Leigos missionários somam oito anos de missão

Elísio Assunção

Jovem casal espanhol, Ester e Luís, parte para o Brasil pela segunda vez. Depois de um caminho de leigos missionários da Consolata, que os levou à descoberta da missão, partiram em 2002, recém-casados, para Roraima

Dedicaram seis anos das suas vidas aos povos indígenas, da Raposa Serra do Sol. Os dois últimos foram vividos na periferia da cidade de Boa Vista. Em 2008, "regressámos a Espanha, com três filhos". Ester Tello Ferrer "é esta menina que deixou uma parte dela amarrada ao Brasil". Regressa de novo "com alegria e esperança, para trabalhar lá, reencontrar os amigos e inserir-se em novos projetos". Gosta de "ler, estar com os amigos, conversar e passear". O marido, Luís Ventura Fernandez, "é pai de família, cristão, missionário".

Teve a sorte de sentir fortemente o chamamento de Deus e teve a oportunidade de o tornar realidade". Aprendeu a crescer "na Cáritas de Espanha, no encontro com o mundo da exclusão e da pobreza, com o mundo da luta e da esperança que os povos indígenas me mostraram". O homem é um pouco de "tudo isso, misturado com 39 anos de caminhada. Muito feliz". Têm três filhos: Marcos Mayu. "É um nome indígena, que significa mutirão, trabalho feito em conjunto"; Clara Anai, que "significa milho, na língua macuxi"; e Xavier Iren, isto é, "rio". Deram nomes indígenas aos filhos, "porque nos sentíamos muito ligados àqueles povos".

Após quatro anos, passados em Espanha, regressam a Roraima para mais dois anos de trabalho missionário: "Foi uma opção de vida que moldou muito a nossa família e queremos continuar", explica Ester Tello Ferrer, de 39 anos. "Crescemos muito em Roraima, como pessoas, como casal, como família, como missionários. Partilhámos com os povos indígenas uma história de luta muito grande. Isso fortaleceu e reforçou a nossa fé, assim como o nosso amor pela missão".

Ser enfermeira em Surumu, "é muito diferente que sê-lo em Espanha". Ester trabalhou num posto de saúde, onde acorriam os doentes da área indígena. "Sem médico, recebia os doentes e fazia o diagnóstico. Decidia se transferi-los para a cidade ou tratá-los no local". Sem meios de diagnóstico, "tinha apenas o olho clínico para cuidar dos doentes". Com os povos indígenas, Luís Ventura Fernandez aprendeu "a força da paciência, da resistência e da perseverança". Os povos indígenas lutavam contra poderes económicos e políticos muito grandes. "O jeito de eles lutarem era na base da união das comunidades, do trabalho, da firmeza, de perseverar, de resistir. Aprendi que esse é o caminho". Como David contra Golias, "damos conta que os povos deste mundo têm as suas estratégias para lutar pela vida". Recebeu essa lição dos povos da Raposa Serra do Sol: "Unidos e a trabalhar juntos, tendo a certeza de que a vitória seria sua. Apesar de em certos momentos tudo indicar que não iria resultar, que o poder era muito grande, que os meios de comunicação eram muito poderosos, que o poder económico e político estava envolvido para impedir que os índios ficassem com o direito à sua terra, apesar de tudo isso, os índios acreditaram sempre que iriam vencer".

É uma força de esperança muito grande que se transforma quase em certeza. "A força dos índios vinha de uma longa luta, da sua fé. Sentiam que o que estava a acontecer era quase uma escravidão e não era possível que aquilo fosse querido por Deus". O papel das mulheres foi preponderante, confessa Ester. A estratégia dos brancos era espalhar entre os índios o álcool e outras iniquidades, que causaram divisões". As mulheres indígenas clamaram: "Foram elas que se colocaram à frente da luta contra a bebedeira. Resistiram e até se recusaram a preparar a bebida tradicional. Encabeçaram a luta, ao lado dos homens, tiveram um papel muito forte, até aos dias de hoje".

O casal parte de novo, após quatro anos passados em Espanha. "Retomamos a caminhada mais dois anos. Sentimos dentro de nós essa inquietude". Ester confessa: Custa partir com as crianças, mas sentimos que é agora que devemos dar o nosso sim". Por seu lado, Luís explica: "A nossa atitude é partir de novo, mais enriquecidos, e não apenas continuar. Partimos com a mesma vontade de colaborar, dar-se e gastar-se na missão". A decisão do casal radica-se na fé. "É a fonte. Sem fé, tudo isto não teria sentido". Questionados pelos amigos que deixaram, Ester e Luís explicaram: "Somos parte de uma caminhada e de uma missão: de anunciar o reino pelo mundo além. A nós toca-nos anunciá-lo com a disponibilidade em sair da nossa terra, tal como muitos outros continuam a anunciá-lo na sua terra". E concluem: "Só com as nossas forças, não conseguiríamos sair. Há muitas coisas que custam. A fé alimenta, provoca e chama. Inquieta-nos sempre".

Fonte: www.fatimamissionaria.pt

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