Bispos latino-americanos levam a Pan-Amazônia à Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos

Assessoria de Imprensa

Representantes da Igreja católica latino-americana serão recebidos em audiência pública pela Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos (CIDH), na capital estadunidense, nesta quinta-feira, 19 de março. O tema do encontro será "Direitos Humanos e indústrias extrativas na América Latina".

A delegação deve expor alguns casos emblemáticos ocorridos no Brasil, Equador, Honduras, México e Peru, aonde a ação do extrativismo e o impacto das grandes obras atingem diretamente os direitos humanos das populações indígenas e campesinas. Será entregue à Comissão um relatório sobre os casos em que a Igreja católica teve um papel importante em deter as violações dos direitos humanos e denunciada a indiferença de muitos Estados da região.

O relatório ressalta também a criminalização dos defensores de direitos humanos e as graves consequências na saúde, na integridade e na vida, sobretudo das comunidades indígenas e campesinas.

A delegação é formada por representantes do Departamento de Justiça e Solidariedade do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), do Secretariado Latino-americano e do Caribe da Caritas (SELACC), da Confederação Latino-americana e caribenha de Religiosos e Religiosas (CLAR) e da Comissão da CNBB para a Amazônia.

A nossa Comissão Episcopal está representada por dom Roque Paloschi, bispo de Roraima que, entrevistado pela Rádio Vaticano, explica os objetivos desta audiência.

"O desejo nosso é fazer saber aquilo que a Igreja pensa e o trabalho que tem desenvolvido diante desta grande problemática que é a Indústria extrativa e também o desrespeito às populações originárias ou não da grande região da Pan-Amazônia. Temos também o objetivo de fazer conhecer a Doutrina Social da Igreja, porque é a primeira vez que nós, como Igreja Católica, vamos ser recebidos pela Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos. Temos casos emblemáticos a ser apresentados, assim como algumas propostas, pois nós desejamos criar uma proximidade com esta Comissão, no sentido de uma ajuda mútua, de nossa parte e da parte deles, para que verdadeiramente a vida seja este grande hino de louvor da criatura ao Criador. Diante de um mundo que busca o lucro pelo lucro, nós queremos, nas pegadas de Jesus que veio para que o mundo tenha vida e vida em abundância, também ajudar a promover e defender a vida de todos e da Criação, de um modo muito especial".

O impacto de grandes obras como hidrelétricas, rodovias...
"A Amazônia está sofrendo uma grande avalanche de projetos do capital nacional e internacional que vê a Amazônia simplesmente como um espaço a ser ocupado e explorado, pensando que os recursos naturais não têm fim. Seja o agronegócio, com a monocultura da soja, da cana, do dendê, do eucalipto, seja a criação também do gado bovino em grandes extensões, seja também hidrelétricas, estradas, portos que não são pensados para o bem da população amazônida, mas são pensados em vista do grande capital e do lucro que procuram explorar desta região rica aonde não se respeita a vida primeiramente dos habitantes originários, mas também nas populações que hoje estão na Pan-Amazônia".

Os membros da Comissão Interamericana de Direitos Humanos serão sensíveis à esta denúncia?
"Eu acredito que sim. Na expressão do Papa, apesar de a Igreja em muitos lugares ser minoria, a Igreja tem credibilidade, uma confiabilidade da população, e isto nos dá credenciais para podermos relatar à Comissão os passos que a Igreja tem feito em defesa da vida, seja da Criação, mas de modo particular das populações, nesta região amazônica que foi banhada pelo sangue de muitos mártires: bispos, sacerdotes, religiosos, agentes de pastoral, e de modo especial muitos mártires dos povos indígenas que deram a vida em defesa da dignidade e da esperança dos povos. Nós temos confiança; mesmo não tendo esta proximidade, nós queremos estabelecer a ‘cultura do encontro', como diz o Santo Padre e o diálogo com o mundo que está aí. Verdadeiramente, não queremos privilégios, mas queremos dizer aquilo que a Igreja pensa e faz em defesa da vida dos povos indígenas e não indígenas que vivem nesta bela e rica região amazônica, este Patrimônio da Humanidade".

Há dois anos temos um Pontífice latino-americano, altamente ligado com as questões ambientais. Assumiu o nome de Francisco, e justamente no dia desta audiência (19/03) começa seu terceiro ano de Pontificado. Isto pode ser considerado profético?

"É profético; nós queremos louvar e bendizer a Deus porque o Papa Francisco também leva em seu coração a experiência de um bispo latino-americano: de alguém que viveu com os pés no chão na simplicidade de pastor na frente, no meio e atrás do rebanho, defendendo e promovendo a vida na grande metrópole de Buenos Aires mas também com este coração grande, alargado para as esperanças e os anseios de vida de todos os povos, seja das Américas, seja de todos os povos do mundo. Nós louvamos e bendizemos a Deus porque ele, com seu testemunho de servidor tem nos convidado a dar passos, a não viver uma Igreja trancada em si mesma, que vive para si; mas uma Igreja em saída, que vai ao encontro, que vai em busca daqueles que são caídos, ansiando por vida, por esperança, por solidariedade, por paz. Nós louvamos e bendizemos a Deus porque o Papa com suas palavras, mas também com o seu testemunho de vida tem nos desafiado a dar passos em vista de uma Igreja pobre, para estar a serviço dos pobres e dos desvalidos do mundo de hoje".

Fonte: br.radiovaticana.va

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