Sempre podemos mudar de rumo

De tão grave que é a situação ambiental ora vivenciada, é consenso afirmar que tal fato não compromete apenas a atual geração populacional com 7,2 bilhões de habitantes, mas também afetará – e muito - o modo de vida das gerações futuras.

Por Marcus Eduardo de Oliveira*

Com o avanço do capitalismo de mercado, centrado no lucro e na especulação, impulsionado em larga medida pelo aumento populacional global e por avanços tecnológicos em diversos setores da produção industrial, criou-se condições favoráveis para alavancar o crescimento físico das economias modernas.
A partir desse ponto, o alarme ambiental foi prontamente disparado, embora a consciência ecológica - fator fundamental para a correção de rumos - tenha surgido bem recentemente, facilitada pelos mais diversos estudos e apontamentos científicos que ganharam proeminência.

mundoecologiaCom mais ênfase, foi somente a partir do início dos anos 1960 que pesquisadores e cientistas dos mais diversos campos do conhecimento começaram a se debruçar em análises científicas sobre os impactos da atividade econômica e da ação humana sobre o meio ambiente, alertando para os iminentes riscos advindos de excessos, tanto na produção e no consumo, quanto em relação ao boom populacional, condições essas que pressionavam a extração de recursos naturais e o uso de energia em escalas cada vez mais ampliadas.

Esses riscos, alertavam os cientistas, começaram a colocar o ecossistema terrestre em perigo, alterando sistematicamente as condições climáticas da Terra que, de igual modo, deixaram, desde então, a humanidade numa situação vulnerável; numa espécie de corda bamba, se equilibrando entre a “necessidade” de satisfazer desejos de consumo, mas tendo que conviver ao mesmo tempo com os consequentes desajustes ambientais: secas fora de época, elevação da temperatura média do planeta, esgotamento ecossistêmico, contaminação das águas, poluição exacerbada, perda considerável de biodiversidade e de habitats e tantos outros.

Se antes desse alarme ambiental começar a fazer barulho a economia global cabia dentro do sistema ecológico, os fatores mencionados acima que foram capazes de impulsionar e dinamizar o mercado de consumo, impulsionou, por sua vez e de igual modo, a inversão dessa situação, desequilibrando as condições climáticas face ao uso constante e sem moderação dos recursos da natureza, postos a serviço do aumento da capacidade de produção econômica global que se tornou meta-síntese das políticas governamentais.

Desde então, tem sido cada vez mais delicada a relação homem-natureza, ação humana-meio ambiente, desajustando o funcionamento adequado do ecossistema terrestre, rompendo, pois, as chamadas “fronteiras planetárias”, abalando assim o bem-estar atual das populações humanas e não humanas.

De tão grave que é a situação ambiental ora vivenciada, é consenso afirmar que tal fato não compromete apenas a atual geração populacional com 7,2 bilhões de habitantes, mas também afetará – e muito - o modo de vida das gerações futuras, vale dizer, agravando mais ainda as condições de vida de mais de 2,5 bilhões de indivíduos que serão incorporados ao contingente populacional até o ano de 2050.

Se o ecossistema terrestre se encontra atualmente em delicadíssima situação de risco, funcionando de mundoecologia2modo cambaleante face a exploração humana feita à revelia das taxas de regeneração, equivale dizer que as formas de vida estão no limiar da sobrevivência.

Assim, é notório que o planeta não tem conseguido reagir de forma resiliente (voltar ao estado normal) frente às intervenções humanas. Com nossa sanha consumista cada vez mais sem limites, e sem sentido face a limitação do planeta, já ultrapassamos a quota de tolerância por parte da Terra, e a cada ano, entre os meses de agosto e setembro, atingimos o transbordamento (overshoot), ou seja, o excesso de recursos e energia necessários à produção material.

Desse modo, vale reforçar a assertiva: à medida que o sistema econômico avança sobre o capital natural da Terra, são as vidas humanas e não humanas que sofrem, de imediato, as consequências.
Ao expor em condição de risco o ecossistema terrestre, a humanidade mergulha de cabeça numa situação desfavorável para ela mesma em termos de perda de qualidade de vida. Contudo, isso nos obriga a procurar um novo início.

Quanto a isso, é oportuno destacar aquilo que Francisco de Roma, em sua Encíclica Laudato Si, aponta: “a esperança convida-nos a reconhecer que sempre há uma saída, sempre podemos mudar de rumo, sempre podemos fazer alguma coisa para resolver os problemas”.

Se temos futuro, que possamos construí-lo a partir de hoje, para irradiarmos amanhã. O estilo de vida da humanidade, cada vez mais artificial, pautado no consumismo, precisa urgentemente ser abandonado, até mesmo porque o planeta não tem um estoque de recursos a ser explorado e capitalizado em função de um sistema econômico que faz do lucro espécie de oxigênio que o mantém vivo.

*Marcus Eduardo de Oliveira é economista e ativista ambiental prof.marcuseduardo@bol.com.br

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