Processo de beatificação de Dom Helder Câmara avança no Vaticano

Em breve, o Arcebispo brasileiro poderá ser declarado Venerável pelo Papa Francisco

O Arcebispo de Olinda e Recife (PE), Dom Fernando Saburido, anunciou na noite terça-feira, 15, que a Santa Sé reconheceu a validade jurídica da documentação da fase diocesana do processo de beatificação e canonização de Dom Helder Câmara (1909-1999). Com isso, poderá ser iniciado, no Vaticano, o processo para o reconhecimento das virtudes heroicas do arcebispo brasileiro, que, assim, poderá ser proclamado Venerável pelo Papa Francisco, etapa que antecede a beatificação. O anúncio foi feito durante o encerramento do 18° Congresso Eucarístico Nacional, realizado na capital pernambucana.

“O vice-postulador da Causa de Dom Helder Câmara, Frei Jociel Gomes, comunica que foi emitido hoje em Roma o decreto de validade jurídica do processo, reconhecendo que todos os atos e toda a documentação feita na Arquidiocese foram aprovados pelo Dicastério para as Causas dos Santos. É um grande passo, pois de agora em diante será nomeado um relator e será elaborada a positio, a fim de que o Papa possa declará-lo venerável”, diz o comunicado de Dom Fernando.

BIOGRAFIA

Dom Helder Camara nasceu em 7 de fevereiro de 1909, em Fortaleza, Ceará. Filho de João Eduardo Torres Câmara Filho, jornalista e crítico teatral, e de Adelaide Pessoa Câmara, professora primária.

Aos 14 anos, ingressou no Seminário da Prainha de São José, em Fortaleza, onde fez o curso preparatório, e depois cursou Filosofia e Teologia. Foi ordenado sacerdote aos 22 anos, sendo necessária uma autorização especial de Roma para a sua ordenação.

Em 11 de abril de 1964, foi nomeado Arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, tendo assumido no dia seguinte. Na ocasião, escreveu: “Ninguém se escandalize quando me vir frequentando criaturas tidas como indignas e pecadoras. Quem não é pecador? Quem pode jogar a primeira pedra? Nosso Senhor, acusado de andar com publicanos e almoçar com pecadores, respondeu que justamente os doentes é que precisam de médico. Ninguém se espante me vendo com criaturas tidas como envolventes e perigosas, da esquerda ou da direita, da situação ou da oposição, antirreformistas ou reformistas, antirrevolucionárias ou revolucionárias, tidas como de boa ou de má fé. Ninguém pretenda prender-me a um grupo, ligar-me a um partido, tendo como amigos os seus amigos e querendo que eu adote as suas inimizades. Minha porta e meu coração estarão abertos a todos, absolutamente a todos. Cristo morreu por todos os homens: a ninguém devo excluir do diálogo fraterno”.

Dom Helder ficou à frente da Arquidiocese de Olinda e Recife até 10 de abril de 1985, quando – por atingir a idade limite de 75 anos – tornou-se Arcebispo Emérito, sendo sucedido por Dom José Cardoso Sobrinho. Dom Helder morreu em sua casa, no Recife, em 27 de agosto de 1999, devido a uma insuficiência respiratória decorrente de uma pneumonia. Seus restos mortais estão sepultados na Igreja Catedral Santíssimo Salvador do Mundo, em Olinda (PE).

O prelado exerceu a função de Secretário Geral da CNBB, inclusive durante o Concílio Vaticano II (1962-1965). Pelo seu trabalho em defesa dos direitos humanos, Dom Helder recebeu vários prêmios internacionais, como o Martin Luther King, nos Estados Unidos, em 1970, e o Prêmio Popular da Paz, na Noruega, em 1974. Ele é autor de 35 livros, incluindo os 13 volumes das Obras Completas, a maioria composta de ensaios e reflexões sobre o terceiro mundo e a Igreja.

PROCESSO DE BEATIFICAÇÃO

O processo de canonização foi aberto em 2015 e teve sua fase diocesana concluída em 2018, com a elaboração de um material de cerca de 1,2 mil páginas, que reúne documentos comprobatórios, laudos, pareceres e testemunhos coletados, encaminhados ao Vaticano para o início da “fase romana” do processo.

Fonte: O São Paulo

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