VI Encontro Continental de Teologia India

Egon Heck

No segundo dia de trabalho do VI Encontro Continental de Teologia Índia, que se realiza em Berlin, oriente de El Salvador se pode ter o ambíguo sentimento de tristeza e esperança, ao escutarmos os testemunhos sobre a realidade dos povos indígenas de América Latina e Caribe. Ficou muito claro para todos que as migrações forçadas destes povos de suas terras é um dos principais problemas que os afetam. Isso se dá sobretudo pelo acelerado avanço das sociedades nacionais e das grandes empresas sobre as terras e culturas indígenas.

Também nos alegramos e queremos unir às teólogas indígenas que realizaram aqui em Berlin o primeiro encontro de teólogas indígenas de Abya Yala. Em seu documento destacam: "Nos reconhecemos cuidadoras das sementes naturais e ancestrais, cultivadoras da terra e das lutas dos nossos povos excluídos, geradoras e recriadoras da vida e da comunidade transmissora da medicina natural e a sabedoria sagrada, preservadores do equilíbrio e harmonia da Pachamam, Nan, Uleu, Tlalli, Pats, Enauacna. Reconocemos que La espiritualidade ancestral passa por nossos corpos e integra a família e se expressa no idioma, na vestimenta, a musica, a dança, a festa, os símbolos, os ritos, os mitos que nos dão energia para seguir o caminho". Ao final, as irmãs teologas reafirmam sua fé e sua tarefa no entendimento bíblico e pastoral a partir da experiência de mulheres e conclamam irmãos e irmãs indígenas e pessoas solidárias com sua causa para escutar, respeitar e assumir ‘nossa palavra na elaboração teológica, bíblica e pastoral'. Quer dizer, as teólogas resgatam o protagonismo das mulheres de fé que vem dos tempos mais antigos.

Ao iniciarmos esse segundo dia do encontro, participando como uma grande comunidade de vida e fé, da construção do altar Maya, um dos rituais mais antigos de Mesoamérica, a cruz cósmica, feita com milho, cuias e vários outros símbolos: a cruz cósmica que representa a harmonização do mundo, da comunidade, e da pessoa. A direção oriente-poente expressa o caminho de Deus, simbolizado no sol que, ao nascer vence as sombras da noite. E ao final do dia, se encosta no poente, depois de ter dado a vida a todos. A direção sul-norte ou norte-sul é o caminho da humanidade que a partir da força de seus mortos, se constitui num futuro digno para os humanos, as plantas e os animais. Donde se cruzam os caminhos se une o céu e a terra: Deus se faz humano, se faz a terra (por isso é o coração do céu, coração da terra). Neste ponto encontramos Jesus Cristo, nosso Deus e nosso irmão, aquele que com José e Maria experimentou a dura realidade da migração forçada.

Os impactos e causas das migrações forçadas

Apesar de serem variados os impactos e as causas dos milhões de indígenas de centenas de povos em constantes migrações, forçadas ou não, em toda latino América, foi destacado que a continuidade do processo de invasão das terras, expulsão e destruição dos recursos naturais e meio ambiente, são as principais causas das migrações. O sistema capitalista neoliberal continua na raiz das migrações.

Além disso, também se mencionou com ênfase o forte impacto cultural que essa realidade provoca. Isso se verifica sobretudo na grande migração para as cidades, fato que mobiliza de modo especial os jovens.Ficou manifesto as sérias conseqüências e perdas que significam as migrações para as cidades, mas ao mesmo tempo foi constado que existe uma grande capacidade de resistência e resignificar os espaços e reconstruir suas vidas. Sem dúvida este fato pode se constituir como um grito de esperança, apesar de tudo.

AELAPI
Articulação Ecumênica Latino americana de pastoral indígena
Berlin, El Salvador, 2 de dezembro de 2009

 

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