Comunicação e Misericórdia

Rezo para que o Ano Jubilar, vivido na misericórdia nos torne mais abertos ao diálogo, para melhor nos conhecermos e compreendermos; elimine todas as formas de fechamento e desprezo e expulse todas as formas de violência e discriminação. (Misericordiae Vultus, 23)

Por Maria Emerenciana Raia*
Arte: Cleber Pires

O papa Francisco escreveu, no dia 24 de janeiro de 2016, a mensagem para o 50º Dia Mundial das Comunicações Sociais, a ser celebrado no dia 8 de maio, neste ano destacando o encontro fecundo entre comunicação e misericórdia.

“A comunicação tem o poder de criar pontes, favorecer o encontro e a inclusão, enriquecendo assim a sociedade”, escreveu o pontífice. As palavras podem construir pontes entre as pessoas, as famílias, os grupos sociais, os povos. E isso acontece tanto no ambiente físico, como no digital.

O Ano Santo da Misericórdia é momento propício para refletir sobre a relação entre a comunicação e a misericórdia. A Igreja, que somos nós, é chamada a viver a misericórdia como característica do seu modo de ser e agir. Portanto, aquilo que dizemos e o modo como o dizemos, cada palavra e cada gesto, deveria poder expressar a compaixão, a ternura e o perdão de Deus para com todos. Como filhos de Deus, somos chamados a nos comunicar com todos, sem exclusão.

O papa convida as pessoas de boa vontade, através de sua mensagem, a redescobrirem o poder que a misericórdia tem de curar as relações estragadas e restaurar a paz e a harmonia entre as famílias e nas comunidades. Com efeito, todos nós sabemos que velhas feridas e ressentimentos não resolvidos aprisionam as pessoas, impedindo-as de se comunicar e reconciliar-se. O mesmo acontece com as relações entre os povos.

Francisco chama a atenção para que a política e a diplomacia se deixem inspirar pela misericórdia. Apela em sua mensagem “aos que têm responsabilidades institucionais, políticas e de formação da opinião pública, para que estejam sempre vigilantes sobre o modo como se exprimem a respeito de quem pensa ou age de forma diferente e ainda de quem possa ter errado”. Ressalta que é preciso ter coragem para orientar as pessoas em direção aos processos de reconciliação. A misericórdia pode ajudar a suavizar as adversidades da vida e dar calor a quantos têm conhecido apenas a frieza do julgamento. “Seja o estilo da nossa comunicação capaz de superar a lógica que separa nitidamente os pecadores dos justos. Podemos e devemos julgar situações de pecado – violência, corrupção, exploração etc., mas não podemos julgar as pessoas, porque só Deus pode ler profundamente no coração delas. É nosso dever admoestar quem erra, denunciando a maldade e a injustiça de certos comportamentos, a fim de libertar as vítimas e levantar quem caiu”, afirma o papa.

Só palavras pronunciadas com amor e acompanhadas por mansidão e misericórdia tocam os nossos corações de pecadores. Palavras e gestos duros ou moralistas correm o risco de alienar ainda mais aqueles que queríamos levar à conversão e à liberdade, reforçando o seu sentido de negação e defesa.

Contracorrente

O papa Francisco destaca que a misericórdia anda na contracorrente da sociedade em que vivemos, e a compara com uma casa ou família onde a porta está sempre aberta e se procura aceitar uns aos outros, ao invés de um espaço onde estranhos competem e procuram prevalecer com suas ideias e opiniões.

Para que saibamos viver assim, é fundamental escutar. Comunicar significa partilhar e a partilha exige a escuta, o acolhimento. Escutar é muito mais do que ouvir. “Ouvir diz respeito ao âmbito da informação; escutar, ao invés, refere-se ao âmbito da comunicação e requer a proximidade”. Escutar nunca á fácil, afirma Francisco. Significa prestar atenção, ter desejo de compreender, dar valor, respeitar, guardar a palavra alheia. Saber escutar é uma graça imensa, é um dom que é preciso implorar e depois exercitar-se a praticá-lo.

O papa destaca por fim, as redes sociais e a tecnologia como instrumentos de comunicação, comparando o ambiente digital como uma praça, um lugar de encontro, onde é possível acariciar ou ferir, realizar uma discussão proveitosa ou um linchamento moral. “Não é a tecnologia que determina se a comunicação é autêntica ou não, mas o coração do homem e a sua capacidade de fazer bom uso dos meios ao seu dispor”, frisa Francisco.

A mensagem do papa para o Dia Mundial das Comunicações Sociais termina afirmando que “num mundo dividido, fragmentado, polarizado, comunicar com misericórdia significa contribuir para a boa, livre e solidária proximidade entre os filhos de Deus e irmãos em humanidade”. ν

*Maria Emerenciana Raia é jornalista e editora da revista Missões.
(CC BY 3.0 BR)

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