Soem livres os tambores

Egon Heck *

Criação da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos.

Fecharam uma porta, mas abrimos uma janela. Vamos romper o muro com que estão tentando blindar a Comissão de Direitos Humanos na Câmara dos Deputados.

O Congresso, neste início de outono, voltou a se agitar. O auditório Nereu Ramos lotado, (mais de 300 pessoas) foi palco de um momento de resistência e indignação, num ato carregado de emoção, desabafos e manifestações populares. Cientes de que esse é um momento difícil, quando os setores conservadores impõem mais um retrocesso, fruto de negociações e acordos partidários que achincalham essa casa do povo, impondo na presidência de uma das comissões mais importantes da Câmara dos Deputados, alguém que é manifestamente contrário aos direitos humanos. Em tom de ironia um parlamentar se referiu a Feliciano, com uma citação bíblica onde Jesus diz "Eu sou o caminho" e Feliciano complementa "eu sou o pedágio. Passa o cartão e a senha".

Quando soaram os tambores dando por instalada a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos, com a esperança de que seja breve, pois os dias de Feliciano em frente à Comissão de Direitos Humanos estão contados.

Os povos indígenas e seus aliados também estiveram presentes, entregando um manifesto onde reafirmam como as demais entidades da sociedade civil que ‘vem manifestar sua indignação e repúdio diante da ocupação da presidência da CDH da Câmara dos Deputados por Marco Feliciano...", cujo perfil de manifesta xenofobia e racismo também teria se manifestado de forma colonialista dizendo "que existe muita terra para poucos índios".

Já no final do ato foi anunciada a morte do grande cantor Emilio Santiago, que sofreu na pele o racismo e discriminação por ser negro e homosexual, lembrou com carinho um dos parlamentares. Um minuto de silêncio ao lutador cuja voz agora irá soar mais alto.

Feliciano vai cair
As manifestações continuaram dentro e fora do plenário 9, onde houve mais uma tentativa de realizar uma sessão de trabalho, mas que acabou sendo cancelada em função das manifestações da sociedade civil dentro e fora do plenário.

Houve inclusive agressões físicas a uma das manifestantes no momento em que foram pedir ao presidente da Câmara um posicionamento a respeito desse fato que envergonha o Congresso, num flagrante retrocesso com relação aos direitos conquistados na Constituição de 1988. No texto se unem aos movimentos e organizações sociais que reivindicam a renúncia do deputado "Feliciano da Presidência da Comissão de Direitos Humanos e a recomposição da mesma com parlamentares realmente comprometidos com a defesa da vida e da dignidade dos setores secularmente marginalizados, explorados e discriminados na sociedade brasileira"

Buscando novos espaços
Os povos indígenas, através da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil e do Cimi também levaram as preocupações e desafios dos povos indígenas, particularmente com relação à tramitação de iniciativas anti indígenas no Congresso, à Comissão de Legislação Participativa. A deputada Luiza Erundina acolheu e reforçou a proposta de que essa comissão faça um levantamento da realidade dos povos indígenas e promova um seminário de um dia para aprofundar a questão nesta Comissão.

* Egon Heck é do secretariado nacional do CIMI. Povo Guarani Grande Povo.

Fonte: Hegon Heck / Revista Missões

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