Imigrantes venezuelanos: acolher, proteger, promover e integrar

Queremos que nos apoiem, que nos deem motivo para seguir adiante, pois, sabemos que um dia as coisas vão mudar.

Por Jaime C. Patias*

Equipe do ACNUR cadastra indígenas Warao na paraçaA escalada da crise na Venezuela obriga a população a abandonar o país em busca de sobrevivência. Estima-se que mais de 3 milhões já migraram para o exterior. Em Roraima, nas cidades de Pacaraima e Boa Vista, milhares de migrantes se encontram em condições extremamente precárias. A falta de infraestrutura para abrigar a demanda de refúgio cria uma tensão social preocupante.

Juan Carlo Olivero chegou com três primos e dois amigos. Eles percorreram a pé o trajeto de 215 km entre Pacaraima e Boa Vista, mas não conseguiram abrigo. À noite dormem em uma rua próxima à Estação Rodoviária onde disputam comida e um pedaço de calçada com centenas de paisanos nas mesmas condições. “É triste ligar para os nossos filhos que ficaram com a mãe na Venezuela e ouvir que hoje não comeram nada”, diz Juan Carlo. “Queremos que nos apoiem, que nos deem motivo para seguir adiante pois sabemos que um dia as coisas vão mudar”, comenta ele com esperança.

William Hernandez deixou para trás a esposa com cinco filhos e, a exemplo de milhares de venezuelanos, veio em busca de trabalho e comida. Faz 15 dias que chegou, mas não conseguiu nada. “Queria que alguém me ajudasse por que estamos bem tramados”.

Entre os imigrantes se encontram vários profissionais qualificados, a exemplo da médica Fiorella Blanco. Encontramos pedreiros, mecânicos, professores, advogados, policias, padeiros, entre outros.

Estimativas do IBGE apontam que mais de 30 mil venezuelanos estão em Roraima, mas apenas cerca de 6 mil estão nos 13 abrigos montados com verbas do governo federal e construídos pelo Exército com o apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Um bom número está em casas alugadas ou quartos que logo ficam lotados. Sem auxílio, fica difícil pagar aluguel que custa entre R$ 300 e 500 reais. Mas o que impressiona é a quantidade de gente dormindo nas ruas e praças.

Durante o dia os cruzamentos e semáforos ficam cheios de ambulantes tentando vender qualquer coisa ou simplesmente ganhar um dinheirinho.

O governo brasileiro concede refúgio, mas as ações de acolhida deveriam garantir também proteção social, saúde, educação, alimentação e segurança para todos. Uma das ações para desafogar Boa Vista é a interiorização de venezuelanos em outros estados. Neste sábado, 2 de fevereiro, um grupo de 99 imigrantes viajou com um voo fretado pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) rumo a Dourados (MS) onde vão trabalhar em uma indústria de alimentos.

Projeto Caminhos da Solidariedade

A Diocese de Roraima por meio da Caritas Diocesana e o apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Caritas Brasileira, Serviço Pastoral do Migrante (SPM), Instituto de Migrações e Direitos Humanos (IMDH), Serviço Jesuíta para Migrantes e Refugiados (SJMR) e outras entidades parceiras lideram o projeto Caminhos de Solidariedade: Brasil & Venezuela.

Dom Mário AntônioO bispo de Roraima, Dom Mário Antônio, destaca a importância da integração dos imigrantes. “Muitos chegam com fome e necessitados de tratamento médico”. “São novos irmão habitando entre nós”.

Lançado em outubro de 2018, o programa já beneficiou mais de 60 pessoas. No dia 31 de janeiro, um grupo de 17 venezuelanos partiu de Boa Vista rumo à Paraíba. Em João Pessoa eles foram acolhidos pela Arquidiocese da Paraíba e o Serviço Pastoral do Migrante do Nordeste e possivelmente serão inseridos no trabalho.

A gerente de Projetos na Caritas Diocesana, Gilmara Fernandes vê a necessidade de dar visibilidade à ação.

A falta de emprego, a fome, a insegurança as enfermidades são para os migrantes um teste de sobrevivência. E em uma cidade de 500 mil habitantes com poucas oportunidades no mercado de trabalho e acesso aos serviços públicos de saúde, transportes e educação, os migrantes logo são vistos como um problema. Infelizmente diante da crise humanitária surgem atitudes de xenofobia. Este cenário não permite ver o lado positivo do fenômeno. Quanta riqueza os migrantes trazem quando chegam aos nossos países? Quantas habilidades, novidades e conhecimentos!

Mas em contrapartida tem muita gente que ajuda e é solidária. Famílias que deixam morar de favor, outras que cedem um espaço no quintal, dão trabalho e alimentação. As pastorais da Diocese, as paróquias e comunidades, as congregações religiosas e movimentos com centenas de voluntários, as igrejas abrem as portas e o coração.

Na porta da Casa das Missionárias da Consolata todas as manhãs se forma uma fila que pode chegar a 500 pessoas para receber um pão com café.

Mobilização nas dioceses
As dioceses interessadas em acolher imigrantes por meio do projeto Caminhos da Solidariedade podem fazer o cadastro no site www.caminhosdesolidariedade.org.br

O site contém mais informações e foi criado para ajudar o acolhimento dos imigrantes nas dioceses de todo o Brasil.

Equipe Itinerante IMC
P. Luiz Emer conversa com grupo que chegou de PacaraimaA Equipe Missionária Itinerante do Instituto Missões Consolata (IMC) formada pelos padres Luiz Carlos Emer, Jaime Carlos Patias e Manolo Loro está dando prioridade às pessoas mais vulneráveis em situação de rua e aos indígenas Warao que estão fora do abrigo. Depois de muita pressão, nesta sexta-feira, 1º de fevereiro, uma Equipe do ACNUR foi até a Praça Augusto Germano Sampaio e cadastrou mais de 60 Warao de todas as idades que não estão conseguindo entrar no abrigo. Mas até agora eles ainda não tiveram resposta positiva e seguem na rua.

A situação de vulnerabilidade aumenta os riscos de exploração, uso de drogas, ilícitos, fome e doenças em uma população já ameaçada pelo fato de migrar.

Por isso, conforme nos convida o Papa Francisco, é urgente: “Acolher, proteger, promover e integrar”.

*Jaime C. Patias, imc, Conselheiro Geral para América.

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