Missão Maturuca, em Roraima, comemora 100 anos de evangelização

Após os dominicanos chegaram à Região os Missionários da Consolata no ano de 1948, que deram continuidade à missão libertadora até os dias de hoje.

Por Philip Njoroge

SAM_5798A história de 100 anos de evangelização da Missão Maturuca, em Roraima, remonta o ano de 1913, quando o tuxaua Arbath frequentava a Guiana Inglesa e participava nas celebrações. Nestas celebrações, ele conheceu um padre de origem inglesa, do qual admirou-se das iniciativas e dos ensinamentos.

Com muita ansiedade, o tuxaua Arbath preparou uma comissão de indígenas coordenada pelo Arupoe e enviou-a ao Leteme na Guiana Inglesa, na Missão Jesuítica de Santo Inácio para fazer um convite ao padre de ir até Maturuca, local conhecido como Seraman naquela época, para dar catequese aos moradores.

O padre estava se preparando para viajar à Inglaterra quando a comissão chegou à missão de Santo Inácio e apresentou o pedido. Ele também fez um pedido a essa comissão. "Façam uma Igreja e eu irei visitar vocês".

O padre viajou para a Inglaterra e retornou para sua missão em 5 de janeiro de 1915. Alguns dias após a Páscoa, a comissão de Maturuca voltou para a missão de Santo Inácio em Leteme e falou ao padre, "nós fizemos o que você nos pediu". O padre viajou com a delegação por dois ou três dias e deu instruções catequéticas do final de abril até o dia 17 de maio de 1915. O ano 1915 ficou marcado na história como o ano em que o Evangelho chegou na Região das Serras.

O nome do Padre Jesuíta que trabalhava na Missão de Santo Inácio erai Father Curthbert Cary Elwes, mas esse nome sendo inglêsera muito difícil para o povo Macuxi pronunciar. Eles deixaram de lado o nome verdadeiro e o padre ficou conhecido como Padre Inácio, que na verdade era o nome da Missão onde ele trabalhava na Guiana Inglesa. Para o povo Macuxi, o nome da Missão era mais fácil falar.

SAM_6331O Missionário Inácio escreveu mostrando a admiração e a disponibilidade do povo Macuxi em aceitar a palavra de Deus. Ele ensinou a eles cantos gregorianos, além de catequizar e administrar os sacramentos. No decorrer dos anos em uma das suas visitas na Região das Serras, o padre se encontrou com a Comissão SPI, atual FUNAI (Fundação Nacional do Índio). A FUNAI falou que ele era um estrangeiro e que estava invadindo o país e que deveria se retirar e se o encontrassem, na próxima vez iria ser preso. No mesmo ano, o padre tinha que abandonar a Missão evangelizadora na comunidade Seraman (Maturuca).

Ao ver que o povo iria ficar no abandono da palavra de Deus, o padre escreveu uma carta ao Bispo de Manaus explicando que no norte de Roraima, na fronteira com Guiana Inglesa, havia um povo Macuxi organizado e catequizado na doutrina católica. Conforme o seu dialogo, solicitou ao Bispo que enviasse missionários para a Região, para assim dar continuidade da missão profética que ele já tinha começado.

SAM_5364Ao deixar a missão, o padre preparou o tuxaua Arbath para ser catequista da Região. Passado algum tempo, o tuxaua Arbath deixou o cargo para o tuxaua geral Melquior. Na época, chegou à Região o padre Alquino (beneditino) para dar continuidade do trabalho do padre Inácio. Após os dominicanos chegaram à Região os Missionários da Consolata no ano de 1948, que deram continuidade à missão libertadora até os dias de hoje.

Essa riquíssima história faz com que a Região celebre uma grande festa, que é a festa da comemoração de 100 anos de evangelização na Região das Serras. A festa teve início no dia 10 de setembro de 2015, às 6h com uma procissão de mais que 30 quilômetros a partir do centro Pedra Branca ao Centro Regional Maturuca. Na parte da tarde, palestras contaram o histórico da evangelização. No dia seguinte, foi realizada uma Via Sacra na Serra de Maturuca, e no terceiro dia seguiram-se jogos. A festa foi encerrada no quarto dia com uma solene eucaristia celebrada por Dom Roque Paloshi, bispo de Roraima e agora, presidente do CIMI.

Na festa, foram recordadas as grandes lutas, sofrimentos, tribulações, perseguições e angústias do povo, mas também as suas grandes conquistas, vitórias e alegrias neste 100 anos. A decisão de 26 de abril de 1977 ("ou vai, ou racha") de proibir a bebida alcoólica na comunidade deu fruto de uma das grandes conquistas: a demarcação e homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol e a visita do presidente da República, Lula que foi no centro Maturuca em 2010.

Outras vitórias recentes conquistadas:

  • SAM_4983Primeiro júri popular, ou seja, primeiro julgamento dentro da terra indígena na história do Brasil. No dia 23 de abril de 2015 esse julgamento se realizou na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, especificamente na Região das Serras - Centro Regional Maturuca.
  • Primeira Assembleia para discussão do regimento na Terra Indígena Raposa Serra do Sol que aconteceu nos dias 29 e 30 de junho de 2015 na Região das Serras no centro Pedra Branca.
  • Semana missionária em preparação à festa dos 100 anos de evangelização, que aconteceu entre os dias 24 e 30 de agosto de 2015 e congregou 11 padres que trabalham na diocese de Roraima e muitas irmãs, além de muitos jovens, catequistas e lideranças. Foram formadas 12 equipes que visitaram mais que 50 comunidades entre 72 comunidades da Região.
  • Visita do presidente do Supremo Tribunal Federal, que aconteceu no dia 4 de setembro de 2015 ao Centro Maturuca.

SAM_4861Todo mundo durante a comemoração de 100 anos de evangelização vibrou com alegria, escutando citações das conquistas que superam os sofrimentos que o povo da Região passou. Os povos indígenas da Região ficaram muito gratos pelos todos os missionários que passaram e que estão junto a eles e fizeram e ainda fazem com que a seiva do evangelho impregne a vida social deles. Dessa forma, os missionários os fazem lembrar a parábola do bom samaritano, que ajudou quem encontrou caído no caminho da história. Esses missionários se doaram e continuam se doando comungando nas lutas dos povos indígenas nas alegrias e nas tristezas.

Fonte: Revista Missões

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