Ausência dos pais pode levar jovens às drogas, diz psicólogo

Especialista Carlos Soares aponta fatores que levam os jovens ao mundo das drogas. Veja também números oficiais sobre uso de drogas no mundo

Por André Cunha
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Carlos Soares / Foto: Arquivo pessoal

“Um dos grandes fatores para o uso de drogas pelos jovens está na ausência dos pais, isto é, deixam os filhos serem criados pelo mundo lá de fora, não estando presentes em diversas situações de dúvidas, carências e maior atenção”. É o que afirma o psicólogo Carlos Soares, especialista em Terapia Cognitiva, Comportamental, Orientação Vocacional e Profissional e Psicologia da Educação.

Nesta semana em que se promove o combate às drogas no Brasil, discute-se, entre outros temas, a origem do uso de drogas por parte dos jovens que, segundo pesquisas, iniciam cada vez mais cedo a utilização de entorpecentes. Para o especialista, a responsabilidade dos pais é grande, embora não seja o principal fator, e uma das ações é passar mais tempo com os filhos, não entregando à escola a educação que lhes cabe.

“Como diz o professor Cortella, a escola ‘escolariza’, isto é, ensina a ler e a escrever; quem educa são os pais, sobre o que é certo e errado, limites, etc. Quando os pais são presentes, os filhos não terão problemas em encarar o mundo e saber o que é bom e o que é ruim para si mesmos”, afirma.

Outros fatores

Soares também acredita que há deficiência nas campanhas de prevenção por parte das escolas e organizações sociais que poderiam, segundo ele, abordar o assunto “drogas” utilizando-se de ferramentas como a cultura e o esporte, ou mesmo de palestras e oficinas. O objetivo deveria ser levar informação “complementar” aos jovens, a respeito dos efeitos e causas do uso de drogas, mostrando como pode se tornar um dependente químico, as sequelas, os problemas de saúde causados pelo uso dessas substâncias, e etc.

“O fato é que o poder público não pode se responsabilizar, sozinho, em levar essa informação aos jovens. A família é de fundamental importância na vida dos jovens para educá-los e informá-los sobre as drogas”, disse o especialista.

Dados sobre o uso de drogas

Em pesquisa divulgada no ano passado, o Centro de Referência Estadual em Álcool e Drogas (Cread) informou que mais de dois terços dos 1.976 dependentes químicos, que buscaram ajuda, experimentaram drogas entre 12 e 17 anos. O álcool foi a porta de entrada para 37%. A entrada precoce no vício se confirma com os dados do Ministério da Saúde, que aponta que mais da metade dos adolescentes experimenta bebida alcoólica antes dos 16 anos. Os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, do Ministério da Saúde, que, em 2012, constatou que 66,6% dos adolescentes – entre 13 e 15 anos – experimentaram bebida alcoólica alguma vez na vida.

Por ser legalizado, o álcool chega fácil aos adolescentes e jovens, embora não devesse ser fornecido a menores, conforme proíbe o artigo 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Segundo Carlos Soares, não existe uma pesquisa que aponte o álcool como iniciador oficial dos jovens no mundo das drogas, mas é o que tudo indica.

Para o especialista, o grande problema das drogas na vida dos jovens é que estas continuam sendo incentivadas pela sociedade em eventos festivos, sociais, como se, para fazer parte desse evento, fosse necessário beber ou consumir alguma droga.

“Os jovens fazem o uso de álcool como algo necessário a ser feito para ter uma ‘aceitação’ entre os amigos. Creio que falta informação a esses jovens sobre os diversos riscos que o álcool e outras drogas podem causar à saúde”, disse o especialista.

As drogas em números
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A prevalência do uso de drogas continua estável em todo o mundo, de acordo com o Relatório Mundial sobre Drogas de 2015 do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC).

Estima-se que um total de 246 milhões de pessoas – um pouco mais do que 5% da população mundial com idade entre 15 e 64 anos – tenha feito uso de drogas ilícitas em 2013. Cerca de 27 milhões de pessoas fazem uso problemático de drogas, das quais quase a metade são pessoas que usam drogas injetáveis (PUDI). Cerca de 1,65 milhão de pessoas que injetam drogas estavam vivendo com HIV em 2013.

Homens são três vezes mais propensos ao uso de maconha, cocaína e anfetamina, enquanto que as mulheres são mais propensas a usar incorretamente opióides de prescrição e tranquilizantes.

A cannabis é a droga psicoativa ilícita mais usada no mundo, com mais de 180 milhões de usuários globalmente. A estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) é de que haja 181,8 milhões de usuários de cannabis — em suas preparações mais comuns, como maconha e haxixe — com idade entre 15 e 64 anos no mundo.

Somente na Europa, 11,7% dos jovens (com idade entre 15 e 34 anos) usaram cannabis no ano passado, percentual que sobe para 15,2% no grupo entre 15 e 24 anos. Do total de usuários globais, estima-se que 13,1 milhões sejam dependentes.

No Brasil, a estimativa da agência é que 2,5% na população adulta usou cannabis nos últimos 12 meses, percentual que sobe para 3,5% entre os adolescentes — taxa semelhante a de outros países da América Latina.

Fonte: Canção Nova
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