Vocação é amor vivido e partilhado

Bispo auxiliar da Região Ipiranga, responsável pela Pastoral Vocacional na Arquidiocese de São Paulo, fala sobre vocação e missão.

Por Maria Emerenciana Raia*

Dom Angelo Ademir Mezzari foi ordenado bispo em 19 de setembro de 2020 em Criciúma, SC, e nomeado bispo Auxiliar para a Arquidiocese de São Paulo. Tomou posse em 4 de outubro de 2020 e foi designado como Vigário Episcopal para a Região Ipiranga. Recebeu também as tarefas de acompanhar, na Igreja de São Paulo, a pastoral vocacional, os seminários e a vida consagrada. Dom Angelo é sacerdote rogacionista e foi diretor da revista Rogate, de animação vocacional, sendo o jornalista responsável pela publicação. Dom Angelo falou com exclusividade à revista Missões sobre a Pastoral Vocacional na Arquidiocese de São Paulo.

Vivemos na cidade de São Paulo, a maior do Brasil, com uma pluralidade de naturalidades, nacionalidades, diversidades culturais, sociais e econômicas. Como trabalhar com a Pastoral Vocacional em meio a essa realidade?
dom_angelo_ademir_mezzari_A grande metrópole de São Paulo, em sua diversidade e riqueza cultural, social e religiosa, espelha a realidade da urbanização atual, com suas grandes transformações, e provoca a Igreja, que somos todos nós, a viver e testemunhar a fé. Antes de tudo é aqui que somos chamados a fazer o caminho da santidade, como batizados, sendo profunda e intensamente cristãos, amando os irmãos e a eles servindo. Depois, à luz da fé e conduzidos pelo Evangelho e o Magistério da Igreja, acolher a todos como filhos amados e com misericórdia e compaixão ser uma presença que leva à dignidade e à promoção da vida humana, em particular das famílias e dos mais pobres e excluídos. Na pluralidade cultural e religiosa expressar nossa identidade de cristãos, seguidores do Evangelho, membros de uma Igreja, para que no diálogo e mútua colaboração, se construa uma cidade mais justa e fraterna, mais humana e conforme o projeto de Deus. Quanto ao serviço da evangelização, e nela a animação vocacional, promover nas paróquias e comunidades eclesiais o chamado e o acompanhamento daqueles que estão sensíveis ao chamado de Deus e desejam fazer um caminho de discernimento e formação. Fortalecer e construir comunidades humanas e fraternas é a base para o florescer das vocações. No real secularismo, anonimato e individualismo da cidade grande, Deus continua chamando, e muitos têm respondido, pois a voz do Espírito nunca se cala, se faz sempre ouvir. Neste sentido, nas famílias e nas comunidades, é preciso criar espaços para ajudar a escutar a Palavra de Deus e a ela responder, valorizando os sacramentos, a santa eucaristia, o perdão sacramental, o serviço e presença junto aos pobres e sofredores. De outro lado, hoje podemos usar os meios de comunicação, em particular as redes sociais, para chegar mais fácil e rapidamente ao coração das pessoas, no respeito a sua liberdade e consciência. E levar uma mensagem de esperança e de amor que seja sinal da própria vocação e como testemunho para que outros façam o seu caminho vocacional.

Quais as maiores alegrias encontradas em sua missão vocacional?
Ser um vocacionado e missionário já enche o coração de esperança, em tudo aquilo que vivi e realizei. Entre as alegrias ver que a Igreja vai sempre mais tomando consciência e animando as vocações, criando instâncias e estruturas vocacionais e formativas; os apelos e documentos do Magistério (papa, Conferência Episcopal, bispos); o crescimento de uma cultura vocacional, que permeia a ação evangelizadora; a consolidação de uma teologia das vocações; a valorização sempre crescente da oração pelas vocações; o aprofundamento do itinerário vocacional (despertar, discernir e acompanhar); o chamado explícito aos jovens e adultos e o seu acompanhamento vocacional; o envolvimento de algumas pastorais afins, como a familiar, da liturgia, da catequese e da liturgia. Enfim, são muitas as alegrias que nos motivam a continuar trabalhando pelas vocações. Temos muito que agradecer.

Quais as maiores dificuldades encontradas?
Evangelizar é uma grande missão, e no seu caminho muitos desafios aparecem. Assim como no serviço da animação vocacional nem tudo é fácil, exige empenho e determinação. O Espírito Santo sopra onde e quando quer, mas devemos dar nossa parte, contribuir a partir de nosso lugar e vocação na Igreja. Entre as dificuldades podemos citar a lentidão na tomada de consciência da responsabilidade e compromisso de todos pelas vocações (não é só uma questão dos bispos ou do clero). Podemos dizer que o desafio consiste em instaurar uma verdadeira cultura vocacional, onde todos vivam plenamente sua vocação e missão, gerando os novos discípulos missionários para a Igreja a serviço do Povo de Deus.

O que diria para um jovem ou uma jovem que esteja procurando viver sua vocação, seja religiosa ou leiga?
Aos jovens de hoje, que buscam um sentido para a sua vida, e estão sedentos, é preciso oferecer oportunidades para que escutem a voz de Deus e façam um caminho de discernimento. O ambiente pode ser na família, e em particular na comunidade eclesial. O despertar vocacional acontece de diferentes modos, e múltiplas situações. Na oração e na escuta da Palavra de Deus, na vida dos sacramentos, na eucaristia, no serviço generoso aos irmãos, se vai percebendo os sinais vocacionais. Cabe a nós criar as condições para que se acompanhem os jovens e sejam animados no caminho da fé e da vocação. Aos jovens digo, não tenham medo, sede corajosos. E não deixem de pensar e construir o seu projeto de vida fundamentado na fé e na possibilidade de uma vocação específica, como a vida matrimonial, mas também como consagrados, ministros ordenados e missionários. É preciso sonhar, arriscar a vida para o bem dos irmãos. Vocação é amor vivido e partilhado, é uma experiência que se faz e se quer ao mundo doar. Aos jovens devemos dizer que assumir a própria vocação é deixar tudo, e todos, é abrir o coração, é acreditar, traz felicidade, enche o coração de paz, e quando os desafios surgirem, são enfrentados e superados, pois o amor de Deus é maior, e o serviço aos irmãos por Jesus Cristo plenifica a vida, e o Espírito Santo conduz e faz arder o coração. Nosso caminho é a santidade, nosso destino é a eternidade.

Uma paróquia que queira implantar a pastoral vocacional, como deve proceder?
Antes de tudo, cada paróquia e comunidade eclesial é chamada a viver um clima de oração pelas vocações. É preciso rezar, sempre, sem cessar. As vocações brotam de uma comunidade orante. E mais, valorizar e promover todas as vocações que existem na comunidade, bem como a multiplicidade dos ministérios e serviços. Neste contexto é importante constituir uma equipe de pastoral vocacional. Ela pode ser animada pelo pároco, e ser composta por ministros ordenados, consagrados, seminaristas (se houver na comunidade ou dos seminários, ou casas de formação de religiosos), representantes do conselho pastoral, das pastorais afins, como a familiar, da juventude, da catequese. Também associações, grupos e movimentos devem ter seus representantes. Enfim uma equipe que promova a oração pelas vocações e ações que despertem e estimulem os jovens a seguirem sua vocação.

* Maria Emerenciana Raia é editora da revista Missões.

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