O tempo da Política

Humberto Dantas *

Magicamente votamos naqueles que às vésperas das eleições parecem ter resolvido todos os problemas do mundo.

Dizem os especialistas que a política tem um tempo, um momento, digamos assim: um ritmo apropriado. E esse instante é, normalmente, pautado pelas eleições. Assim, é bastante aceito na política que os represen¬tantes realizam suas ações com olhares bem fixados nos votos.

Boas ações próximas das eleições, ações mais difíceis em momento distante. E é isso que temos assistido. A máxima diz: políticos pautam seus comportamentos na capacidade de transformar ações em resultados positivos nas urnas. Os políticos agem assim por um motivo muito simples: nós nos comportamos quase de maneira irracional. Como animais pouco afeitos à política que somos, recebemos um carinho e nos enroscamos, somos chutados e criamos repulsas.

Pouco tempo depois do trauma, lá estamos nós de novo, enroscados. E quando tomamos o milésimo safanão, por vezes ainda insis¬timos em voltar, mesmo porque parece que temos memória de peixe - lembrando o desenho Procurando Nemo de Walt Disney em que o peixe não se lembrava sequer do nome.

Fôssemos nós cidadãos educados politicamente, e atentos aos efeitos que as decisões da classe política causam em nosso cotidiano, a história da humanidade seria diferente. Sobretudo as realidades de países que sofrem com tantas desigualdades e barbaridades como o nosso. Mas como a história não nos reservou muita lucidez, nos deparamos com a manipulação do tempo da política sobre nosso cotidiano. E magicamente votamos naqueles que às vésperas das eleições parecem ter resolvido todos os problemas do mundo. Lembremos que nunca um pre¬sidente deixou de ser reeleito no Brasil - FHC e Lula venceram a recondução.

E que em 2008 a taxa de reeleição dos prefeitos foi superior a dois terços. Seriam todos assim tão bons? Ou o tempo da política é capaz de marcar nossas escolhas eleitorais de forma mais instantânea que os quatro, oito, doze anos das trajetórias dos postulantes?

Sentido da democracia
No tempo da política verificamos, para piorar de vez esse qua¬dro medonho, decisões sendo tomadas sem grande rigor técnico. O pré-sal, por exemplo. Visto por muitos como o passaporte do Brasil no desenvolvimento econômico, sua exploração tem sido encaminhada com a urgência eleitoral de quem pretende colher resultados para seus indicados. Lula pede 90 dias para que o Congresso tome uma das decisões mais estratégicas da história desse país.

Uma determinação que pode marcar o sucesso ou o fracasso de uma era. O The Economist, conceituado periódico, afiança que tudo pode ser perdido pela maldita mania latina de gastar sem ter, de comemorar antes de ganhar. Mas Lula não está sozinho. Serra avança com o metrô e o rodoanel em São Paulo numa velocidade coincidente com o pleito de 2010, como se tudo não passasse de uma tremenda conspiração cósmica. As ilustrações atingem praticamente toda classe política.

Diante desses exemplos todos precisamos ficar atentos para o tempo da política. Cidadãos mais lúcidos serão capazes de perceber que todo instante é tempo de política, todo momento é momento para sermos brindados com boas obras, bons serviços e ótimos governantes.

Cidadãos mais maduros serão capazes, no entanto, de reconhecer que nem só de pétalas vive a espinhosa tarefa de governarmos um país, um estado e um município. Essa maturidade é absolutamente capaz de nos mostrar que precisamos compreender o sentido da democracia, que inclui dificuldades e notícias ruins - que devem ser analisadas de forma sábia e racional. E mais do que nunca, ao contrário do que apregoam alguns dos nossos mais relevantes políticos, não precisamos de um pai no governo ou amor no poder. Precisamos de técnica, objetividade e racionalidade. A política pode ser repleta de paixão e suas subjetividades, mas definitivamente o que precisamos é de clareza, previsibilidade e equilíbrio. Pelo menos é isso que dizem as teorias acerca da democracia.

Humberto Dantas é cientista político, coordenador de cursos na Assembleia Legislativa de São Paulo e apresentador do programa Despertar da Cidadania na rede Canção Nova de Rádio.

* é cientista político, coordenador de cursos na Assembleia Legislativa de São Paulo e apresentador do programa Despertar da Cidadania na rede Canção Nova de Rádio.

Publicado na edição Nº07 - Setembro 2009 - Revista Missões.

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