Maria, Mãe e Mestra no exercício da cidadania

Ubajara Paz de Figueiredo *

De dois em dois anos vamos às urnas selar o direito-dever de votar, alternando a responsabilidade no âmbito municipal com a dos âmbitos estadual e federal, essencial no sistema político democrático.

Diante de falcatruas e desmandos tão frequentes, felizmente surgem esperançosas iniciativas de cunho popular que, em coerência com o direito-dever exercido nas urnas, e com heroicas persistências, levaram os legisladores a transformar em lei a maior campanha popular denominada Lei da FICHA LIMPA que começa a ser aplicada nas eleições de 2012. E a ela somam-se as campanhas educativas do voto sempre livre e conscientemente LIMPO.

Maria, a mulher escolhida para ser a Mãe de Jesus-, teve sempre a Bíblia como um livro familiar. É nela que aprendeu também a exercer a dimensão cidadã de sua existência. Seu testemunho a qualifica como exímia educadora da prática responsável desse direito-dever. Convém ainda dar-se conta de que a religiosidade católica popular revela características de devocionismos, frutos do insuficiente conhecimento da Palavra de Deus, da pessoa e da prática de Cristo Jesus ao anunciar o Evangelho do Reino. Isso ocorre também em devoções marianas que biblicamente se distanciam da Virgem Mãe de Jesus, pois não levam as pessoas ao encontro com Maria, a mulher que escuta e cumpre a palavra de Deus (Lc 11, 27). É seu próprio Filho que a apresenta como modelo de quem "cumpre a vontade do Pai" (Mt 12, 48-50; Mc 3, 31-35; Lc 8, 19-21). Semelhante prática Lucas afirma que Maria a cultivou desde Jesus bebê e adolescente (Lc 2, 16-19.51).

No seu exercício da cidadania, luz intensa é o seu maravilhoso e profético cântico em estilo de hino, o "Magnificat", primeira palavra da tradução do grego para o latim (Lucas 1, 46-55). Vê-se como Maria se deixou educar de modo permanente pela Palavra de Deus, orando os Salmos, lendo os Profetas. Eis o ponto chave de seu primeiro ensinamento de cidadania: É pela Palavra de Deus que se aprende o que é a cidadania, como vivê-la de modo digno, responsável, livre e consciente e a dirigir-se às urnas em vista do Voto Limpo!

Tenham a Bíblia nas mãos. Deixem-se intensamente tocar pelo hino com o qual Maria canta a grandeza do Deus Salvador; pois Ele olhou a humildade de sua escrava e nela operou grandes maravilhas a ponto de todas as gerações a chamarem de feliz, bem-aventurada. E assim Deus age porque é santo e misericordioso com seus fiéis de geração em geração. A seguir (vv 51-53) ela revela sua consciência cidadã decorre do SIM que deu ao arcanjo Gabriel "Faça-se em mim segundo a tua palavra" (Lc 1, 38).

E o que Deus fez na situação histórica então vigente e continua a fazê-lo?

Agiu de forma clara e transparente com o poder de seu braço: derrubou dos tronos os poderosos, exaltou os humildes, cumulou de bens os pobres e famintos e despediu de mãos vazias os ricos. São sinais de que reverteu a situação que nega e discrimina a dignidade da vida do ser humano. Esta foi e é a intervenção do Deus fiel e leal às promessas feitas aos antepassados e em favor de Abraão e sua descendência para sempre.

Maria, Mãe e Mestra da cidadania, a cada dia e não só nas eleições, está a interpelar seus filhos e filhas se, pelo jeito de viver e atuar, são de fato sujeitos e protagonistas de um país MAIUSCULAMENTE democrático, ou apenas se acomodam a serem simplesmente puxados pelos cabrestos daqueles que se SERVEM DA PÁTRIA e JAMAIS A SERVEM, como ensina seu Filho sobre como servir e torna-se importante (Mt 20-27; Mc 10, 35-45).

E atenção! Maria, Mãe e Mestra, desde o esponsal em Caná da Galileia, emprega o verbo no imperativo: "Fazei tudo o que Ele vos disser" (João 2, 5). 

* Ubajara Paz de Figueiredo é padre da Arquidiocese de Campo Grande, MS, e formador na comunidade de Teologia.

Fonte: Ubajara Paz de Figueiredo / Revista Missões

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