???O Espírito nos empurra em muitas direções???, afirma dom Luis Augusto Castro.

Cecília Soares de Paiva

"América Latina e Caribe não são o Continente mais pobre do planeta. A África é [o país mais pobre]. Mas nosso continente é o que mais usa viseiras e, portanto, o continente com mais iniqüidade no planeta". A afirmação é do arcebispo de Tonja (Colômbia), em conferência proferida na manhã desta quinta-feira, 14, durante o 3º Congresso Americano Missionário e 8º Congresso Missionário Latino-americano (Cam3-Comla8), em Quito (Equador).

O arcebispo comparou a exclusão a um câncer de que o continente latino-americano padece e que precisa ser freado o quanto antes. "O bem-estar da Suíça e a pobreza da África estão presentes em nosso continente porque, especialmente no mundo do bem-estar, cada um usa sua viseira", sublinhou, usando a alegoria do cavalo de corrida que usa viseira para olhar só para frente.

Segundo o religioso, o Espírito Santo empurra o cristão a olhar também para o lado e usar de solidariedade para com todos. "O Espírito tem como uma de suas tarefas especiais tirar-nos todas as viseiras para que em nós se dissipe toda cegueira e se desperte a solidariedade com os que estão ao nosso lado. A solidariedade vai além das fronteiras da Igreja, atinge toda a sociedade".

Interrompido várias vezes pelas palmas da assembléia, dom Castro usou uma linguagem simples e popular em sua conferência, recorrendo a imagens e fatos da vida para explicar como o Espírito Santo atua na vida dos cristãos. "O Espírito nos empurra em muitas direções: para fora, para todos, para dentro, para o fundo, para o lado, para trás, para frente, para baixo e, sobretudo, para cima", disse. "Que quer dizer nos empurra! Quer dizer que ele é uma força que irrompe, uma energia criativa, um motor que põe em movimento, uma fonte de vitalidade, um fator de comunicação, um construtor de unidade", explicou.

Dom Castro condenou o que chamou de "uma ética agressiva frente à natureza, derivada de uma vontade de domínio ilimitada, que o move a apropriar-se da natureza, rompendo todos os equilíbrios". Ele afirmou a urgência de se cuidar do planeta e que, para isso também, há necessidade do "empurrão" do Espírito Santo. "Necessitamos uma vez mais e com urgência do empurrão para baixo, dado pelo Espírito Santo, para poder dar-nos conta de que do mesmo modo que a dignidade humana é fonte de todos os direitos humanos, assim também a dignidade da criação é fonte de todos os direitos dos animais, das plantas e da terra inteira", destacou.

Ao lembrar que o Espírito Santo "empurra" para todos, o arcebispo insistiu na necessidade de se abrir a outras culturas e povos. "Cada povo, cada religião e cada cultura têm uma verdade que manifestar. O encontro com os que não são de nosso grupo, de nossa cultura, de nossa religião, pode nos enriquecer".

Para ele, quem tem o Espírito Santo se sente empurrado para fora e se sente missionário. "Pentecostes é sentir seu empurrão para fora; é descobrir-nos em movimento", disse. "Nosso Pentecostes é tomar consciência de ser discípulos missionários; é dar-nos conta de que já não podemos ficar fechados, que temos de sair, que o pequeno mundo em que vivemos nos fica muito estreito, que temos que nos mover pra a outra margem como nos pede Aparecida".

* Cecília Soares de Paiva, Jornalista Oeste1 CNBB

Fonte: Revista Missões

Deixe uma resposta

dezessete + 6 =