Vanessa organizou e incentivou um grupo de mulheres migrantes para ter aulas de português na paróquia localizada no bairro onde mora; Karennys plantou no quintal de casa verduras e hortaliças; Tânia participa de fóruns, seminários e articulações para fortalecer o empoderamento da comunidade. Todas elas são migrantes da Venezuela que encontraram em Roraima um espaço educativo para que essas histórias pudessem acontecer: o Comitê WASH.
O Comitê WASH é um coletivo de pessoas auto-organizadas, pensando e agindo em suas comunidades, conscientes da temática e da normativa internacional de Direito a WASH (acesso a água, saneamento e higiene), que busca soluções e ações sustentáveis, considerando temáticas ligadas à Proteção de Base Comunitária. É uma ação da rede Cáritas, por meio do projeto Orinoco: Águas que Atravessam Fronteiras. As atividades oficiais do coletivo se iniciaram ainda em novembro de 2022, com ações multidisciplinares das equipes de Educação e Proteção da Cáritas Brasileira, em comunidades da periferia de Boa Vista (RR) formadas pela população migrante da Venezuela.
“Pensando na sustentabilidade e na importância da participação da comunidade no cuidado e manutenção de intervenções de infraestrutura em etapas prévias do projeto Orinoco, surgiu a ideia de formar Comitês WASH comunitários, visando construir novos significados das instalações e das atividades de promoção de higiene e educação ambiental proporcionadas pelo projeto, dando às pessoas ferramentas para criar espaços ambientalmente sustentáveis e melhorando, por sua vez, o engajamento comunitário”, pontuou Jimena Herrera, assessora nacional da Cáritas.
As atividades do coletivo têm como foco a metodologia da educação popular, conforme a teoria do educador e filósofo Paulo Freire: “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”. Uma ação participativa que possibilita a construção do conhecimento das comunidades sobre si e entre si.
“A metodologia aplicada para engajar a fundação do Comitê WASH foi o Diagnóstico Participativo, realizado em quatro etapas dialógicas, também fundamentadas no Manual Esfera. Cada etapa nos ajudou a conhecer melhor a comunidade, fortalecer os laços comunitários, apoiar a auto-organização e o empoderamento da população atendida”, explicou Maria Mariana, assessora técnica regional de WASH, na Cáritas em Roraima.
Mariana também acrescentou que a partir dessa atuação, os temas apresentados pela comunidade foram sistematizados em uma ata e, a partir daí, abordados e incididos no Circulo de la Cultura – uma das atividades do Comitê, que é um espaço educativo sobre cidadania e acesso a direitos no Brasil, com apontamentos e encaminhamentos construídos pela própria comunidade.
O Comitê WASH atua hoje nas comunidades João de Barro, Terra Prometida e Paraviana, na capital Boa Vista; na comunidade indígena Tarau Paru, no município de Pacaraima; e inicia um caminho de construção na comunidade indígena do Cantá, na cidade do Cantá. Localidades em que o projeto Orinoco já atuava desde a segunda fase de execução, em 2020, ofertando serviços de água, saneamento e higiene (construção de módulos de banheiros, banheiros unifamiliares, estação de lavagem de roupas e distribuição de kits de higiene) além de atendimentos do setor de Proteção, promovendo diálogos sobre cidadania e acesso a direitos no Brasil.
Em João de Barro
![Vanessa Diaz. Foto: Divulgação/Cáritas Brasileira.](http://www.revistamissoes.org.br/wp-content/uploads/Vanessa-Dias.jpeg)
Vanessa Diaz. Foto: Divulgação/Cáritas Brasileira.
É na comunidade João de Barro, localizada no bairro de mesmo nome, na capital Boa Vista, que o caminho de atuação do Comitê WASH traz as histórias de Vanessa Diaz, 32, Karennys Del Valle, 30, e Tânia Fernandez, 40. Mulheres, migrantes e protagonistas de novas vivências no Brasil.
“Sempre falo para as mulheres que temos que correr atrás. Aqui, nós vamos conversando, diagnosticando as necessidades que temos, nos empoderando com conhecimento e buscando parcerias”, comentou Vanessa Diaz. Há algumas semanas, Vanessa organizou e incentivou um grupo de mulheres migrantes para ter aulas de português na paróquia perto de casa.
“Plante o que você quer colher”. Karennys transformou o quintal de casa em espaço produtivo. O canteiro, construído durante as ações do Comitê WASH, tem tomate, cebolinha e muito afeto. “A gente mesmo que pintou, colocou as plaquinhas. Hoje temos um canteiro, mas em breve vamos expandir aqui, no chão, para plantar mais coisas”, contou Karennys.
![Tânia Fernandez. Foto: Divulgação/Cáritas Brasileira](http://www.revistamissoes.org.br/wp-content/uploads/Tania-Fernandez.jpeg)
Tânia Fernandez. Foto: Divulgação/Cáritas Brasileira
“O Comitê WASH é enriquecedor, tanto para os adultos quanto para as crianças aqui na comunidade João de Barro. Estamos aprendendo a como nos organizar enquanto coletivo, para seguir crescendo, como trabalhar com políticas públicas, como buscar nossos direitos. É uma educação para seguir adiante sendo migrante no Brasil”, comentou Tânia Fernandez. Na Venezuela, Tânia atuava com projetos sociais. Em Roraima, com o apoio da rede Cáritas, a migrante se engajou politicamente para fortalecer o empoderamento da comunidade onde mora.
Projeto Orinoco
Orinoco: Águas que Atravessam Fronteiras é um projeto da Cáritas Brasileira que atua junto à população migrante e refugiada venezuelana na região Norte e Nordeste do país. Hoje, a iniciativa se encontra em sua terceira fase e alcança cinco estados brasileiros: Acre, Pará, Piauí, Rondônia e Roraima.
Surgiu em 2019 e desenvolve ações de WASH, ligadas na prevenção contra a Covid-19. A partir de 2021, além de promover ações de acesso a água, saneamento e higiene, a iniciativa inclui o setor de Proteção, acompanhando as famílias vulnerabilizadas para que tenham acesso justo e igualitário a serviços essenciais no Brasil.
O atendimento conduzido por profissionais capacitados para acompanhar casos de Proteção visa: garantir o acesso a informações seguras, promovendo a autonomia das comunidades em buscar soluções para suas necessidades; mitigar danos provenientes de violações de direitos, por meio do referenciamento adequado; e incidir para que o Estado se responsabilize em garantir a assistência necessária prevista pelas políticas públicas nacionais. O projeto recebe apoio do Escritório de População, Refugiados e Migração (PRM) do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América.
Com informações da Cáritas Brasileira