Da santidade à vida eterna

Carlos Roberto Marques *

"Mas agora, libertados do pecado e feitos servos de Deus, tendes por fruto a santidade; e o termo final é a vida eterna"(Rm 6,22).

Historicamente, a Igreja destacou um dia do calendário litúrgico para celebrar em honra de todos os cristãos martirizados, estendendo mais tarde também aos santos, mesmo não mortos em martírio, mas cujas virtudes mereceram especial reconhecimento, sendo ou não canonizados. Durante muitos séculos, o dia 1º de novembro foi dedicado tanto aos santos e mártires quanto aos "fiéis defuntos", especialmente àqueles para os quais ninguém rezava ou mesmo se lembrava. A partir do século XIII, o dia dos mortos passou a ser celebrado no dia 2 de novembro, para que o dia 1º fosse inteiramente voltado à Festa de Todos os Santos.

Providencialmente, não só a proximidade das datas mas também a ordem das celebrações levam-nos a refletir sobre a programação de nossas próprias vidas: santificarmo-nos em vida, para merecermos a eternidade. No dia 1º festejamos aqueles que, por sua retidão e caridade, reconhecemos como santos. No dia seguinte, em espírito de consternação, lembramos e rezamos por nossos irmãos e irmãs falecidos. Quantos desses estariam na presença de Deus? Nossa oração lhes alcançará Sua misericórdia? E nós, vamos viver dissolutamente, como o filho pródigo, fazendo da vida um parque de diversões, sem preocupação com o porvir? Ou vamos acumular tesouros no céu, na esperança da vida eterna?

"Existem muitas moradas na casa de meu Pai. (....) vou preparar um lugar para vocês.(....) E para onde eu vou, vocês já conhecem o caminho.(....) Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim" (Jo 14, 1-6). Eis, nestas palavras, a promessa de vida eterna. Quem crer, comer e beber de Seu Corpo e Sangue, este terá parte com Ele e sentar-se-á à Sua mesa.

Medo da morte
Diante destas promessas, por que ainda sentimos medo da morte? Seria por falta de fé? Ou seria pela incerteza de nossos méritos? Como estaria o nosso "capital de graças", o nosso tesouro celeste? Qual foi nossa opção: uma vida descomprometida com a caridade, com a justiça, com os irmãos, com Deus mesmo, contando com a sorte do "bom ladrão", salvo no último momento? Ou agir como "um homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha?" (Mt 7, 24).

Nascemos vocacionados à santidade. Seria nosso caminho natural. Alguns conseguiram, no recolhimento e na oração, trilhar esse caminho. Para outros, o caminho foi penoso, mas o Amor falou mais forte; superaram o medo e a dor, até o final da missão. Muitos, porém, tiveram que passar por uma conversão, às vezes lenta, outras, inesperada e abrupta. O apóstolo Paulo está entre estes; mas, certamente, já estava nos planos de Deus. A fé e a confiança de Paulo nos apequenam, mas estimulam! Ele, a todo momento, manifesta sua fidelidade a Jesus, com quem não conviveu, mas pôde ver face a face ("Vi Jesus que me dizia: 'Apressa-te e sai logo de Jerusalém..." - At 22, 18). Por certo, todos gostaríamos de poder, ao fim da missão, afirmar com segurança, com convicção: "Combati o bom combate, terminei a minha corrida, conservei a fé. Agora só me resta a coroa da justiça que o Senhor, justo Juiz, me entregará naquele dia..." E concluir, serenamente: "Pai, em tuas mãos entrego meu espírito." Quer isto? Vigiai, portanto! Não entendeu? Vamos atualizar: fique esperto, pois "tua batata pode estar assando"!

* Carlos Roberto Marques é Leigo Missionário da Consolata - LMC, e membro da equipe de redação. Publicado na revista Missões, n. 09. novembro 2011.

Fonte: Revista Missões

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