E agora, Ka'ubanoko?

Imigrantes venezuelanos tem até o dia 29 de janeiro de 2021 para desocupar o espaço Ka'ubanoko em Boa Vista, Roraima.

Por Isaack Mdindile

A pandemia de Covid-19 trouxe dores, revelou inúmeras crises e sofrimento para todos nós. Agora imagine a situação dos imigrantes venezuelanos, indígenas e não indígenas, que foram convidados a se retirarem do espaço Ka’ubanoko (dormitório comum, na língua warao), que ocupavam desde março de 2019 em Boa Vista, capital do estado de Roraima? Sim, estou falando da realidade dos imigrantes, mais de 850 pessoas que foram despejadas do Ka’ubanoko. Esse espaço está localizado no bairro Jóquei Clube, zona oeste da cidade. É um despejo incompreensível em meio à pandemia, já que os imigrantes não têm para onde ir e um deslocamento em massa não é apropriado nesse período.

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A determinação para desocupar o espaço até o dia 29 de janeiro de 2021 vem do Exército Brasileiro e da Operação Acolhida, e se houver resistência, a força policial agirá. A decisão, mais uma vez, veio pronta e imposta. Por falta de alternativas, algumas famílias já saíram da ocupação Ka’ubanoko para o Abrigo Jardim Floresta. A vida no Abrigo é muito controlada, falta privacidade, comprometendo o uso e costumes das culturas indígenas. O certo seria ter um Abrigo adaptado culturalmente com o modelo de vida desse povo, tendo a possibilidade de preparar sua própria refeição, celebrar sua cultura e culto, pois as decisões são tomadas em conjunto sob a coordenação dos caciques.

Algumas famílias estão se organizando para comprar terrenos, e outras, aproximadamente 26, preferem morar de aluguel, mas não têm apoio financeiro para pagar. É uma situação de limite, uma desumanização deliberada.

Nós, como Missionários da Consolata, juntamente com a Caritas Diocesana, o Cimi (Conselho Indigenista Missionario) e o movimento Fé e Alegria (Fundação dos Jesuítas) estamos acompanhando todo esse processo e continuando a trabalhar com os migrantes. É importante sublinhar a necessidade de trabalhar juntos como igreja local e ajudar a todos, independentemente de sua profissão de fé ou não.

Portanto, se antes da desocupação de Ka’ubanoko era um pouco mais fácil atender os imigrantes num só local, agora o trabalho  passa a ser literalmente de itinerância, de buscar e atender onde essas famílias estiverem. Além de ajudar com alimentação, remédios, e visitas, há propostas de serviço religioso numa comunidade nossa de Nossa Senhora do Livramento, de ajudar no aluguel das famílias por um determinado tempo. Vamos juntos como missionários - discípulos de Jesus Cristo (que foi também imigrante) acompanhar a situação desses nossos irmãos-imigrantes com nossas orações e apoio.

Isaack Mdindile, imc, é missionário da Consolata em Boa Vista, Roraima e membro da Equipe Itinerante.

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