as épocas, mas assumiu características e dimensões específicas nos dias de hoje. É uma realidade da qual às vezes não percebemos todas as suas implicações.

A imigração, no contexto do mundo globalizado, implica o inevitável contato entre culturas, criando novas oportunidades de encontro entre povos diferentes e inicialmente estranhos uns aos outros. Mas não devemos esquecer que também existem desafios implícitos nessa diversidade. Um dos maiores desafios é o medo do outro. Em nossas sociedades de hoje, e infelizmente às vezes também na Igreja, há esse medo, que gera um crescente sentimento de suspeita e estereótipos em relação aos imigrantes.

No entanto, o fenômeno migratório abriu novos espaços eclesiais para uma pastoral específica desse setor, e é necessária uma nova capacidade de análise da realidade migratória, levando em consideração os mecanismos perversos que geram esse sofrimento.

Este é, portanto, o primeiro ato de solidariedade com nossos irmãos e irmãs migrantes. Por isso, devemos estar cientes de que improvisações mais baseadas em emoções momentâneas do que em análises sérias não são suficientes para lidar com situações complexas que criam discriminações, preconceitos e estereótipos. O que é necessário hoje é competência e um estudo aprofundado e crítico dessa realidade, não apenas no sentido de um estudo acadêmico, mas de um estudo baseado em fatos concretos, realidades evidentes, ou seja, uma boa leitura dos "sinais dos tempos".

Os fluxos migratórios são frequentemente causados pela falta de recursos", diz Padre Patrick Mandondo, IMC

Os fluxos migratórios são frequentemente causados pela falta de recursos", diz Padre Patrick Mandondo, IMC

Não devemos esquecer que toda a atividade da Igreja é expressão de um amor que busca o bem integral de cada pessoa. O encontro entre imigrantes e populações residentes hoje serve para colocar em prática uma nova e renovada forma de evangelização. A oportunidade deste grande encontro deve nos fazer sentir a necessidade de uma nova evangelização.

O centro de atração desta nova evangelização são os pobres e marginalizados, incluindo migrantes e refugiados. Essas novas fragilidades são um lugar de evangelização e trabalho missionário. Evangelizar na era das migrações também significa alcançar aqueles que não compartilham a fé cristã. Em outras palavras, pessoas de outras religiões que ainda não encontraram Jesus Cristo ou que o conhecem apenas parcialmente. Mas isso deve ser feito com o respeito devido a todos e com a prudência que tais situações exigem. O anúncio às vezes pode não ser bem recebido, mas o que mais importa é encontrar valores comuns para compartilhar, com vistas à defesa e promoção da vida.

*Padre Patrick Mandondo, IMC, trabalha com a Pastoral dos Migrantes em Oujda, Marrocos. Artigo publicado em www.fatimamissionaria.pt.

Deixe uma resposta

dois × 2 =