Inaugurado o Mutirão de Comunicação em Porto Alegre

Jaime C. Patias *

A cerimônia de abertura oficial do Mutirão de Comunicação América Latina e Caribe - Muticom, realizada na noite do dia 03 de fevereiro no auditório da PUCRS, em Porto Alegre, RS, contou com a presença de diversas autoridades e convidados. Compuseram a mesa, entre outras autoridades civis e eclesiásticas, dom Dadeus Grings, arcebispo de Porto Alegre e a governadora do Estado, Yeda Crusius. Antes das palavras oficiais, a Orquestra de Flautas Villa Lobos, de Porto Alegre executou algumas composições populares.

A Conferência de abertura foi proferida por dom Cláudio Maria Celli, presidente do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais do Vaticano. Na sua exposição o bispo lembrou que "somos chamados a sermos sal e luz do mundo para promover uma sociedade de justiça e verdade. Somos muito mais que uma rede. Somos um corpo vivo animado pelo Espírito Santo, e nenhum membro do corpo da Igreja deve ser esquecido", recordou. O conferencista citou também vários documentos da Igreja e a Mensagem do Papa Bento XVI para o Dia Mundial das Comunicações deste ano sobre as comunicações no mundo digital: os novos medias a serviço da Palavra. Disse ainda que "este Mutirão reúne organismos que favorecem o trabalho em rede", aproveitando para anunciar o mais recente portal, (www.intermirifica.net), criado para favorecer os vínculos de conhecimento mútuo entre os Meios de Comunicação na Igreja. Dom Celli recordou ainda que "a primeira tarefa dos comunicadores é a de escutar, para depois ser um comunicador apaixonado pela palavra", destacou.

Três são os eixos temáticos que norteiam as discussões no Mutirão de Comunicação que se estende até domingo, dia 7: a) Novos cenários políticos e sociais latino-americanos e os processos de comunicação; b) Economia e comunicação na era digital; c) Comunicação no diálogo das culturas. Os temas são debatidos em conferências, painéis, seminários, oficinas e mesas-redondas.

Após a Conferência de abertura iniciaram os debates acadêmicos em formato de programa televisivo (talk show) sobre o tema central "Processos de comunicação e cultura solidária". A mesa foi composta pelo cubano Ismael González González, coordenador da ALBA Cultural, ex-vice-ministro de Cultura e ex-diretor da RTV cubana; Fernando Checa Montúfar, diretor do CIESPAL - Centro Internacional de Estudos Superiores de Comunicação para a América Latina; Beto Almeida, Jornalista da TV Senado, diretor da Telesur/Brasil, presidente da TV Cidade Livre (canal comunitário de Brasília), articulista do jornal Brasil de Fato e Carlos Augusto dos Santos, Ministro de Comunicação do Paraguai. Os mediadores do debate foram os jornalistas Lauro Quadros (Brasil) e Washington Uranga (Argentina).

Falando sobre a democratização dos meios de comunicação, Fernando Checa Montúfar destacou que alguns governos na América Latina trabalham pela sua democratização citando como exemplo o Uruguai, a Venezuela e o Paraguai. "A melhor lei da comunicação é aquela que não existe. Por isso estamos construindo e ampliando esse processo", afirmou Fernando. Para ele nos referimos a uma comunicação mais dialogal, um processo de múltiplas vozes, onde há reconhecimento de processos. Normalmente a preocupação é dar voz a quem não a tem, pois a maioria silencia, omitindo-se de comunicar.

Os debatedores esclareceram que a democratização dos Meios de Comunicação passa pela democratização de outros setores da sociedade, numa mudança de modelo. A América Latina está vivendo muitas mudanças políticas e isso levará à mudanças na comunicação.

Carlos Augusto dos Santos lembrou que há uma geração digital nativa. "Esta geração é rápida e não pode haver nova tecnologia que gere democracia se não existir proteção cultural ao uso às novas tecnologias. Esse é um dos pontos críticos a ser enfrentado pelas políticas públicas", afirmou.

Segundo o cubano Ismael González González Esmael, a construção democrática depende da participação social em favor de um mundo mais justo e de uma cultura solidária. "O problema não está na tecnologia, mas no conteúdo que comunicamos. Contudo, estamos vivendo uma crise não somente integrada ao financeiro, mas financeira, ambiental e alimentar, disse Ismael acrescentando que "deveríamos pensar globalmente para atuar localmente, sobre o que está ao nosso alcance".

O jornalista Beto Almeida disse que todo avanço tecnológico traz progresso, mas se não houver formas de cultura solidária ela não é útil. Beto vê a necessidade de uma reeducação para fazer uso humanitário da ciência e da tecnologia.

Lauro Quadros destacou que as novas tecnologias, como internet, celular e TV a cabo, são muito recentes. O jornalista observou que as pessoas das nossas relações, todas tem TV a cabo e rede sem fio, com isso concluímos que todo mundo tem TV a cabo quando a maioria não tem acesso a essas tecnologias.

Para Beto Almeida a agenda pública precisa desenvolver conceitos novos num jornalismo que ele chamou de "integração". Uma prática de comunicação de notícias sobre a integração dos países da América Latina. Beto citou como exemplo um fato positivo na área de saúde envolvendo Cuba e Venezuela que se uniram para fazer operações de catarata, procedimento feito há cinco anos para enfrentar um problema que de saúde da população no Continente e isso não é noticia. Por outro lado, disse ele, "quando se lança uma bolsa em Londres, isso é noticia", observou. Beto lembrou ainda que existem muitos bons filmes produzidos no Continente mas eles não são divulgados.

O debate mostrou a importância de se construir uma cidadania comunicacional em vista da democracia.

* Jaime Carlos Patias, revista Missões no Muticom, em Porto Alegre.

Fonte: Revista Missões

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