Cardeal Steiner: “Na Amazônia, as mulheres insistem em mais formação para exercer melhor o seu ministério”

Por Luis Miguel Modino

A Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade iniciou em 18 de outubro os trabalhos do quarto Módulo, que trata da “Participação, responsabilidade e autoridade”. Pouco a pouco, alguns detalhes estão sendo conhecidos, entre eles o fato de que o Documento de Síntese, como informou Paolo Ruffini, “será breve e estará a serviço de um processo que continuará, será um texto de transição que conterá os pontos de consenso e aqueles em que não houve acordo”, bem como as questões abertas a serem respondidas.

Um documento de síntese e uma carta ao povo de Deus

O prefeito do Dicastério para a Comunicação insistiu que “a Síntese não é um Documento Final e tampouco é o Instrumentum Laboris da próxima assembleia” e terá uma redação simples. Também foi decidido redigir uma carta-mensagem para contar a todo o Povo de Deus a experiência dos participantes da Assembleia Sinodal.

A coletiva de imprensa diária contou com a presença do Cardeal Leonardo Ulrich Steiner, Arcebispo de Manaus, do Arcebispo Zbigņev Stankevičs, Arcebispo de Riga (Letônia), de Dom Pablo Virgilio S. David, Bispo de Kalookan (Filipinas), e de Wyatt Olivas, que, aos 19 anos, é o mais jovem participante do Sínodo.

Uma Igreja com uma longa experiência de sinodalidade

O cardeal Leonardo Steiner partilhou a experiencia da Amazônia, “uma Igreja que tem uma larga experiencia de sinodalidade, sem usar a palavra sinodalidade. Uma Igreja que procurou envolver todos os ministérios e todas as vocações na evangelização, nas discussões”. O arcebispo de Manaus destacou e presença nas assembleias dos indígenas, da Vida Religiosa, presbíteros, diáconos permanentes e bispos. Ele relatou a experiência sinodal na Arquidiocese de Manaus, com uma ampla participação no processo de escuta, o que serviu no para enviar para o atual Sínodo.

Ele mostrou sua alegria em ver que “o sínodo está sendo um processo, não estamos buscando logo soluções, mas estamos nos exercitando na sinodalidade”, afirmando que é claro que deverá se chegar em conclusões e decisões. Um processo sinodal onde todos estão procurando entrar, “onde todos têm oportunidade de falar, se expressar, colocar suas ideias sempre para o bem da Igreja, sempre levando em consideração a missão da Igreja, que é anunciar o evangelho, anunciar o Reino de Deus. Todos nós nesse processo”.

O cardeal agradeceu ao Santo Padre por “ter convocado um Sínodo e podermos assim refletir e nos exercitar na sinodalidade”. E para a Igreja da Amazônia “um incentivo a mais para continuarmos nesse caminho de buscar ouvir a todos e envolver a todos no processo evangelizador”. O arcebispo de Manaus ressaltou o desejo da Amazônia de “ouvir as culturas da região, que são as culturas indígenas para podermos a partir da cultura apresentar o Evangelho, mas também a partir da cultura podermos fazer as nossas celebrações”.

Um Espírito que quer renovar a Igreja

Um Sínodo que é algo que empolga o jovem norte-americano, especialmente quando ele descobre o desejo do Papa de escutar a todos. Um processo que, no caso de Mons. Zbigņev Stankevičs, bispo em um país com dois milhões de habitantes, com 20% de católicos, apesar da relutância de alguns, o vê como “um sopro do Espírito Santo que quer renovar a Igreja”, insistindo que a principal tarefa do Sínodo é ouvir a todos, não apenas os católicos, e “tentar reconhecer o que o Espírito Santo quer dizer à Igreja hoje”, sendo a chave os ensinamentos do Concílio Vaticano II e o chamado para despertar um senso de corresponsabilidade. Descobrir os dons e carismas de todos e ver como eles podem ser aplicados ao serviço da Igreja. Algo que ele também aplicou às mulheres e a seus dons específicos.

Por sua vez, o bispo filipino se referiu aos muitos migrantes filipinos em todo o mundo e como sua presença é apreciada. Isso leva os bispos a se perguntarem se eles formaram essas pessoas em corresponsabilidade na missão, o objetivo deste Sínodo, chamando os leigos a perceberem sua corresponsabilidade na missão como o tema mais importante do Sínodo. Da mesma forma, como outros já fizeram, a disposição da Sala Sinodal em mesas redondas, ao contrário do outro Sínodo do qual ele participou, pois isso mostra “nossa igualdade, somos todos discípulos no Batismo, estamos destacando nossa igualdade como batizados”.

Escutar o que as comunidades são e as necessidades

Para o cardeal Steiner, “ouvir as comunidades nos dá noção do que as comunidades pensam, o que elas são, o que desejariam ser, e as necessidades que as comunidades têm”. Ele mostrou que “as nossas comunidades do interior, quase todas são dirigidas por mulheres, e as mulheres insistem em ter mais formação para poder exercer melhor o seu ministério, a sua liderança, e pedem ministérios próprios”, citando como exemplo o Ministério do Batismo, que faria possível a celebração do Batismo sem a presença do padre, destacando a cada vez maior consciências das comunidades de que “elas possam celebrar um sacramento como comunidade”.

Em relação às comunidades indígenas, em Manaus há mais de 70 mil indígenas, com culturas e línguas diferentes, defendeu a necessidade de “ouvir para podermos perceber quais são as necessidades, quais são as sugestões, como fazer a celebração da Eucaristia, como estar ao lado deles, como cuidar do meio ambiente”. O cardeal denunciou a situação deplorável em que se encontra a Amazônia com a seca, onde “os grandes e famosos rios da Amazônia estão quase secos”, e junto com isso a fumaça e as queimadas.

Uma Igreja ativa, samaritana, presente, misericordiosa, mas também consoladora

O presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil enfatizou que “os indígenas nos ajudam a compreender essa realidade, essa relação própria com o meio ambiente. Eles nos alertam e nos ajudam a compreender a necessidade de fazer realidade o cuidado com o que o Papa Francisco chama de casa comum”. É por isso, que “ouvir as nossas comunidades desse modo sinodal nos ajuda muito a sermos uma Igreja ativa, samaritana, presente, misericordiosa, mas também consoladora”.

Uma sinodalidade que “ajuda muito, porque as comunidades dizem como sermos uma Igreja, não o bispo dizer como devem ser as comunidades, mas as comunidades nos ajudarem a perceber melhor como ser Igreja na realidade que vivemos”. Também destacou como expressão de sinodalidade as comunidades dizer como gostariam de celebrar levando em consideração a piedade popular, que sempre alimentou a vida das comunidades. Finalmente ele destacou que “nos momentos de decisão todos votam, menos o bispo. As linhas de evangelização, como sermos Igreja todos votam. Eu como bispo faço questão de não votar, porque eles são Igreja, e representam as comunidades” e essas pessoas é que nos ajudam a ser uma Igreja evangelizadora, que “se compreende também como Igreja dos pobres”.

Fonte: REPAM

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