Venezuela: eleições presidenciais em abril

Segundo os deputados constituintes a decisão é mais um passo para garantir a paz no país, visto que a oposição se recusa a qualquer diálogo com o governo para dar fim à guerra econômica movida contra a população.

Por Elaine Tavares*

A Assembleia Nacional Constituinte da Venezuela decidiu por maioria antecipar as eleições presidenciais, que deveriam acontecer só no ano que vem, para o mês de abril desse ano. Segundo os deputados constituintes a decisão é mais um passo para garantir a paz no país, visto que a oposição se recusa a qualquer diálogo com o governo para dar fim à guerra econômica movida contra a população.

protestovenezuela2Esse processo violento contra o povo venezuelano começou logo depois da morte de Chávez – que pode ter sido assassinado – quando a oposição decidiu não aceitar que Nicolás Maduro, então vice-presidente, assumisse a presidência. Naqueles dias os venezuelanos não se furtaram a apontar novas eleições e assim aconteceu. Nicolás Maduro foi eleito presidente com a maioria dos votos.

Mas, acostumados a driblar a democracia que tanto dizem respeitar, as lideranças de oposição não aceitaram o resultado, alegando fraude. Uma acusação infundada visto que os observadores internacionais se manifestaram dizendo que o sistema eleitoral venezuelano é um dos melhores do mundo.

Maduro assumiu a presidência, mas desde então tem sofrido uma violenta oposição. Em 2015 os empresários que ainda dominam o sistema de importação e distribuição de produtos - a Venezuela importa quase tudo que consome – iniciaram uma guerra econômica contra a população escondendo os produtos e provocando o desabastecimento. Tem sido um drama cotidiano para as gentes conviver com esse crime de lesa-pátria, que vem sendo atacado pelo governo, mas ainda de forma muito precária, visto que além do boicote interno enfrenta também o império estadunidense, que impõe sanções ao país.

Não bastasse o crime de esconder produtos, a oposição iniciou violentos protestos de rua financiando e incentivando grupos de pessoas para atacar a população e as forças nacionais. Nas já conhecidas guarimbas mais de 100 pessoas perderam a vida. O governo enfrentou mais esse revés e conseguiu vencer. De qualquer forma as ações de desestabilização continuaram, inclusive com a formação de grupos armados, como o caso do policial Óscar Pérez que chegou a bombardear prédios públicos. Pérez acabou morto semanas atrás, ainda comandando o grupo em ação contra o governo.

Durante todo esse tempo, desde a eleição até agora, o presidente Nicolás Maduro tem chamado os empresários e os líderes da oposição para mesas de diálogos, mas eles se recusam terminantemente a participar. Isso mostra que a intenção da oposição não é outra senão a derrubada do governo. Não há intenção de negociar para o bem da população. É só uma questão de poder. Querem de volta o controle do país e da sua riqueza maior, o petróleo, que antes servia para enriquecer uma minoria e hoje financia as políticas públicas do governo.

A oposição é enfática: quer a saída de Maduro. Neste xadrez, agora o presidente Maduro coloca a oposição em xeque: que seja a população a tomar a decisão mais uma vez. Por isso, aceitou de bom grado a antecipação da eleição, colocando na mão dos venezuelanos a decisão sobre se o bolivarianismo deve continuar governando e aprofundando as medidas de soberania popular, ou se o país volta para a mão da elite minoritária.

Para um dos líderes da oposição, Henrique Capriles, a decisão da Assembleia Constituinte é mais uma forma de excluir a oposição do processo eleitoral. Ele alega que antecipar é jogar as forças opositoras num afogadilho. Mas, se a oposição vem atuando firmemente na desestabilização do governo, não estaria preparada para enfrentar as urnas?

O fato é que nada que o governo de Maduro proponha será aceito pela oposição. Não há qualquer possibilidade de diálogo ou acertos visando garantir a tranquilidade da população. A oposição quer a tomada do governo, mas com medidas de força ou depois de desgastar até o último suspiro o governo bolivariano. Enfrentar uma eleição ainda esse ano, depois das vitórias acachapantes do bolivarianismo nos governos estaduais e municipais, pode impor nova derrota à oposição.

Portanto, para eles, eleição não é negócio. A volta da elite venezuelana ao poder só poderá se dar no golpe violento, portanto, pode ser que os líderes opositores se recusem a participar do processo eleitoral, acusando Maduro de ditador mais uma vez. Capriles já apontou que não haverá chance para a oposição se não houver unidade entre todos os líderes. E igualmente declarou que há pouco tempo para montar uma campanha.

Agora novas disputas devem acontecer na Venezuela. Membros do Conselho Nacional Eleitoral já estão questionando a decisão da Assembleia alegando que apenas o CNE pode definir cenários eleitorais, pois há toda uma mecânica de preparação que não pode ser atropelada.

Assim, está aberta mais uma etapa de longas discussões e debates sobre os destinos da Venezuela.

*Elaine Tavares é jornalista.

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