Diálogo inter-religioso faz-se com amizade e oração

Francisco Pedro

Na apresentação em Lisboa do seu livro, baseado nas reflexões de um dos monges trapistas assassinados na Argélia, em 1996, o arcebispo emérito de Argel, Henri Teissier destacou a amizade e a partilha da oração como pontos fundamentais para fortalecer o diálogo islamo-cristão

Os grandes desafios nem sempre carecem de soluções complexas e elaboradas. O arcebispo emérito de Argel, Henri Teissier, deu a entender isso mesmo, ao apontar a amizade e a oração como caminhos para o fortalecimento do diálogo entre cristãos e muçulmanos. Na apresentação do seu livro - «Cristophe Lebreton: monge mártir e mestre espiritual para os nossos dias» -, em Lisboa, o prelado recorreu a excertos da obra para mostrar que «quando Deus fala ao coração dos homens», nem as crenças os separam.

A sessão, a primeira de um ciclo de conferências que o prelado vai fazer em Portugal a convite dos Missionários da Consolata, abriu com o visionamento do filme «Dos homens e dos deuses». Premiada e classificada como um hino ao verdadeiro «compromisso cristão», a película relata a tensão vivida pelos monges trapistas, quando decidiram ficar no mosteiro de Tibhirine, na Argélia, apesar de ameaçados de morte por guerrilheiros de matriz islamista. Acabaram raptados e assassinados. A força das imagens, da história e da mensagem, deixou marcas nos espectadores, que quase lotaram o auditório do Montepio. No final, reinava o silêncio da introspeção. Em algumas filas, enxugavam-se lágrimas mais sensíveis.

Apesar do filme centrar a ação nos monges trapistas, Henri Teissier, que acompanhou de perto a situação com deslocações frequentes ao mosteiro, salientou que os eremitas não viveram sozinhos este drama. «A tensão foi vivida por toda a Igreja». Depois dos grupos integracionistas terem condenado à morte estrangeiros e cristãos, a maioria dos religiosos católicos manteve a intenção de ficar na Argélia. «Entendemos que era dever da Igreja manter-se junto dos que sofriam», referiu o arcebispo, adiantando, que no caso dos monges assassinados, «eles não ficaram ali à espera da morte, do martírio, mas em partilha com a comunidade». No fundo, «esperavam viver, porque esperavam que a paz fosse mais forte do que a violência».

Este sentimento de comunhão com a população está bem retratado no diário que Cristophe Lebreton foi escrevendo e que serviu de base ao livro publicado por Henri Teissier. Ao associar constantemente cenas da vida quotidiana com os textos bíblicos, o monge acabou por deixar quase um guião para o diálogo inter-religioso, centrado na amizade e na oração. «A nossa missão evangélica é viver a Boa Nova da nossa relação com os muçulmanos. A Igreja deve acreditar numa relação ‘crística' aqui e agora», escreveu Lebreton, numa passagem destacada pelo arcebispo.

O livro, publicado pela Consolata Editora, era para ser apresentado pelo diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura e autor do prefácio, padre Tolentino Mendonça, mas imperativos de última hora impediram-no de estar presente. No sábado, 15 de setembro, Henri Teissier, considerado um dos maiores especialistas da atualidade em diálogo inter-religioso, falará em Fátima, a partir das 9h30, nas Jornadas Missionárias. Nos dias seguintes, estará em Ermesinde, Porto e Braga. O ciclo de palestras integra-se no programa dos Missionários da Consolata do próximo ano pastoral, dedicado à «Fé, Martírio e Missão». «Queremos fortalecer a nossa fé, partilhando a fé dos outros», explicou António Fernandes, Superior Provincial da congregação.

Fonte: www.fatimamissionaria.pt

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