Carta de despedida: Dom Frei Agostinho Januszewicz, OFMConv

Frei Agostinho Januszewicz *

Prezados Confrades e Amigos, Paz e Bem!

Eis que novamente estou em Juruá, na Amazônia! Parece difícil acreditar, mas é verdade. Foi o meu desejo de voltar para cá, para - de alguma maneira - completar a minha missão amazônica. E Deus me permitiu concretizar esta empreitada. Acho que posso considerar a mesma como uma graça totalmente imerecida. Por isso desejo manifestar aqui esta minha gratidão oportuna. Sei que quase não podia nem sonhar com a minha volta à Amazônia. Principalmente quando tinha perdido uma grande parcela da minha saúde e quando fiquei muito imobilizado, quase condenado à cama. Mas,graças a Deus, comecei a recuperar a minha independência. Hoje estou andando e podendo cuidar das minhas necessidades básicas.

Faleceu na manhã do dia 20 de março o bispo Dom Frei Agostinho Januszewicz, bispo emérito de Luziânia - GO.

Por incrível que pareça, adquiri esta liberdade específica a partir do momento em que foi constatado que o meu câncer não ficou combatido - que continua tomando conta do meu organismo e que não resta mais nada para fazer a não se deixar com tudo nas mãos de Deus. Os médicos concordaram

comigo que exatamente convém abandonar-se, com confiança, nos desígnios do Pai. Da minha parte acolhi esta nova situação com plena tranqüilidade. Nem por um instante fiquei perturbado ou revoltado. O oncologista usou de expressão: "pode ser seis meses, pode ser dois anos". Isso, conforme as estatísticas. Sei que Deus tem muito mais possibilidades. Cada dia que amanhece agradeço a graça de mais um dia de vida. E desejo assim proceder todos os dias quantos forem me doados - sejam de vários anos, sejam de poucos meses. O que me se manifesta como importante é, que eu cresça no amor, no amadurecimento da graça. Que no momento da minha morte atinja o ponto mais alto do amor de toda a minha vida. Nenhuma outra preocupação me incomoda. Já estou chegando a oitenta anos de vida. Não vejo tarefas especiais para realizar, nem compromissos para cumprir. Só agradecer as graças recebidas e pedir perdão pelas não bem aproveitadas. Deus vai me julgar, e de Deus espero perdão misericordioso.

Aqui gostaria de expressar, pelo menos um pouco de minha gratidão à Província e aos meus Confrades, especialmente àqueles da primeira hora, com os quais foi me dado colaborar no início da nossa fundação. Desejo reconhecer-lhes - mesmo sem citar os nomes - muita sua dedicação e abnegação, muita generosidade e entusiasmo nas tarefas realizadas, muita perseverança e simplicidade franciscana. Múltiplas coisas foram feitas. Muitas bênçãos foram recebidas. As mais preciosas vieram, e continuam vindo com as vocações que a Província está recebendo. Cada vocação verdadeira é uma preciosidade divina e deve ser dignamente acolhida e cuidadosamente formada. É o mais importante futuro da Província.

A Missão na Amazônia também é uma tarefa importante em prol da Igreja do Brasil. Foi providencial que a Província se abriu para este chamado. Deste poderá também vir uma Benção preciosa. O futuro vai mostrá-lo. Sendo que sou o, mais velho frade da Província, permito-me a tecer estas considerações fraternas do fundo do meu coração, motivado pelo bem do atual e do futuro da nossa Província. Desejo-lhe o melhor que puder! Em minhas orações peço para todo o futuro da nossa Província. Provavelmente não vou me manifestar mais nem desta maneira, nem de outra alguma. Na despedida no Jardim da Imaculada, no dia 8 de setembro pp,não foi possível despedir-me de muitos Confrades. A presente carta considero então como certa minha despedida. Naquele dia, quando andava pelo Jardim da Imaculada, tive consciência de que esta foi a minha última visita - uma despedida mesmo deste lugar tão me precioso. O coração se apertava um pouco. Mas também me alegrava podendo notar coisas bonitas e edificantes!

Espero que o Jardim da Imaculada seja para sempre um lugar muito especial para todos os Frades da Província. Que seja o lugar de inspirações, de formação e de muitas obras de apostolado. Que o próprio São Maximiliano tome conta desta obra como ela merece ser considerada hoje e no futuro.

Ao fim reservo meu agradecimento todo especial aos meus Confrades da Amazônia. Sei que eu podia ser acolhido em qualquer outro lugar e me sentir bem em qualquer Comunidade fraterna. Mas, como já tenho assinalado, meu coração pedia para voltar à Amazônia e aqui completar a minha caminhada.

Obviamente, não poderia comparecer sem anuência dos próprios Confrades. E eles me deram esta acolhida toda corajosa, mesmo sob o aviso médico acima exposto. Estou lhes muito grato por esta coragem e disponibilidade. No momento não estou sofrendo dores. Mas estamos conscientes que tal fase pode chegar em algum momento. Seja como for! Até estou pedindo a Deus que meus Confrades não venham a sofrer demais por uma tal fase ameaçadora. Sei que tudo está nas mãos de Deus e isto basta. Mais uma vez repito que continuo sendo muito conformado.

Estou profundamente grato por todo bem recebido da parte da Província e de todas as outras pessoas amigas que continuam me ajudando no atual trajeto da minha vida. Peço perdão de todos que eu tinha ofendido ou escandalizado de alguma maneira, mesmo que sem intenções maliciosas.

Perdoem-me tudo, e que Deus me cubra com sua Misericórdia infinita! Confio na Misericórdia de Jesus!

Sendo que Maria Imaculada ficou muito presente em toda a minha vida -de modo indicado e incentivado pelo São Maximiliano Kolbe - espero que Ela me acolherá no momento da minha Passagem definitiva. Espero que aí entenderei melhor e experimentarei o alcance do mistério da expressão "pela Imaculada"! O horizonte que nos espera é demais maravilhoso! Vale a pena apostar no que os nossos Santos ensinaram. Quando se consumará tudo isto em mim, não tenho hoje a mínima idéia. Mas, seja dentro de poucos dias, ou de muitos dias - que tudo seja da mesma forma válido. Conto com a sua oração ao longo de todo o meu tempo. Com o abraço o mais fraterno de toda a minha vida!

* Frei Agostinho Januszewicz, OFMConv. Bispo emérito de Luziânia - GO. 

Fonte: www.franciscano.org.br

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