Palavra de Abertura - 2º Congresso Missionário Nacional (2°CMN)

Daniel Lagni *

2º Congresso Missionário Nacional (2°CMN)
Aparecida, SP, 1° a 4 de maio de 2008

1. O Contexto

Discípulos-Missionários de Jesus Cristo, para que n'Nele Nossos Povos Tenham Vida: "Eu Sou o Caminho a Verdade e a Vida" (Jo 14,6). Ser discípulos, para fazer discípulos. Há um profundo e estreito envolvimento da Missão com o discipulado. O foco da Missão não é apenas sair, partir, mas ser e fazer discípulos.

Quando a Igreja no Brasil convoca suas forças vivas para celebrar seu 2° Congresso Missionário Nacional, sinaliza que algo novo e determinante está acontecendo. Há aqui uma chave de leitura das mais consistentes: a eclesialidade da Missão aponta para as exigências de uma ação evangelizadora, que seja toda ela iluminada pela ação missionária. A dimensão missionária é parte integrante do caminho evangelizador da Igreja.

"A conversão pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária" (DA 370). É preciso reconhecer que o itinerário missionário da Igreja no Brasil tem se fortalecido. Por outro lado, ainda é frágil nossa consciência, ação e presença no âmbito da Missão além-fronteiras, universal.

Já em 1979, Puebla convocava-nos: "Finalmente, chegou para a América Latina a hora de intensificar os serviços mútuos entre Igrejas particulares e de projetar-se além de suas próprias fronteiras, ‘ad gentes'. É verdade que nós mesmos necessitamos de missionários. Mas devemos dar de nossa pobreza" (DP 368).

Hoje, 28 anos depois, a 5ª Conferência do Celam, realizada aqui em Aparecida, de 13 a 31 de maio do ano passado, volta a questionar-nos, quando diz: "O mundo espera da nossa Igreja latino-americana e caribenha um compromisso mais significativo com a Missão universal em todos os Continentes" (DA 376)"; "Os discípulos, que, por essência, são também missionários, em virtude do Batismo e da Confirmação, formamo-nos com coração universal" (DA 377); "A Missão do anúncio da Boa-Nova de Jesus Cristo tem destinação universal" (DA 380).

Ainda mais, recorda-nos o Papa Bento XVI que a Missão "ad gentes" se abra a novas dimensões: "O campo da Missão ‘ad gentes' tem se ampliado notavelmente, e não é mais possível defini-lo baseando-se apenas em considerações geográficas ou jurídicas. Na verdade, os verdadeiros destinatários da atividade missionária do Povo de Deus não são só os povos não-cristãos e das terras distantes, mas também os campos sócio-culturais, e sobretudo, os corações" (DA 375).

As Diretrizes Gerais

Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil para os anos 2003 a 2006 retomaram e reafirmaram a dimensão universal da Missão, ao dizer: "Nossas comunidades eclesiais, apesar de sobrecarregadas de tarefas e muitas vezes contando com escassos recursos, devem ‘dar de sua pobreza', também para a evangelização ‘ad gentes', ou para as Missões em outras regiões e além-fronteiras. Uma Igreja local não pode esperar atingir a plena maturidade eclesial, e, só então, começar a preocupar-se com a Missão além do seu território. A maturidade eclesial é conseqüência, e não apenas condição, de abertura missionária" (DGAE 138). E mais: "No anúncio do Evangelho .../... os cristãos realizam sua vocação missionária e encontram o caminho para descobrir a dimensão missionária universal da Igreja e a responsabilidade de todos para com a Missão ‘ad gentes', além-fronteiras" (DGAE 94).

Apesar dessa tomada de consciência e dos avanços feitos e compromissos assumidos, há um forte clamor, um grito, uma convocação dirigida à Igreja no Brasil. À luz da Palavra de Deus, dos documentos do Magistério, e, dentre eles, o mais recente, o Documento de Aparecida, continuamos a ser chamados a projetar-nos para uma abertura e compromisso missionário além de nossas fronteiras, "ad extra", para fora, universal.

Historicamente, todos o sabemos, somos uma Igreja que muito recebeu... É chegada a hora de romper de vez com os tímidos e estreitos círculos de uma consciência e prática missionária doméstica, por mais que sejam necessárias e inquietantes. A Missão é mais que nunca Missão para a humanidade. A Igreja é uma comunidade missionária para a humanidade. O mundo é nosso campo de Missão, nos novos areópagos da pós-modernidade e da era da globalização. Ainda é muito limitada a presença, ação e serviço missionário da Igreja no Brasil pelo mundo. Temos reais dificuldades em ver além de nossos horizontes, devemos reconhecê-lo.

A Igreja discípula-missionária realiza-se, portanto, na Missão universal, na fidelidade a Deus e ao Evangelho. Toda reflexão teológica e missiológica aponta hoje para uma Missão que leva a estar muito em Deus e com Deus, e muito com os seres humanos; uma Missão que seja lugar de diálogo e encontro, diálogo com os valores das culturas e em sintonia com a humanidade. Missão "ad gentes" é equivalente a Missão para a humanidade.

As primeiras comunidades cristãs não concebiam viver o Evangelho de Jesus, sem a Missão; não existiam só para si, mas para o mundo, para a sociedade na qual estavam inseridas (Cf. Mc 16,19-20).

2. O 2º Congresso Missionário Nacional

Convocados e delegados por nossas Igrejas Particulares, estamos aqui em Aparecida, junto à nossa Mãe e Padroeira, para celebrar o 2º Congresso Missionário da Igreja no Brasil, de 1° a 4 de maio. Para reafirmarmos a caminhada, aprofundarmos nosso ser e agir missionários, articularmos nossas forças missionárias, pensamos na realização de um Congresso Missionário Nacional que fosse um tempo forte de reflexão, oração, testemunho, encontro, partilha e propostas entre os responsáveis pela dimensão missionária em âmbito nacional (Comina), Comires - com seus 17 Regionais -, dioceses, organismos e instituições missionárias presentes e atuantes no país, em vista da contribuição da Igreja no Brasil para a realização do CAM 3-Comla 8, a realizar-se em Quito (Equador), de 12 a 17 de agosto, ao qual enviaremos 130 delegados.

O 2º Congresso Missionário Nacional, com seu lema, Igreja no Brasil: Escuta, Segue e Anuncia!, juntamente com o tema central, Do Brasil de Batizados ao Brasil de Discípulos-Missionários Sem-Fronteiras, leva-nos a lançar um duplo olhar: para o passado, como forma de resgatar a história e as memórias de uma longa trajetória da Igreja peregrina e missionária em nosso país, e para, mais recentemente, resgatar as memórias do 1º Congresso Missionário, realizado em Belo Horizonte, MG, de 17 a 20 de julho de 2003, sob o lema Igreja no Brasil, Tua Vida é Missão!, no qual aprofundamos o tema Enviados aos Confins do Mundo para Anunciar o Evangelho da Paz a partir da Pobreza, da Pequenez e do Martírio.

O Conselho Missionário Nacional (Comina), que congrega os organismos e instituições missionárias do Brasil, após ter ouvido as bases e as forças missionárias, considerou que era chegada a hora de resgatar a memória, identificar desafios, reavivar o ardor e a vida missionária, para abrir novas perspectivas de reflexão, compromisso e testemunho. A Igreja de nosso país é convocada a participar e a comprometer-se para o amadurecimento de nossa vocação missionária.

Depois, partindo desses dois eventos nacionais, que nos mobilizam e nos projetam para os caminhos da Missão, ergueremos confiantes nosso olhar para o futuro, ao prepararmo-nos para celebrar o CAM 3-Comla 8, cujo lema é América com Cristo: Escuta, Aprende e Anuncia!, ligado ao tema A Igreja em Discipulado Missionário.

Aqui reunidos em nome do Senhor ressuscitado, na força do Espírito Santo que o Pai nos enviou por meio do seu Filho, damos início ao nosso 2º Congresso Missionário Nacional. Carinhosamente agradecemos a todos os que de um modo ou de outro nos brindam com este tempo precioso de animação missionária nacional. Particularmente, nossa gratidão à Arquidiocese de Aparecida e ao Santuário Nacional de N.S. Aparecida, nossos anfitriões. Agradecimento especial à Comissão Executiva do Congresso, ao Comina, Comires, às equipes de serviço e a todos vocês que aqui estão para fazer acontecer este Congresso.

3. Os Promotores do Congresso

O 2º Congresso Missionário Nacional é uma iniciativa e realização do Conselho Missionário Nacional (Comina), da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a qual articula e congrega a Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial, das Pontifícias Obras Missionárias (POM), da Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), do Centro Cultural Missionário (CCM), do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), dos Leigos e Leigas Missionários, dos Institutos e Organismos Missionários. Tudo isto, em estreita comunhão e articulação com os Conselhos Missionários Regionais (Comires), diocesanos (Comidis) e paroquiais (Comipas). Esta estrutura que parte do Comina e chega, ao passar pelos Comires e Comidis, até os Comipas, é expressão do compromisso colegiado e explícito da Igreja no Brasil com a Missão universal.

4. Os Participantes

O 2º Congresso Missionário Nacional foi pensado e organizado para a participação de cerca de 500 delegados de todo o Brasil. É pouco, se considerarmos as dimensões do nosso país. Este número, porém, identifica e caracteriza o Congresso como momento de encontro, reflexão, partilha, celebração e envio. Os delegados são pessoas que estão na linha de frente da articulação e animação missionária dos Comires, Comidis e de Instituições e Organismos Missionários. Os 17 Regionais da CNBB, por meio do seu Comire, receberam um número proporcional de vagas, a fim de compor um grupo de participantes de acordo com a própria realidade eclesial.

Os próprios critérios para o envio dos delegados convidam a escolher pessoas que possam debater e dar contribuições significativas com os temas propostos, de modo que o resultado da reflexão conjunta seja representativo da caminhada missionária dos diversos grupos locais. Daí que a indicação e a inscrição dos delegados pretendeu pautar critérios bem definidos, além de garantir uma composição equilibrada entre presbíteros, religiosos, leigos, representantes de instituições e organismos e bispos presidentes dos Conselhos Missionários Regionais (Comires).

O 2º Congresso Missionário Nacional, nunca teve a pretensão de convocar toda a Igreja Missionária do Brasil. Mais pessoas poderiam e gostariam de estar aqui. Graças às luzes do Concílio Vaticano II, a Missão tem se tornado o ponto de convergência da vida e da identidade de toda a Igreja, que o Concílio afirmou ser, "por sua natureza, missionária" (AG 2). Mas na seqüência, em fina sintonia com os dois Congressos Missionários, nacional e continental, as dioceses e paróquias do Brasil são desafiadas e convidadas a promoverem eventos desta natureza, para envolver na animação missionária suas comunidades, famílias, jovens e crianças.

Encontramo-nos aqui reunidos enquanto representantes dos organismos e instituições que assumem a dimensão universal da Missão, que animam nossas comunidades para a abertura, o diálogo e a solidariedade além-fronteiras e que optam claramente pela Missão universal como o "maior de todos os desafios da Igreja" (RM 40). Estamos convictos e cremos que, se a nossa Missão estiver geográfica, cultural, eclesial, étnica e socialmente limitada e fechada em nossas fronteiras, será tão excludente quanto a globalização.

5. O Programa do Congresso

Este Congresso quer ser um processo: tem um antes, um agora e um depois. É um tempo para abrirem-se novos caminhos, tempo de encontro, de partilha, de reflexão e de envio. Com certeza, o paradigma dos discípulos de Emaús atualiza hoje para nós seu significado mais abrangente. Chegamos a Aparecida - lugar de encontro e ponto de convergência de milhares de peregrinos -, para, juntos, com nossa Mãe e Padroeira, depositarmos nossas esperanças e desafios, avanços e conquistas, luzes e trevas, projetos e protagonistas da vida missionária no Brasil. A memória, a herança e a trajetória missionária leva-nos obstinadamente a retomar nossos projetos e a relançar a Missão. Este Congresso deseja ser para a Igreja Missionária no Brasil um tempo de graça, um kairós, que leve todos a sermos discípulos-missionários de Jesus Cristo.

A programação do 2º Congresso Missionário Nacional, de forma pedagógica, foi pensada e organizada em quatro etapas, sincronizadas entre si: o Dia do Caminho, o Dia do Encontro, o Dia da Partilha e o Dia do Envio.

Hoje, 1º de maio, nesta sessão de abertura, gostaríamos lembrar que o Caminho feito para chegar até aqui é uma experiência espiritual e mística de fundamental importância na Missão. Somos um povo peregrino, caminhante, na simplicidade e na pobreza, no provisório e na busca do definitivo. O missionário vive a espiritualidade do caminho. Sejam bem-vindos a Aparecida. Mas este não é um ponto de chegada. É, sim, de partida. Os missionários/as do Reino estão sempre em caminho. Jesus dá-se a conhecer caminhando (cf. Lc 24,15), justamente porque Ele é o Caminho (Jo 14,6).

Amanhã, dia 2 de maio, será o Dia destinado ao Encontro, à reflexão. Como Jesus, ao aproximar-se dos discípulos de Emaús, aquece seus corações, explicando, a partir das Escrituras, os fatos sobre os quais estavam falando, também nós buscamos compreender a nossa caminhada missionária à luz da Palavra de Deus. Para tal, contamos com a colaboração de nossos assessores, Pe. Paulo Suess, teólogo da Missão, Pe. Agenor Brighenti também teólogo e o Fr. Santiago Ramirez, da Comissão Teológica do CAM 3-Comla 8. Seguiremos depois para os "mutirões", com nove diferentes temas para aprofundarmos nos grupos e plenários.

No dia 3 de maio, sábado, celebraremos o Dia da Partilha. Acolheremos alguns de nossos missionários/as, ouvindo os seus testemunhos de vivências e projetos missionários.

Enfim, o domingo, que será o Dia do Envio missionário. O encontro com Jesus ressuscitado no caminho revigora o ardor dos discípulos, que partem imediatamente para anunciar a Boa-Nova que seus olhos viram e seus ouvidos ouviram.

Nosso 2º Congresso Missionário Nacional tem como objetivo geral "Assumir a nossa ‘natureza missionária', guiados pelo Espírito, a serviço do Reino, à luz do Documento de Aparecida, em vista do CAM 3-Comla 8". Desejamos fazer uma experiência de fé e de Igreja, a partir do Discipulado, de Pentecostes e da Evangelização, isto é, uma Igreja como comunidade discípula de Jesus; uma Igreja como comunidade guiada pelo Espírito; uma Igreja como comunidade missionária para a humanidade.

Conclusão

O 2º Congresso Missionário Nacional propõe-se, portanto, traçar o perfil do Projeto Missionário Brasileiro. Será para nossa Igreja um ponto de partida, deste evento de âmbito nacional, e preparação já próxima para o Congresso Missionário Continental. Como dissemos antes, as dioceses e as paróquias de todo o Brasil poderão depois promover eventos semelhantes, para animar missionariamente todas as comunidades cristãs.

Faz falta reavivar em nós o entusiasmo das origens do Cristianismo, deixando-nos impregnar pelo ardor da pregação dos Apóstolos depois de Pentecostes. Como Paulo, é preciso dizer: "Ai de mim, se eu não evangelizar!" (1Cor 9,16). Esta paixão suscitará na Igreja novo vigor missionário. O mandamento missionário acompanha-nos ao 3° Milênio cristão, convidando-nos a ter o mesmo entusiasmo dos primeiros cristãos (cf. NMI 40-58). E, retomando a Encíclica Redemptoris Missio, lembramos que "é dando da fé, que ela se fortalece".

Confiamos à Trindade Santa, a Maria, que aqui invocamos como N.S. Aparecida, Padroeira do Brasil, este nosso 2º Congresso Missionário, e, sob a proteção dos Padroeiros da Missão Universal, São Francisco Xavier e Santa Teresinha do Menino Jesus, declaramos aberto e inaugurado o 2º Congresso Missionário Nacional.

Igreja no Brasil: Escuta, Segue e Anuncia!

Aparecida, 1º de maio de 2008

* Pe. Daniel Lagni, diretor das POM e presidente Executivo do Congresso

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