Reações à carta do Papa aos movimentos populares

Panos vermelhos pendurados numa janela para servir as pessoas que vivem em bairros pobres, um sinal de socorro para receber ajuda e subsídios do governo em meio ao surto de coronavírus, Soacha, Colômbia

Panos vermelhos pendurados numa janela para servir as pessoas que vivem em bairros pobres, um sinal de socorro para receber ajuda e subsídios do governo em meio ao surto de coronavírus, Soacha, Colômbia

No Domingo de Páscoa, o Papa Francisco falou aos movimentos populares do mundo através de uma carta. Nela, o Pontífice expressa sua proximidade aos trabalhadores pobres, que “foram excluídos dos benefícios da globalização”, mas não de seus efeitos negativos: “Os males que afetam a todos os afetam em dobro”.

 

Manuel Cubías/Mariangela Jaguraba

O Papa expressou sua proximidade às lutas realizadas todos os dias pelos pobres, dos quais disse: “Eles são um verdadeiro exército invisível que luta nas trincheiras mais perigosas (...) sem outra arma a não ser a solidariedade, esperança e sentimento de comunidade que se renova nesses dias em que ninguém se salva sozinho.”

O bispo de Roma também pediu um salário universal, pois os pobres vivem “todos os dias sem nenhum tipo de garantia jurídica  que os proteja”. O Papa insiste que, uma vez terminada a pandemia, é importante colocar as pessoas no centro da vida.

Carolina Parrales, leiga e organizadora da comunidade Fé e Ação, Los Angeles
“A carta do Papa Francisco me deu muita força ao ver como novamente ele nos convida a continuar o nosso trabalho e nos chama de “exército sem outra arma a não ser a solidariedade” e, na verdade, nesses dias, minha única arma para continuar meu ministério é saber que existem pessoas que mais do que nunca precisam estar conectadas e não isoladas em suas casas.

Cuidar das grandes partes da população que são mais afetadas e menos beneficiadas durante essa situação é nossa prioridade atual, porque os líderes do nosso movimento também vivem na mesma situação: empregadas domésticas, babás, motoristas, etc. Irmãos que não têm salário fixo mensal e ainda não possuem benefícios sociais ou médicos, aqui neste país desenvolvido.

A ajuda mútua tem sido uma ferramenta bonita entre as famílias com as quais trabalho. Temos grupos do WhatsApp onde nos comunicamos e estamos cientes dos outros. Estamos entrando em contato através de telefonemas, coletando histórias e apresentando-as às autoridades locais para ver o que pode ser feito.

Aqui na Califórnia, continuaremos lutando para que a dignidade desse trabalhador essencial seja reconhecida, do contribuinte de impostos que paga justamente sua obrigação como todos os outros residentes, mas que é injustamente excluído por não ter um número de previdência social. E esperamos obter um benefício financeiro de emergência.

Papa Francisco, continuaremos como o exército invisível lutando para que a dignidade de todo ser humano seja reconhecida, sobretudo aqueles que vivem nas periferias, mas que estão no centro respondendo com seu esforço e dedicação durante este período de emergência mundial”.

Dom José H. Gómez, arcebispo de Los Angeles
“Aqui, no país mais próspero do mundo, fomos humilhados e castigados pela pandemia de coronavírus. Muitos de nós, pela primeira vez, agora partilhamos a insegurança e a ansiedade que definem a vida comum de milhões de nossos irmãos e irmãs em todo o mundo. Muitos, de repente, perderam o emprego e estão preocupados sobre como sustentarão suas famílias. Muitos estão doentes sem acesso a tratamentos médicos adequados. Muitos sentem estresse e medo, sentindo que seu futuro depende de forças além de seu controle e de decisões tomadas por outros.

A carta de nosso Santo Padre nos recorda que o peso dessa pandemia, como o peso de todas as crises sociais, é suportado pelos pobres e pelos que vivem à margem da sociedade. Também estou profundamente preocupado com os crescentes custos pessoais e sociais dessa pandemia, e especialmente os custos emocional, mental e espiritual que só aumentarão na medida em que as políticas de isolamento social continuarem no futuro indefinido.

Como sociedade, estamos vendo muito claramente nesta emergência de saúde que somos responsáveis unas pelos outros e que somos chamados a servir e cuidar uns dos outros. Essa é uma bela verdade que testemunhamos todos os dias durante esta pandemia, em nossos hospitais e lares, em nossas instituições de caridade e em todos os atos silenciosos e invisíveis de sacrifício e serviço em nossas famílias e comunidades.”

Dom Salvatore Cordileone, arcebispo de São Francisco
“Uno minha voz à do Papa Francisco para agradecer a nossos irmãos e irmãs dos movimentos e organizações populares por serem o rosto de Cristo compassivo, o rosto do Cristo sofredor. Mesmo com programas patrocinados pelo governo, em tempos de crise sempre são os pobres que mais sofrem, especialmente aqueles que vivem às margens da sociedade. Obrigado por ser o exército invisível, lutando nas trincheiras mais perigosas, levando luz, sustento e esperança ao mais queridos do nosso Deus amoroso”.

Dom Robert McElroy, bispo da Diocese de San Diego
“No meio do nosso isolamento, medo e solidão nesses dias de pandemia, experimentamos a profunda vulnerabilidade que une cada homem e mulher em perigo comum. No entanto, nessa mesma vulnerabilidade, também vemos refletidas em nosso mundo as cicatrizes das divisões de raça e classe que compõem cada elemento do sofrimento que o coronavírus traz para os pobres e marginalizados. Os elementos fundamentais da dignidade humana que nossa sociedade está tentando reunir neste momento de crise como base para a sobrevivência, renda familiar básica, assistência médica, moradia e acesso ao emprego, não são pré-requisitos para um único momento de vulnerabilidade. O Papa Francisco nos lembra hoje que eles são os fundamentos duradouros de uma ordem de justiça que reflete o poder transformador da Ressurreição de Jesus Cristo, que celebramos esta e toda Páscoa”.

James Martin, SJ, sacerdote e escritor jesuíta
“O Papa Francisco se lembra mais uma vez, e agora em meio a uma pandemia, como as catástrofes mundiais atingem com mais força os pobres e marginalizados. Ele nos pede, como Jesus, para que nos lembremos desses irmãos e irmãs quando tomamos decisões para o bem comum do nosso mundo.”

Timothy P. Kesicki, S.J., presidente da Conferência Jesuíta do Canadá e Estados Unidos
“O Papa Leão XIII escreveu uma vez que “sempre que o interesse de uma classe em particular sofre, ou é ameaçado por danos, que de forma alguma podem ser impedidos, a autoridade pública deve dar um passo adiante para lidar com isso. Cento e vinte e nove anos depois, o Papa Francisco continua essa mensagem pedindo um salário básico universal para proteger os direitos e a dignidade dos trabalhadores. Não podemos simplesmente suportar essa pandemia, o Papa Francisco nos chama a uma conversão e transformação mais profunda como povo da Páscoa. Somos chamados a agir e garantir que todos os trabalhadores sejam atendidos neste momento crítico”.

Fonte: Vatican News

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