Amazônia: Desmatamento cresce 23% em novembro e faz acumulado de 2022 ser o maior em 15 anos

Pará, Mato Grosso e Amazonas lideram a lista dos estados que mais desmataram.

Por Liege Costa

A derrubada da Amazônia segue batendo novos recordes negativos mesmo durante o período chuvoso na região. Só em novembro, foram desmatados 590 km2, 23% a mais do que no mesmo mês do ano passado, segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

Com isso, o acumulado desde janeiro chegou a 10.286 km2, o equivalente a 3 mil campos de futebol devastados por dia. Essa é a pior marca para o período em 15 anos.

Assim como o acumulado do ano, o desmatamento em novembro foi o pior desde 2008, quando o Imazon implantou seu Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), que monitora a floresta por imagens de satélite.

Bianca Santos, pesquisadora do Instituto, explica que quase metade da derrubada registrada no mês em toda a Amazônia aconteceu no Pará. O estado lidera a lista dos que mais desmataram na região, com 276 km2, o que representa 47% do desmatado.

“No estado do Pará municípios que já vem sofrendo com a pressão intensa da derrubada como Portel, Pacajá e Altamira, foram mais uma vez alvo de desmatadores. Esses que estão cada vez mais se deslocando pra região norte do estado e pra dentro de áreas protegidas. Só em novembro, além da Terra Indígena (TI) Apyterewa, o Pará também foi responsável por mais da metade das dez Unidades de Conservação (UC) que mais foram devastadas por desmatadores ilegais na Amazônia”, disse a pesquisadora.

Mato Grosso e Amazonas também aparecem entre os estados que mais desmataram na Amazônia em novembro.

Bianca comenta que no Amazonas, a destruição da floresta se fez presente no sul do estado e dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Caverna Maroaga e na Terra Indígena (TI) Waimiri Atroari.

“O desmatamento do estado do Amazonas, no mês de novembro ocorreu em regiões já conhecidas pela ocupação de atividades agropecuárias, como na região sul do estado na fronteira com os estados do Acre e Rondônia, principalmente no município de Lábrea. Mas a destruição da floresta também se fez presente próximo à fronteira do estado de Roraima, dentro de áreas protegidas tanto na unidade de conservação estadual APA Caverna Maroaga quanto na Terra Indígena Waimiri Atroari”, destacou a pesquisadora.

A pesquisadora destacou ainda que no Mato Grosso o desmatamento se concentrou em quatro municípios: “No Mato Grosso a presença de atividades agropecuárias é intensa, assim como a supressão na floresta para a instalação de novas áreas de pasto. Os municípios que mais concentraram e derrubaram no mês de novembro do estado foram Porto dos Gaúchos, Colniza, Apiacá e Juara. Localizado justamente próximos da fronteira ali dos estados de Rondônia e do Pará”, detalhou Bianca.

Uma das consequências do aumento do desmatamento na Amazônia, são as queimadas, que seguem na contramão dos compromissos assumidos pelo Brasil de lutar pelo desmatamento zero.

Um exemplo disso vem de Rondônia, que segundo dados do Terras Brasilis do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), foi o quarto estado que mais registrou focos de incêndio na Amazônia, em 2022. Ficando atrás apenas do Pará, Mato Grosso e Amazonas.

No estado, segundo Joaquim* um agente da CPT (Comissão Pastoral da Terra), o desmatamento tem acontecido de maneira ‘silenciosa’. De acordo com ele, os criminosos arrancam a floresta, fazem uma vala, enterram a floresta e depois entram com maquinário destocando essas raízes e plantam soja.

“Um desmatamento sem fogo, é onde fazendeiros entram com maquinário pesado, modelo PC (Pá Carregadeira). Essas máquinas arrancam a floresta e no mesmo tempo que ela arranca a floresta elas também fazem uma vala enterrando a floresta nessa vala e depois vem o maquinário destocando, pessoas contratadas para catar essas raízes também, enterrar essas raízes e plantar soja né? Aí quando vem a fiscalização eles dizem que a área está sendo produtiva, que está produzindo soja, está produzindo milho ou arroz. Então é uma forma de desmatamento silencioso que tem acontecido”, diz o agente.

64% dos registros de desmatamento vieram de áreas privadas ou sob diversos estágios de posse. O restante, de registrado em assentamentos, Unidades de Conservação e Terras Indígenas.

Com a mudança no governo federal, o agente da CPT afirma aguardar que haja fiscalização eficiente dos órgãos públicos e que os desmatadores sejam investigados e punidos.

“A gente espera para 2023 que os órgãos de fiscalização sejam fortificados. Que tenha recurso para conseguir realizar as fiscalizações. Punir as pessoas que estão cometendo os crimes ambientais, principalmente investigar os grupos que estão sendo organizados para invadir as reservas extrativistas principalmente aqueles que adentram as terras indígenas”, finaliza *Joaquim.

*nome fictício a pedido do entrevistado

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