Mobilizações sociais: Lá e aqui

Montserrat Martins *

Tem coisas que sempre é melhor na casa dos outros, festa por exemplo, você se diverte sem ter de organizar nada e depois vai embora sem precisar arrumar a bagunça. Mobilizações sociais também, quando se vê nos telejornais dá aquela sensação de que "alguém tá fazendo alguma coisa", quando é por aqui, depende. Torcemos pela "primavera árabe" e pelo "Occupy Wall Street", queremos que o mundo mude para melhor, não gostamos de ditadores e banqueiros gananciosos. Se a mobilização for por aqui, vamos ver, será que vai atrapalhar o trânsito ?

A possível greve dos professores gaúchos é uma situação dessas, que divide opiniões porque afeta a vida das pessoas, interfere nos afazeres das famílias, neste final de ano. Falas de professores, de alunos e de pais refletem necessidades conflitantes, do ponto de vista prático. Já ouvi em debates de rádio pais se queixando que os professores "só querem saber de salários, mas e a qualidade da Educação ?". Não consigo desvincular uma coisa da outra, sinceramente. Existem missionários que dedicam sua vida aos outros e vivem na pobreza, sim, mas não faria sentido exigir isso de todas as pessoas, nem acreditar que vamos chegar a uma sociedade mais justa e qualificar a Educação sem pagar dignamente os professores.

A questão é: de onde tirar recursos, quer dizer, o que poderia ser diferente ? O CPERS promoveu um debate eleitoral, ano passado, onde essas questões vieram à tona. Lembro que o Pedro Ruas alertou sobre situações que agora estão ocorrendo, enquanto os professores presentes estavam mais otimistas com a vitória do atual governador, que já se desenhava. Enquanto o Estado não renegociar a dívida com a União, disse claramente o Ruas, quem vai pagar a conta serão os professores e o funcionalismo em geral. Só para relembrar quem não ouve falar disso com frequência, o Estado paga 18 % de sua receita e além disso o fator de correção é calculado por um índice superior ao da própria inflação oficial, ou seja, é o tipo da dívida que quanto mais se paga, mais se deve.

Este ano a própria presidenta acenou com a possibilidade de conversar com os Estados a respeito, o que é uma perspectiva promissora. Um governo estadual pressionado pelos movimentos sociais deveria ter interesse redobrado em rever essa equação, com urgência. Sem pressões, é mais fácil acabar cedendo ao "status quo", economizar à custa dos pequenos e não se envolver em "briga de cachorro grande", você entende. O que leva à situação satirizada pelo Delfim Neto, que cita em entrevistas que "poder é como violino, você pega com a esquerda e toca com a direita".

* Montserrat Martins, colunista do EcoDebate, é Psiquiatra.

Fonte: www.ecodebate.com.br

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