Experiência missionária com o povo indígena

Leiga missionária de Campinas relata trabalho na região amazônica com os indígenas.

Por Maria Soares de Camargo *

Em 2014, tive a oportunidade de acompanhar dom Edson Damian, nosso bispo na diocese de São Gabriel da Cachoeira (AM), em suas viagens às paróquias do Alto Rio Negro, na região Amazônica, para colaborar com o trabalho de catequese inculturada indígena.

mariasoaersdecamargo1O processo que já vinha sendo desenvolvido há alguns anos nesta diocese, conhecida por ser a porção mais indígena do Brasil, tomou novo impulso com a elaboração, a partir dos próprios indígenas, de roteiros catequéticos incorporando valores tradicionais de suas culturas. Denominado “A Boa-Nova das Culturas Indígenas acolhe a Boa-Nova de Jesus”, esse projeto vem sendo levado adiante pelos catequistas indígenas, mas a publicação do conjunto de roteiros aguarda ainda recursos para sua efetivação.

Dom Cláudio Hummes, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Amazônia da CNBB, participou da semana catequética no povoado de Iauaretê e incentivou o encaminhamento ao Vaticano do pedido de celebração da Eucaristia em língua tukano, majoritariamente falada na região.

Desde 2015 estou me dedicando à evangelização nas comunidades ribeirinhas na região do Médio e Baixo Rio Negro, tendo como base a paróquia correspondente ao município de Barcelos, com cerca de 25 mil habitantes. Trata-se da segunda paróquia mais extensa do Brasil. A cidade abarca uma realidade complexa, com turismo sazonal de pesca esportiva, o que significa um turismo feito por homens, em geral de meia idade, que viajam sem a família e dispostos a aventuras diversas. A prostituição cresce imensamente no verão, e registram-se casos comprovados de tráfico de meninas. Também o tráfico de drogas é relevante, notando-se aumento gradativo da violência criminal.

As raízes culturais indígenas continuam visíveis, mas poucas pessoas mantêm as línguas originais. A miscigenação é o denominador comum, inclusive em muitas comunidades ribeirinhas que compõem o município.

São aproximadamente 45 comunidades, e mesmo aquelas que se declaram indígenas já deixaram de falar suas línguas nativas e sofrem a influência da modernidade. Tradicionalmente católicas, as comunidades têm recebido muitas Igrejas evangélicas já consolidadas na cidade de Barcelos. Este ano, as Testemunhas de Jeová priorizaram o Rio Negro. Só para Barcelos destacaram 400 missionários que se revezam a fim de manter a permanência de cerca de 40 missionários por mês. Não existe catequese católica organizada nas comunidades, e poucas se reúnem regularmente para a celebração da Palavra de Deus. Nosso trabalho consiste em procurar formar catequistas e ministros da celebração, passando alguns dias nas comunidades que os desejam.

A paróquia local proporciona a cada ano uma semana de formação denominada Encontro Eclesial de Ribeirinhos (EER), sendo que um padre visita todas as comunidades ao menos uma vez por ano, administrando os sacramentos e fazendo o acompanhamento possível. São as chamadas itinerâncias, das quais tenho participado desde que aqui cheguei e espero continuar a fazê-lo até o final de meu período de missão, se Deus quiser.

* Maria Soares de Camargo (foto), leiga missionária de Campinas (SP) há seis anos na diocese de São Gabriel da Cachoeira. A missionária foi enviada pelo projeto dos regionais Sul 1 e Norte 1 da CNBB.

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