Primeira indígena brasileira a tomar a vacina

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Vanuza Costa Santos Kaimbé (50) é graduada em serviço social desde o ano passado, é técnica em enfermagem há 16 anos, foi a primeira indígena brasileira a ser vacinada contra o novo Coronavírus neste domingo, 17 de janeiro de 2021.

 

Acompanhe o que Vanuza disse a respeito do seu trabalho em resposta as perguntas feitas por Missões.

PODCAST:

 

Vanuza, como foi o despertar da sua vocação para trabalhar na área da saúde?

Eu optei por trabalhar na saúde desde criança. Na aldeia tínhamos muito problemas nessa área. A primeira vez que fui ao médico tinha uns 5 ou 6 anos. Vim pra São Paulo em 1988, fiz o curso técnico de enfermagem para trabalhar na área e acabei ficando, vi que não era suficiente, fui fazer a graduação em serviço social. Tive um filho e acabei ficando.

Atualmente você trabalha como assistente social em alguma instituição de saúde?

Trabalhei durante 16 anos na Casa de Apoio a Saúde Indígena. Fui demitida porque minha chefe achou que eu tinha um comportamento mais de liderança do que de funcionária. Sou cooperada há mais de 15 anos. No momento estou sem paciente, porque faço um trabalho em busca de suprir as necessidades do meu povo Kaimbé no estado de São Paulo. É um trabalho árduo, mas gratificante, porém, não há remuneração.

Quais foram as motivações do convite para ser a primeira indígena a ser vacinada no Brasil?

Faz três anos que resido na aldeia Filhos Dessa Terra, em Guarulhos. Faço um trabalho na área da saúde, moradia, educação, território, demarcação. Estou há 30 anos em São Paulo, comecei atuando em movimentos com o povo não indígena, em Ermelino Matarazzo. Atuei num movimento contra a Bann Química, uma indústria que jogava veneno no bairro e acabou se mudando para Paulínia, no interior do estado. Minha vida toda foi de militância, agora só cuido da população indígena, sempre fui defensora da vacina, não é só agora, defendi a da gripe também. Defendo todas as vacinas.

Vanuza Kaimbé (esquerda) junto a outras liderança indígenas com a presença da FUNAI e CIMI São Paulo na Assembleia Legislativa de São Paulo. Foto: Arquivo Pessoal

Acredito que o Instituto Butantã e a Secretaria de Saúde me chamaram pelo trabalho que fiz desde o início da pandemia. Na Filhos Dessa Terra fizemos o teste de maneira rápida, pois montamos uma parceria com órgãos públicos e amigos, fizemos um trabalho de prevenção. Por isso fui contemplada a ser a primeira indígena no Brasil a tomar a vacina.

Você participa de algum movimento social que luta pelas causas indígenas?

Participo do Movimento Indígena Nacional. Fui várias vezes para Brasília, Acampamento Terra Livre, sou uma mulher feminista, indígena, defendo políticas públicas para mulheres, meu trabalho de conclusão de curso (TCC) foi sobre mulheres indígenas na liderança, em defesa da mulher.

Fiz trabalhos de prevenção, defendi e defendo o uso de máscara junto à população indígena. Por todo esse trabalho na militância me chamaram. Fui contaminada em maio de 2020, e quem me conhece sabe o quanto eu tenho amor à vida, defendo a vida. Meu trabalho não começou agora.

Qual o recado que você pode deixar para o povo, não só do Brasil, mas do mundo inteiro?

Vanuza_Kaimbe_Vacina_covid19_2O que eu tenho pra falar para meu povo e para todos é que a vacina é um ato de amor, vacina salva vidas. Não vai chegar para todos agora, mas aquele que receber a primeira dose deve ser grato pela vida. Eu recebi a primeira com muita fé na ciência. Nós tomamos vacina no Brasil há mais de 100 anos. São eficazes. Não importa a porcentagem da eficácia, que sejam 50, 70, 80%, o que importa é que salve vidas. A única forma eficaz de se proteger agora é vacinar. Não acredite em politicagem, nem em mentiras. Acredite na ciência!

 

Vanuza ainda vive o luto pela morte de dois primos moradores de Itaquaquecetuba e de Cidade Tiradentes, na zona leste da capital paulista, vítimas da Covid-19.

Militante, presidente do Conselho do Povo Kaimbé no estado de São Paulo e Como graduada em serviço social Vanuza atua voluntariamente na orientação do Povo da Aldeia Kaimbé, auxiliando o CRAS (Centro de Referência da Assistência Social) de Guarulhos, município da Grande São Paulo.

Fonte: Missões a Missão no Plural

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