Domingo de Ramos, o grito da vitória antes de vencer a batalha

Joaquim Gonçalves

Começamos a Quaresma com a marca da cinza na cabeça, nos convidando para um exame espiritual como se fosse uma ressonância magnética que detecta as mais pequenas anomalias da fé. Neste Ano da Fé, esse exame e os respectivos remédios a serem aplicados são indispensáveis para recuperar o estado de discípulos e missionários de que o mundo de hoje precisa.

Outro sinal importante na entrada da Grande Semana da Páscoa é o ramo verde erguido na mão, caminhando e cantando numa romaria repleta de mistério. Certamente queremos simbolizar que fomos até ao deserto para experimentar a sede e a aridez e agora saímos dele, com um ramo verde em sinal de vitória: vencemos a dureza e a secura, e entramos numa terra prometida onde corre leite e mel, doçura, amor, alegria, esperança, confiança total.

Apesar dessa simbologia muito bonita e significativa, nem tudo está resolvido na vida. A simbologia tem que marcar nosso interior. Se ela ainda estiver fora deve mergulhar ao mais profundo de nossa fé. Para manter o ramo erguido na mão como sinal de vitória, depois da derrubada de inimigos interiores, é necessário manter-se fiel, obediente, vigilante, porque os lobos devoradores não vão desistir de cercar quem recuperou a liberdade e não tem medo de se expor. Quem nos diz para não ter medo é Jesus.

Esta luta que abraçamos para poder seguir Jesus está simbolizada numa arma que não derruba ninguém, e não deixa derrubar a casa construída sobre a rocha: essa arma é a cruz. A cruz e o túmulo vazio têm que estar sempre juntos. A cruz da decepção e o túmulo da esperança.

Jesus está sempre no meio de nós como aquele que serve. Por isso que ele diz: "desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco" (Lc 22,15). Ardentemente significa que era um amor amadurecido, apaixonado, decidido, total.

Trata-se de um amor profundamente humano, porque ele se fez em tudo igual a nós, exceto no pecado (cf Fl 2,6-11). Desde o nascimento até à morte, a pequenez foi seu paradigma de vida. Não gritou, não reclamou, simplesmente pediu que o Pai o livrasse do cálice do sofrimento que o esperava, se fosse possível. Possível não era porque o amor já incluía um cálice de vinho novo.

Ele veio para servir e dar a vida (cfr Mc 10,45) para muitos e por todos. Servir na gratuidade, sem remuneração, sem retorno. Essa visão da vida é muito difícil no contexto de uma cultura centralizada no Eu, preocupada com êxitos a qualquer custo. Embora tenhamos a sensação de que Deus silencia, a verdade é que seu silêncio fala profundamente quando buscamos o sentido verdadeiro para nossa existência. E o nosso silêncio também é indispensável para entender o silêncio dEle.

Fonte: Revista Missões

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