Coração universal

Jaime Carlos Patias *

Em 2008, dois grandes eventos marcam a dimensão missionária de nossa Igreja: a realização do 2º Congresso Missionário Nacional em Aparecida, de 1 a 4 de maio e o 3º Congresso Missionário Americano - CAM 3-Comla 8 -, que acontece em Quito, Equador, de 12 a 17 de agosto. São acontecimentos para continuar animando a Igreja no continente, com o espírito das orientações da Conferência de Aparecida, que nos colocou em estado permanente de Missão, como discípulos missionários de Jesus Cristo. Nesse contexto faz sentido o tema do 2º Congresso: "Do Brasil de batizados ao Brasil de discípulos missionários sem-fronteiras". O maior país católico do mundo é convidado a escutar, seguir e anunciar Jesus com um coração universal. Muito se fala do batismo como um sacramento que nos dá a consciência de sermos filhos e filhas de Deus, mas, pouco se menciona a sua dimensão universal, da humanidade como uma grande família que vive nesta casa comum, que é o Planeta.

Depois de ser batizado por João Batista no rio Jordão, Jesus inicia a sua missão revelando um Deus cheio de compaixão e misericórdia que ama e cuida, cura e restabelece a vida para todos. Com essas ações, Ele define a sua espiritualidade na missão evangelizadora e transformadora. Jesus não se isola do mundo, das situações, das pessoas, mas, se aproxima de todos, especialmente dos rejeitados.

Aderindo à Campanha da Fraternidade 2008 que nos lembra do nosso compromisso em defesa da vida, busquemos o essencial: viver o amor de Deus em sua sabedoria que nos proporciona vida em abundância. Mais do que aderir à fé em Jesus, é preciso aderir à fé de Jesus, que fez de toda sua vida, morte e ressurreição, um compromisso incondicional para construir e tornar presente o Reino de Deus na história (cf. Mc 1, 15 e Mt 13). Um encontro pessoal e comunitário com Jesus não pode ficar restrito aos limites de uma experiência de fé meramente intimista, individualista, sentimentalista, espiritualista ou moralista. As atitudes do discípulo missionário devem espelhar-se nas atitudes de Jesus.

Como Jesus faz parte da humanidade e é nosso irmão, essa sua consciência de ser Filho do Pai abre a possibilidade para cada um de nós de fazer a mesma experiência de Deus como Pai, sentindo-nos seus filhos queridos (Rm 8, 15). Eis a nossa suprema dignidade: ser da família de Deus, carregar Deus dentro de nós e sentir Deus carregar-nos dentro Dele. "Vede que grande presente de amor o Pai nos deu de sermos chamados Filhos de Deus! E nós o somos! Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai" (1Jo 3, 1). Como seria diferente a humanidade se todos soubessem e fossem acolhidos e respeitados como imagem e semelhança de Deus! Até hoje o cristianismo não conseguiu universalizar essa experiência para todos os seres humanos, nas diferenças, na pluralidade das culturas, riqueza de Deus. Nosso compromisso cristão vai além de nossas fronteiras!

* Mestre em Comunicação e diretor da revista Missões. Co-autor do livro Comunicação e Sociedade do Espetáculo. Paulus 2006.

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