Tempo de agradecer

Dom Orani João Tempesta *

No último dia 7 de dezembro pude agradecer a Deus pelo dom do sacerdócio! Ordenado em São José do Rio Pardo, celebrei 25 anos quando era Bispo de São José do Rio Preto, 30 anos enquanto Arcebispo de Belém, e agora 35 anos aqui com vocês, como Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro.

A celebração ocorreu dentro do contexto do «Ano Sacerdotal» proclamado pelo Papa Bento XVI, e, por isso, quis dedicar a celebração à unidade do clero e à ação de graças por todos os padres cuja maioria celebra o aniversário de ordenação nesta mesma época do ano.

Sem dúvida que se trata, antes de tudo, de agradecer a Deus, pois «todo dom precioso e toda dádiva perfeita vem do alto, descendo do Pai das luzes, que desconhece fases e períodos de sombra» (Tg 1,17). O sacerdócio ministerial é, com efeito, um dom precioso e uma dádiva perfeita, não para o benefício pessoal daquele que recebe a ordenação, mas para o bem do Povo de Deus. Através do ministério sacerdotal, Jesus mesmo continua a apascentar a sua Igreja, explicar as Escrituras, apontar o caminho da salvação, render ao Pai o verdadeiro culto de adoração pelo sacrifício eucarístico e santificar os homens. Com razão, dizia o Santo Cura d'Ars: «O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus».

Com efeito, o Santo Padre Bento XVI, em sua «Carta para a proclamação de um Ano Sacerdotal por ocasião do dies natalis do Santo Cura d'Ars» (16-6-2009), fez questão de assinalar tão importante evento, como vemos já no título da carta, pela humilde e grande figura de São João Maria Vianney, modelo de pároco e de sacerdote. São João Vianney tanto bem fez à Igreja porque, entre outras coisas, soube conjugar, de um lado, a humildade e o desprendimento que deve acompanhar todo discípulo de Cristo e, de outro, a clara consciência de que seu ministério sacerdotal era um verdadeiro dom de Deus para a comunidade.

Ao celebrar os meus 35 anos de ordenação, quero dirigir a Deus ação de graças e louvores por todos que, como eu, receberam esse dom inefável. Ação de graças e louvores porque, como o Cura d'Ars, tenho consciência do dom que trago comigo. Trata-se de um verdadeiro dom, que de longe supera meus méritos pessoais e os da comunidade a quem sirvo. Tenho consciência de que porto um verdadeiro tesouro, ainda que em vasilhame de barro, como diz São Paulo: «Trazemos, porém, este tesouro em vasos de argila, para que esse incomparável poder seja de Deus e não de nós» (2Cor 4,7). O sacerdócio ministerial é bênção para a Igreja e para o mundo. O padre é aquele que atualiza o sacrifício da nossa Redenção no altar das igrejas; administra os sacramentos, pelos quais somos incorporados a Cristo para nos unirmos a Deus e amar como Cristo amou e fazer o que Ele fez; o padre, em nome de Deus, levanta o pecador caído e lhe dá ânimo para prosseguir a caminhada; admoesta com a Palavra de Deus e aponta para todos a luz, que é Cristo; o padre é, enfim, o homem do cuidado de Deus - ele é pastor colocado na Igreja e no mundo pelo Pastor Eterno.

Quero também agradecer a Deus por ter colocado em meu caminho grandes pessoas e amizades, que me estenderam a mão e me possibilitaram dar esses passos. Peço a Deus que nunca faltem na Igreja bons exemplos que entusiasmem a tantos outros a assumirem com alegria esse belo ministério.

Mas neste dia dirijo também a Deus súplicas. Jesus é nosso grande modelo de oração e de súplica. A Carta aos Hebreus nos diz que «ele, nos dias de sua vida na carne, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que tinha o poder de salvá-lo da morte». E acrescenta: «E foi atendido por causa de sua piedosa submissão» (5,7). Jesus verdadeiramente foi atendido porque venceu a morte, derrotando-a para sempre. Animado pelo exemplo do Senhor, que também nos prometeu que «quem pede recebe, quem procura encontra, e a quem bate a porta será aberta» (Lc 11,10), em espírito de religiosa submissão, peço a Deus pela porção do rebanho de Cristo que me foi confiada, para que cresça cada vez mais segundo a estatura do Cristo Jesus, e por mim, para que tenha a graça de ser verdadeiramente um sinal da salvação, do zelo e do cuidado de Deus para com seu povo.

Peço ainda a Deus perdão. Muitas vezes nem sequer podemos dizer para apresentar ao Senhor nosso humilde serviço: «Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer» (Lc 17,10). Às vezes não fazemos o que devíamos fazer, ficamos omissos. O meu pedido de perdão é, ao mesmo tempo, um ato de confiança da misericórdia de Deus, o Deus que em Jesus nos mostrou a grandeza de seu amor, e que, pela boca do salmista, garante a todos nós: «Minha bondade está de pé para sempre» (Sl 89,3). Conto com a misericórdia e a bondade do Senhor que nos envolvem, nos renovam e nos engrandecem. É o amor de Deus que nos impulsiona e nos faz crescer. Por isso, reconheço com o salmista: «Como um pai é compassivo com seus filhos, o Senhor é compassivo com aqueles que o temem; porque ele conhece nossa estrutura, ele se lembra do pó que somos nós» (Sl 103,13-14).

Somos chamados a experimentar e anunciar a maravilha da bondade de Deus. O Santo Padre Bento XVI encoraja-nos a esse dever de nosso ofício, tendo presente o exemplo do Santo Cura d'Ars, que, por ser tão íntimo de Cristo, chegou a colocar na boca do Senhor palavras de misericórdia: «Todos nós, sacerdotes, diz-nos Bento XVI, deveríamos sentir que nos tocam pessoalmente estas palavras que ele colocava na boca de Cristo: ‘Encarregarei os meus ministros de anunciar aos pecadores que estou sempre pronto a recebê-los, que a minha misericórdia é infinita'. Do Santo Cura d'Ars, nós, sacerdotes, podemos aprender não só uma inexaurível confiança no sacramento da Penitência, que nos instigue a colocá-lo no centro das nossas preocupações pastorais, mas também o método do «diálogo de salvação» que nele se deve realizar» (Carta da proclamação de um Ano Sacerdotal).

Aproveito o ensejo para reforçar as palavras do Papa, que pediu para que os sacerdotes nunca descuidem do Sacramento da Penitência. Na verdade, como bem disse Bento XVI, nele se realiza um verdadeiro «diálogo da salvação». Quantas pessoas que por ele passam saem aliviadas, renovadas, cheias de esperança e vigor em Deus! A renovação do mundo depende, em grande parte, dessa renovação pessoal que só o diálogo com Deus pode realizar. Não podemos privar o nosso povo dos bens que o Senhor nos encarregou. Nesta cidade, de maneira especial, necessitamos anunciar e celebrar a reconciliação que leva a paz aos corações e aos relacionamentos sociais.

Agradeço de coração todos os que participaram da celebração ou enviaram seus cumprimentos, e louvo a Deus pelos passos de unidade que aos poucos vamos dando em nossa caminhada.

* arcebispo do Rio de Janeiro

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