??Busquem o Direito, socorram oprimido, então venham?? (Is. 1, 17)

João Pedro Baresi *

Aconteceu no dia 1º de maio, na Catedral da Sé, em São Paulo, logo depois da missa e do convite do cardeal a ficar para assistir à exibição de um coral. Alguns moradores de rua foram intimados, por certos zelosos militarizados, a liberar os bancos. Logo foi colocado o aviso: "Reservados". Repetição perfeita do que acontecia em algumas primeiras comunidades cristãs, como documenta a carta de Tiago.
Aí me veio à mente uma cena de anos atrás. Era uma noite da semana e a catedral estava lotada não para a Missa, mas para o encontro com dom Paulo e seus auxiliares. Estavam todos eles sentados no presbitério, vestidos "como gente". A conversa ia desenrolando quando um senhor pobre sem camisa subiu até onde estavam os bispos e começou andando de um lado para outro. Ninguém se mexeu para tirá-lo de lá. Quem deu um jeito foi o bom dom Luciano. Mandou vir uma camisa e uma cadeira O homem se cobriu e foi sentar ao lado de dom Luciano, na mesma linha dos bispos. Ficou o tempo todo, tranqüilo e até um pouco solene.

Alguns dias depois de 1º de maio, vi acontecendo a limpeza da escadaria. Parei para falar com os guardas metropolitanos em ação. Perguntei de quem tinha vindo a ordem. Gentilmente desconversaram. Mas, dava para entender que havia um acordo entre padres e prefeito.
Então, me lembrei de um fato bem mais antigo, mais ou menos no ano 250 d.C. É o relato do martírio de São Lourenço. Quando o imperador Valeriano impôs a Lourenço de entregar-lhe os tesouros da igreja de que tinha ouvido falar, ele reuniu diante do imperador um grupo de pobres e exclamou: "Eis aqui os nossos tesouros que nunca diminuem e que podem ser encontrados em toda parte".
Atenção! Pobre é tesouro sagrado da Igreja. Deve ser tratado com todos os cuidados. Pelo menos como a Eucaristia. Em todo caso, mais do que qualquer imagem de santo. Ninguém nega que é preciso certa disciplina, para evitar coisas desagradáveis dentro e na frente da igreja. Mas isso não pode ser confundido com a operação limpeza da prefeitura, melhor definida como higienização. Há um abismo, entre a maneira evangélica de olhar os pobres e a maneira de olhar de um político a serviço da classe abastada.

Pra terminar, convido a ler com atenção o evangelho em:
Mt 5, 20-24 O assassinato começa com o desprezo da pessoa. É impossível não ver ligação entre as matanças de moradores de rua e o desprezo com que são normalmente tratados. Você não pode entrar na igreja sem antes fazer as pazes com quem tem algo contra você.
Mt 25, 31-46 A maneira de tratar os irmãos pequeninos de Jesus será o critério do julgamento final.

* Padre João Pedro Baresi, CRB/SP Equipe VRI (Vida Religiosa Inserida) e JUPIC (Justiça Paz e Integridade da Criação- Irmã Doroti).

Convite: quinta feira, 20 de maio, às 9.00 h, na escadaria da Sé, concentração para denunciar desprezo e massacres do Povo de Rua. A seguir, passeata até a Câmara Municipal.

Fonte: João Pedro Baresi

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