Albânia: preparativos para a visita do papa e encontro inter-religioso

Radio Vaticana e La Croix

As autoridades locais se dedicaram neste sábado dia 20 intensamente para preparar a chegada do papa, prevista para domingo à Albânia que, a sua primeira visita oficial na Europa; Albânia está situada na região das Balcãs onde os católicos são uma minoria.

Uma acolhida bem preparada.

A estrada que liga o aeroporto Madre Tereza ao centro da cidade Tirana está cheia de banners e faixas com sinais religiosos e civis. Há muitos trabalhadores colocando flores nas ruas por onde o papa vai passar.

Pela cidade estão espalhados banners com a figura do papa sorrindo, alguns com o braço levantado apontando para a frase: eu digo para todos os povos: "podemos trabalhar juntos".

Para lembrar esta visita, os comerciantes aproveitam a oportunidade para vender lembranças e o correio da Albânia editou um selo com a figura do papa.

País marcado por feridas

Nas grandes avenidas de Tirana foram levantados grandes banners com a figura dos 40 mártires católicos cujo processo de canonização está em curso desde 2002.

A Albânia tem uma longa história. Desde 1967, o país carrega feridas inesquecíveis do tempo do ditador Enver Hoxha que proclamou a Albânia como primeiro "país ateu" no mundo moderno. Muitas igrejas e mesquitas foram demolidas nesse tempo. O papa Francisco publicou a cifra de 1.820 igrejas católicas e ortodoxas foram destruídas.
Hoje os albaneses são cerca de 3 milhões, dos quais 15% são católicos 11% são ortodoxos e 56% são muçulmanos. Hoje as três comunidades convivem sem confrontos

Medidas de segurança inéditas

Cerca de 2.500 policiais foram mobilizados para acompanhar o evento com medidas amplas de segurança
No centro da cidade de Tirana, incluindo a praça de Skenderberg, a Avenida dos Mártires da Nação e a Praça Madre Tereza, onde acontece a celebração mais importante da visita, a polícia instalou 29 pontos de controle. Por esses lugares foi interditada a circulação de automóveis e todos os que vêm participar na missa são vistoriados minuciosamente, segundo as informações dadas pela organização policial , AFP.

Apesar de alguns jornais italianos e iraquianos terem assegurado que o papa não será ameaçado por muçulmanos na Albânia, o ministro do interior, Saimir Tahiri, afirmou com firmeza:

"Não temos nenhuma suspeita de que o papa esteja ameaçado por quem quer que seja. Contudo tomamos todas as medidas de segurança sem precedentes para assegurar a ordem pública e a paz durante esta visita".
"O nível de alerta assumido pelas forças policiais é do mais alto padrão. Um grande número de policiais vai estar de alerta durante todo o tempo. E as forças especiais estarão em alerta em todo o país", acrescentou o ministro. O centro da cidade estará vigiado também por policiais franco-atiradores, posicionados sobre os edifícios.

Por sua vez, o Vaticano desmentiu qualquer alarmismo e afirmou não ter organizado nada de diferente do que já é costume fazer. O porta voz do Vaticano afirmou com clareza que não havia nenhuma suspeita de perigo para o papa, por parte da população muçulmana do Estado Islâmico que poderia se misturar com os católicos.

"Não tenho nenhuma informação sobre qualquer suspeita ou possibilidade de perigo. Por isso não necessitamos de tomar nenhumas medidas diferentes do programa habitual nas visitas do papa, declarou o padre Federico Lombardi
La Croix

Encontro inter-religioso

Após a solene celebração Eucarística e a oração do Angelus, na Praça Madre Teresa, em Tirana, o Papa Bergoglio dirigiu-se à Nunciatura Apostólica, onde almoçou com os Bispos da Albânia e com a comitiva papal.

Depois do almoço, após um breve descanso, o Santo Padre foi, de automóvel, à Universidade católica "Nossa Senhora do Bom Conselho", na capital albanesa, onde se encontrou com os líderes de outras Religiões e denominações cristãs.

Entre os presentes, além dos Bispos albaneses e da comitiva papal, estavam presentes os líderes das seis maiores Comunidades religiosas do país: Muçulmana, Bektashi (Confraternidade islâmica de derivação Sufi), Católica, Ortodoxa, Evangélica e Hebraica. Cada líder estava acompanhado por dois ou três colaboradores.

No discurso, que pronunciou, após as palavras de saudação do Presidente da Conferência Episcopal da Albânia, Dom Ângelo Massafra, o Bispo de Roma expressou sua alegria de participar deste encontro inter-religioso, que definiu "de grande importância", sinal de diálogo e do desejo de construir relações de fraternidade e colaboração para bem de toda a sociedade. E ponderou:

"A Albânia foi, tristemente, testemunha de inúmeras violências e dramas, que causaram a exclusão forçada de Deus da vida pessoal e comunitária. Quando se pretende, em nome de uma ideologia, expulsar Deus da sociedade, acaba-se por adorar ídolos e o próprio homem se sente perdido, a sua dignidade é espezinhada e os seus direitos violados. Vocês sabem o que significa ser privado da liberdade de consciência e da liberdade religiosa; esta ferida gera uma humanidade radicalmente empobrecida, porque fica sem esperança e sem ideais de referência".

As mudanças ocorridas no século passado, a partir da década de noventa, - recordou o Pontífice - criaram condições de uma efetiva liberdade de religião, que levou as comunidades locais a reavivar, apesar das cruéis perseguições, as suas tradições e a oferecer uma contribuição positiva para a reconstrução moral do país.

Reconhecemos que "a intolerância para com quem tem convicções religiosas diferentes, é um inimigo insidioso, que, hoje, infelizmente, se está manifestando em várias partes do mundo. E o Papa advertiu:

"Como fiéis, devemos estar particularmente vigilantes, para que a religiosidade e a ética, que vivemos com convicção e que testemunhamos com paixão, se manifestem sempre com atitudes dignas, rejeitando decididamente todas as formas que constituem um uso distorcido da religião. A religião autêntica é fonte de paz e não de violência! Ninguém pode usar o nome de Deus, para cometer violência. Matar em nome de Deus é um grande sacrilégio. Discriminar em nome de Deus é desumano".

Neste sentido, a liberdade religiosa não é um direito, que deve ser garantido apenas pelo sistema legislativo vigente, mas um espaço comum, um ambiente de respeito e colaboração, construído com a participação de todos, inclusive dos não-crentes.

Aqui, o Santo Padre indicou duas atitudes para a promoção da liberdade fundamental: primeiro, ver, em cada homem e mulher, não um rival ou inimigo, mas um irmão e irmã. A tradição religiosa deve levar em conta a existência do outro; segundo, comprometer-se com o bem comum e o crescimento da liberdade religiosa, para enriquecer e servir a família humana! Por fim, o Pontífice exortou:

"Olhemos ao nosso redor! Quantas necessidades dos pobres! Quanto as nossas sociedades precisam encontrar caminhos para uma justiça social mais ampla, para um desenvolvimento econômico inclusivo! Como o espírito humano precisa recuperar a esperança! Neste contexto, os homens e as mulheres, iluminados por suas tradições religiosas, podem oferecer uma contribuição importante e insubstituível. Eis um terreno fecundo também para o diálogo inter-religioso".

Ao término do encontro com os líderes das diversas Religiões e Confissões cristãs, o Papa os convidou "a manter e desenvolver aquela tradição, existente na Albânia, das boas relações entre as comunidades religiosas e a sentir-se unidos no serviço à amada pátria da Albânia". 

Fonte: Site Radio Vaticano

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