A importância do perdão

Alessandra Cieri *

Escolhi hoje falar deste tema porque, falando de nossas crianças, noto, tanto no contexto clínico como no escolar, que muito de seus aspectos atitudinais, emocionais e sociais são reflexo de nossas convivências. Como é sábio de nossa parte, aprimorarmos nossa maneira de viver e de nos relacionar é de máxima importância. Quero dizer, para nossas crianças. E para nós mesmos.

Em alguns artigos que já escrevi cito o perdão. Mas em nenhum deles eu descrevi de maneira tão minuciosa o que realmente isso significa. Então, aqui fica registrado o verdadeiro significado de quando eu me refiro ao perdão, tanto para os anteriores, como para os futuros artigos.

Enquanto diversos relacionamentos renascem por conta do perdão, quantos terminam por falta dele! Esse gesto, ou a falta dele, pode mudar toda uma história. Hoje, portanto, vamos fazer uma reflexão de como você vem perdoando.

O que a outra pessoa precisa fazer para receber o seu verdadeiro perdão? Chorar, mostrar que o/a ama? Redimir-se? Mostrar que ela merece o seu também? Ou mostrar que ela já aprendeu aquilo que precisava aprender para evoluir?

Pois bem... aqui vai a minha proposta de hoje: Que tal, perdoar de antemão? Que tal perdoar antes mesmo do pedido de perdão. Que tal perdoar antes mesmo que o outro ainda nem tenha consciência de que precisa de perdão... Faço aqui essa proposta, porque, na verdade, o perdão é interessante justamente para quem perdoa.

Quando você perdoa de verdade, em um sentido amplo, psicológico, profundo e verdadeiro, o perdão liberta você dos ressentimentos, das mágoas e daquele passado negativo. Perdão vem do latim perdonare, de per, "total, completo", mais donare = "doar, entregar". Assim, perdão é entregar totalmente o que já não é mais seu, porque não agrada seu coração. É, portanto, a renúncia a tudo aquilo que não lhe faz bem!

Da mesma maneira, não perdoar, é como escolher todos os dias, fazer uma manutenção das pontes que ligam você àquelas situações que lhe trazem dor, é fazer questão de não abrir mão desses elos. As marcas, os traumas, os arrependimentos, as angústias, as tristezas, as culpas são elementos que muitas vezes fazem com que você fique constantemente vivendo o passado e, por isso, impedem de estar presente de maneira completa no agora; e o ontem não deixa de ser um tempo ilusório. É exatamente por isso que muitas pessoas têm medo do amanhã. Na verdade, é medo que o passado se repita. Perdemos muita energia vivendo deslocados do tempo, do aqui e do agora, mesmo de maneira sutil, nas angústias do passado ou nas ilusões do futuro.

O jeito de ser feliz
Só tem um jeito de ser feliz de verdade: abrindo mão do passado e abrindo mão, portanto, de ficar controlar o futuro, significa, estar inteiros no tempo presente. Por isso, a inteligência contida no perdão é absoluta. Perdoar, para simplesmente fazer bem a si próprio, para prevenir e curar doenças, para abrir caminhos para uma vida nova... E isto, basta você querer!

Então, saia hoje perdoando todo mundo. O vizinho que acordou você com o som alto, o motorista que lhe deu uma fechada no trânsito, o marido ou a esposa que não corresponde às suas expectativas, a pessoa de quem você gosta tanto, mas não age conforme sua vontade, ou aquela por quem você não tem tanta empatia, que nem fez nada demais e você se irrita com ela. Perdoe também a você mesmo por ter errado um dia, uma vez, ou várias vezes... Perdoe cada errinho seu. E não deixe nenhum deles sem o perdão daquele perdão do qual estamos falando aqui. Isto é renascer a cada dia. Se até as células do nosso organismo renascem de tempos em tempos, por que não consideramos natural realizarmos uma limpeza profunda também em nosso emocional, periodicamente?

Toda vez que intermediamos um conflito entre as crianças, é importante que passemos essa dimensão do perdão, por meio da linguagem verbal e não verbal. É fundamental ensinarmos que nossas orientações são, na verdade, em prol do bem-estar e da felicidade de cada um dos envolvidos. É importante ouvirmos cada um, apararmos as arestas e ensinarmos a importância do aprimoramento de nossas relações interpessoais, para sermos cada dia mais plenos.

Ensine seu filho a perdoar as pessoas e a si próprio também! As crianças perdoam naturalmente, com sinceridade. Não guardam mágoas. Essa é a capacidade do perdão com a qual nascemos e que vai sendo perdida ao longo de nossa vida. Algumas pessoas têm muita dificuldade de perdoar por achar que isso é aceitar tudo sem filtro; uma coisa não tem nada a ver com a outra; é importante que isso fique claro: Devemos limpar de nossa vida tudo aquilo que não nos faz bem e buscar só aquilo com o qual estamos de acordo, aquilo que queremos que permaneça, aquilo que tem a ver com a nossa essência. Porém, sempre sem o peso daquele passado negativo, sem ressentimentos.

Não é justo que alguém seja obrigado a sustentar uma situação aversiva por algum. Já conheci pessoas que suportam outras pessoas, situações, que não lhe faziam bem, por, no fundo, não se acharem merecedoras de trabalho, parceiros, amigos, clientes, e situações melhores para si mesmas. E nesses casos, ainda, além de suportar, é comum que elas criem uma relação de dependência, pelo medo ilusório da perda, justamente por acreditarem que são incapazes de alcançar conquistas maiores. Por isso, que sempre que falo sobre nós, pessoas, sustento: É preciso, sim, limpar nossa vida de tudo aquilo que não faz bem ao nosso coração, respeitando a nossa individualidade, diluindo as ilusões das dependências e da falta de merecimento. Também é preciso ir atrás de tudo aquilo que nos faz bem.

Nascemos para brilhar
Pois, leia bem, cada um de nós nasceu para brilhar. Pode acreditar que ninguém, nesse mundo, nasceu para ter uma vida "mais ou menos", uma vida cabisbaixa. Cada um tem sua luz pessoal, características inigualáveis e dons inéditos que ninguém mais nesse mundo tem. Use tudo isso a seu favor, para fazer a diferença e para que seja sempre muito feliz.

Mas, lembre-se, nenhum recomeço começa sem o perdão sincero. Se um dia você errou, mesmo que tenha errado muito feio, perdoe-se nesse nível em que estamos conversando aqui. Perdoe-se sempre. E já saiba que você vai errar de novo. Se alguém errou com ou contra você, perdoe. Mesmo que você escolha mudá-la de posição na sua vida ou até mesmo nem a veja mais. Se essa pessoa lhe faz bem e você quer um recomeço com ela, perdoe de uma maneira ainda mais profunda, mesmo sabendo de Antemão, que ela vai errar de novo, mais cedo ou mais tarde. Além do que, erro também é tão relativo; às vezes, o que é erro para mim, não é para o outro. As pessoas erram. Nós erramos. O autoconhecimento, a nossa sabedoria, a nossa evolução também se ampliam por meio de nossos erros.

Enfim, em outras palavras, o perdão não é um presente lindo que damos com um laço vermelho de cetim para uma pessoa que nos feriu. É um presente que damos a nós mesmos. Um presente para quem sabe se colocar, inteiro, no momento presente e sabe sempre recomeçar

A felicidade, ao contrário do que muitos dizem por aí, não se conquista. Não precisamos lutar por ela. A felicidade apenas se revela, pois é algo que já está em nós. Ninguém ensina uma criança a ser feliz, todos nós já nascemos sabendo brincar, rir e ser feliz. É nato! Basta limpar o coração, se respeitar e perdoar. Isso é se amar em primeiro lugar!

* Alessandra Cieri é Orientadora Educacional da Ed. Infantil e do Ens. Fund. I do Colégio Consolata, São Paulo.

Fonte: Revista Missões

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