Seis anos a serviço

Papa Francisco completa seis anos no comando da Igreja Católica. O pastor fica sempre perto das ovelhas.

Por Joaquim Gonçalves

No dia 13 de março de 2013, o então cardeal Jorge Mario Bergoglio era eleito o novo papa, em substituição a Bento XVI, que renunciou, escolhendo o nome de Francisco, o santo dos pobres.

Desde sua apresentação na sacada da Basílica de São Pedro até à missa de abertura de seu ministério petrino, Francisco já deixava vislumbrar um modo de ser Igreja mais perto de Deus e mais perto dos pobres, uma verdadeira Igreja Povo de Deus na qual é possível somar misericórdia com austeridade, solidariedade com verdade. Ele resumiu toda a sua sensibilidade quando disse: “gostaria de uma Igreja pobre e para os pobres”.

A fonte bíblica do seu sim
Estar mais perto do povo não quer dizer ser populista, mas identificar-se mais com ele na experiência de vida e no exercício do ministério. Jesus também começou sua vida nascendo no meio de pastores que faziam parte daquele povo com o mais baixo grau de cidadania. Na segunda etapa, Jesus viveu a normalidade de vida de qualquer cidadão, trabalhando numa profissão específica de quem não era proprietário de área agrícola suficiente para viver. Era carpinteiro de móveis e de arados, encomendados por quem tinha terra e animais. O carpinteiro podia procurar o ferreiro para fazer a parte que lhe cabia, se o patrão não o fizesse. Na terceira etapa, Jesus colocou-se naquela fila na frente de João Batista, na qual as elites não se metiam para não se misturar com gente considerada impura, com o povo que vivia de esmola, nem estar perto da impureza dos soldados mal remunerados. A elite religiosa e civil, revestida de farisaísmo, provavelmente vinha apenas para observar o fenômeno provocado pelo profeta João que também acabou degolado.

Da água do Jordão, depois de se deixar batizar, Jesus se dirigiu ao deserto para experimentar com mais intensidade a dureza da vida de um povo que não encontrava nem água, nem comida suficiente para viver. Decidiu dar um passo importante pelo caminho dos profetas, passando pela solidão do deserto, experimentando o que significa ser marginalizado, e depois falar. O demônio, sabendo bem do que se tratava, não hesitou em ir ao encontro dele para convencê-lo a enveredar por caminhos mais fáceis, mais compensadores e gloriosos. Perante as decisões firmes de Jesus, o demônio não se desiludiu, mas afastou-se sem se dar por vencido.

O sim papal
papa03O papa Francisco, certamente não decidiu do dia para a noite como deveria comportar-se como supremo pastor. Quando seu nome era votado no Conclave, certamente no seu íntimo já se desenhavam os sinais que poderia mostrar sobre o caminho futuro da Igreja. Podemos supor que no espírito dele devem ter parado muitos dos cenários decisivos da vida de Jesus. Depois que disse seu “sim” ao Conclave, sua serenidade se manteve no rosto, nos gestos, nas palavras. Saiu a público inclinando a cabeça para a realidade desafiadora, representada na Praça da Basílica, como quem diz: estou aqui para servir vocês.

A visão que Bergoglio tinha e tem de Igreja certamente não deixou de ser aquela que o converteu quando deixou a vida profissional, decidiu tornar-se jesuíta e viver o que Jesus disse aos seus discípulos: “quem quiser ser grande, faça-se servo de todos”. Essa visão de Igreja se aperfeiçoou e hoje está aí colocada na vida do pastor modelo de todos os pastores. Ele mostra que é possível hoje ser grande, segundo os critérios que Jesus apresentou aos seus discípulos.

Primeiros sinais
O papa não necessitou de um retiro nem da consulta de assessores entre a eleição e sua primeira aparição ao povo da Praça de São Pedro e aos milhões que, ligados aos canais de comunicação, esperavam com grande expectativa pela novidade. O sorriso nos lábios, a mão erguida em forma de saudação, a batina simples, foram os primeiros sinais indicativos do novo rumo, simbolizados pelo nome de Francisco. Mas o gesto da inclinação da cabeça para os espectadores, pedindo-lhes a bênção, foi, sem dúvida, o sinal mais surpreendente. Naquela hora, esse gesto fez tremer os corações e fez lembrar o rei Davi quando tirou a coroa e os vestidos reais e começou a vestir-se como qualquer cidadão em sinal de humildade.

O papa Francisco mostra nestes seis anos de pontificado, com seus gestos, atitudes e palavras, que não veio para fazer discussões ou levantar polêmicas, mas para dar sinais do que vive e em que acredita.
Em todos os encontros que tem, com jornalistas, autoridades civis e religiosas, não se esquece de falar sobre os pobres e em nome deles. O roteiro da vida dele parece ser copiado do roteiro de Jesus.

Opção pelos pobres
Enfim a melhor coerência vem de cima abaixo e de dentro para fora. Na sua homilia da missa na tomada de posse como sucessor de Pedro, ele voltou ao mesmo tema da causa dos pobres, espalhados pelo mundo. E somou essa causa com aquela do respeito pela criação que deve ser tida como fonte de vida para todos, com justiça e verdade.

Partindo da missão que São José assumiu na vida, ele afirmou: “a vocação de cuidar não cabe apenas aos cristãos, tem uma dimensão que é simplesmente humana porque diz respeito a todos. Trata-se de cuidar do toda a criação, de toda sua beleza, como diz o livro do Gênesis e como nos mostrou Francisco de Assis: trata-se de ter respeito por toda a criatura de Deus e pelo meio ambiente, no qual vivemos. É cuidar das pessoas, de todos, de cada pessoa, com amor, sobretudo das crianças, dos anciãos, dos mais fragilizados, aqueles que muitas vezes estão longe do nosso coração. É ter cuidado uns dos outros, na família onde os cônjuges se cuidam mutuamente; como os pais cuidam dos filhos, os filhos com o tempo assumem o cuidado pelos pais. Enfim, tudo é confiado ao ser humano. Essa é uma responsabilidade que cabe a todos. Cuidai dos dons que recebeste de Deus!” Os sinais de trânsito estão colocados pela papa na frente de todos os cristãos e não cristãos. Basta respeitá-los para não impedir o trânsito do Evangelho.

Joaquim Gonçalves, imc, é missionário em São Paulo, SP.

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