Padre Zezinho celebra com brasileiros em Roma

Arlindo Pereira Dias, SVD em Roma

A cada ano, o tempo de Quaresma se transforma em momento forte de expressão pública de fé para os brasileiros e as brasileiras que vivem em Roma. No dia 11 de março de 2012 cerca de 80 pessoas ligadas aos Religiosos Brasileiros em Roma - RBR, e à Comunidade Santa Maria della Luce realizaram a tradicional Caminhada Penitencial. O evento teve inicio às 7:30h com a celebração da Eucaristia na Igreja São Bernardo, próximo à estação Termini da cidade.

Após a missa, utilizando o texto proposto pela Campanha da Fraternidade, "Que a saúde se difunda sobre a terra", o grupo caminhou pela cidade realizando as estações em praças e igrejas da cidade. Como sinal de comunhão com a Igreja no Brasil e expressão do desejo de melhoria das condições de saúde em nosso país uma das paradas aconteceu em frente à embaixada Brasileira na Praça Navona e a outra diante da Embaixada Brasileira junto à Santa Sé na Via della Conciliazione. A caminhada foi concluída com a "Oração do Ângelus" presidida pelo papa Bento XVI na Praça São Pedro.

O grupo traduziu o texto da CF 2012 para o italiano para que fosse utilizado pelas comunidades onde residem religiosos brasileiros. No domingo seguinte, dia 18 de março, alguns integrantes dos mesmos grupos realizaram o retiro da Quaresma no Colégio Pio Brasileiro.

Já o Domingo de Ramos, primeiro de abril, trouxe uma grande e grata surpresa para todos. Atendendo a um convite do padre Sergio Durigon, Capelão da Comunidade Brasileira em Roma Nossa Senhora Aparecida, o missionário e cantor Dehoniano, padre Zezinho presidiu a celebração. A missa teve inicio em uma praça próxima a igreja Santa Maria della Luce, local onde a comunidade se reúne semanalmente, no bairro Trastevere. Apos a bênção de ramos, as cerca de 400 pessoas presentes caminharam em procissão até a igreja.

Durante a homilia padre Zezinho recordou a mulher pobre que se encontrava na porta da igreja antes do início da missa pedindo uma moeda e a dificuldade que ele encontrava (e também a comunidade) em dar respostas concretas a estes pequenos apelos de Deus no dia a dia. "Espero ter a língua afiada como o profeta Isaias na leitura de hoje e desafiar vocês como católicos a realizar sua parte para que o mundo ao nosso redor seja um pouco melhor", afirmou. "Nossa fé tem que levar a agir concretamente... sentir-se incomodado... ser cristão é se comprometer com a vida...", ia desafiando. "Temos que pensar respostas concretas para a realidade de hoje, pois uma Igreja que não pensa, acaba dando o que pensar", salientou.

Zezinho recordou que de certa forma "José de Arimatéia descrucificou a Jesus". "Ele queria nos recordar que a Igreja também tem a missão de ajudar as pessoas a descerem da cruz e a ‘descrucificar' os crucificados". De modo espontâneo Zezinho quebrou um ramo em três partes para demonstrar que mesmo partido ele continua ramo. Nós portanto, "a pesar de nossas feridas e nossas quebras ainda continuamos inteiros e podemos continuar crescendo e produzindo frutos", reiterou.

Ao agradecer ao Padre Zezinho, o capelão da comunidade Brasileira, o scalabriniano Padre Sergio Durigon recordou que o Padre Zezinho é sem duvida o maior cantor católico dos últimos 40 anos no Brasil e que todos que ali estavam, de uma forma ou de outra, foram marcados profundamente por suas canções. As pessoas presentes aguardavam com expectativa que o padre Zezinho cantasse algumas canções. Com o entusiasmo de sempre ele pegou a viola e envolveu a assembleia no seu canto através de canções marianas, da cantiga de ninar "Amar como Jesus amou" e encerrando com a inesquecível "Oração da Família". Perguntado a respeito de quando escreveria uma canção dedicada aos imigrantes, padre Zezinho apontou o dedo para cima e respondeu enfático: "peça a Ele para me inspirar".

Transcrevemos a seguir a pequena entrevista concedida pelo Padre Zezinho no final da missa.

"O Evangelho foi sempre anunciado com sotaque", diz Padre Zezinho

O que significou para você celebrar o Domingo de Ramos com a Comunidade Brasileira em Roma?
A reflexão do estrangeiro quando está em outra terra, mas que ao mesmo tempo está na própria terra, porque nós de certa foram somos todos cidadãos e somos todos estrangeiros. Estamos de passagem e, se nos encontramos em comunidade, estamos dentro. Esta capacidade de formar um povo dentro de um povo e respeitar os dois povos é que faz o cristão. Ele não é nunca totalmente estrangeiro e está sempre também aprendendo com a outra pátria. É o estilo missionário.

O que a Igreja do Brasil pode trazer a um continente como a Europa?
A nossa esperança de descobrir respostas com as nossas comunidades. Como a Europa teve que descobrir respostas ao período de violência e de guerra que ela atravessou nos séculos XI, XII e XIII, depois no século XVIII e agora recentemente no século XX. A Igreja achou respostas. Nós vamos achar as nossas lá, vamos trazer sangue novo pra cá, mas não vamos esquecer que nossa Igreja lá cresceu porque os europeus foram pra lá. A Igreja sempre falou com sotaque, o Evangelho foi sempre anunciado com sotaque. O respeito pelos estrangeiros é que vai fazer Igreja ter respeito por si mesma, no país onde ela está.

Fonte: Arlindo Pereira Dias / Revista Missões

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