Católicos e católicas na hora das eleições

Nós vamos votar para escolher Presidente, Governadores, Senadores, Deputados Federais e Estaduais que vão governar o Brasil pelos próximos quatro anos.

Por Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira

Estamos a três dias das eleições de 2022. Nós vamos votar para escolher o Presidente da República do Brasil e os Governadores dos Estados e do Distrito Federal. Elegeremos, também, os que vão nos representar nas Assembleias Legislativas dos Estados (Deputados/Deputadas Estaduais), na Câmara Federal (Deputados/Deputadas Federais) e Senadores e Senadoras.

Na eleição de 2018 escrevi alguns artigos sobre nosso compromisso como Católicos e Católicas diante deste direito/dever de votar. Entre estes está o artigo “Profeta Ezequiel e as lições para as Eleições”, que publiquei na página da CNBB, no espaço dedicado aos “Artigos dos Bispos”. Convido vocês a relerem estes artigos na íntegra (cf.www.cnbb.org.br/artigos dos bispos). No entanto, quero falar mais uma vez neste artigo para vocês meus irmãos católicos e minhas irmãs católicas sobre este momento importante que estamos vivendo em nosso país e em nossos Estados.

Acreditamos, como o Papa Francisco, que “a política é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum” (Exortação Apostólica Evangelli Gaudim – A alegria do Evangelho, nº 205). Segundo o Catecismo da nossa Igreja, este bem comum comporta três elementos essenciais: respeito pela pessoa humana, bem-estar social e a paz (cf. nºs. 1906 a 1909).

Princípios que devem nos orientar em nossa atividade política:

Participar e exercer nosso direito/dever de VOTAR

eleioes20201Nós não devemos nos abster (deixar de comparecer), nem anular ou votar branco. Pensando no bem comum, objetivo maior de toda atividade política, devemos escolher um entre os Projetos que nos foram apresentados para o Brasil e para o nosso Estado e votar. Analisando o resultado das eleições no segundo turno de 2018 no Brasil, vimos que 21,30% não votaram, 2,14% votaram branco e 7,43% anularam o voto (cf. www.tse.jus.br de 13 de fevereiro de 2019).

É verdade que o voto não esgota o exercício da cidadania, mas tem um valor fundamental para que consigamos manter o Brasil vivendo a democracia. O Concílio Vaticano II assim nos orienta: “Lembrem-se, portanto, todos os cidadãos ao mesmo tempo do direito e do dever de usar livremente seu voto para promover o bem comum” (Gaudium et Spes, 75a).

A Igreja ao nos incentivar a exercer este nosso direito/dever de votar, pede que nosso Voto seja:

a) CONSCIENTE, ou seja, devemos saber em quem estamos votando, procurar conhecer os candidatos/as, seus partidos, suas propostas para o Brasil, para o nosso Estado, a nossa região);

b) LIVRE, ou seja, devemos votar em quem queremos e não em quem alguém manda que votemos; devemos votar porque acreditamos na pessoa que estamos votando e nas suas propostas em vista do bem comum e jamais devemos vender o voto, porque voto não tem preço, tem consequência e porque vender e comprar voto é crime pela lei 9840/1999; diante da urna eletrônica estamos sozinhos/sozinhas, apenas nós, nossa consciência e Deus;

c) RESPONSÁVEL, ou seja, devemos votar sabendo que nosso voto pode ajudar a construir o bem comum, objetivo próprio da política e não votar pensando em tirar vantagens pessoais, para nossa família ou para nosso grupo de amigos e de amigas.

A Cartilha de Orientação Política da CNBB de 2018, afirmava que “votar nulo ou branco é como a atitude de Pilatos, que lavou as mãos” (cf. página 20). O católico e a católica devem comparecer na seção eleitoral onde está inscrito e votar. Não podemos pecar por omissão, não podemos fazer como Pilatos, lavar as mãos e deixar que Cristo continue sendo condenado a morte, nos que passam fome, estão desempregados, não tem assistência social, não tem atendimento justo de saúde, sofrem violências e discriminações.

Recusar a quem nos incentiva a votar por revolta ou por ódio aos partidos e aos políticos.

Nossa Igreja nos ensina que devemos usar de nossa inteligência na hora de votar. Isto significa que nosso voto, como já foi lembrado acima, deve ser dado com liberdade, consciência e responsabilidade. Devemos Votar no candidato/na candidata à Presidência e ao Governo do nosso Estado e para o Poder Legislativo estadual e federal que apresentem o melhor Projeto, ou seja, aquele projeto que promova o bem comum, respeite as diferenças, distribua renda, invista em políticas públicas na área da saúde, educação, segurança e saneamento básico.

Votar simplesmente para protestar contra partidos e políticos pode nos fazer contribuir com a eleição de projetos e pessoas que pensam somente em si mesmos, em suas famílias e em grupos de apoiadores. Não podemos esquecer que o voto tem consequências.

Votar levando em conta os ensinamentos da Palavra de Deus, especialmente os ensinamentos de Jesus

Apresento agora alguns dos critérios, que brotam da Palavra de Deus e podem nos ajudar na escolha do Projeto de Governo para o Brasil e para nossos Estados:

a) Um Projeto fundamentado no amor

“Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros, assim como eu amei vocês” (Jo 13, 34). “O amor é o pleno cumprimento da lei” (Rm 13, 10).

Quem propõe ações contrárias ao amor, foge da proposta de Jesus e não merece o nosso voto. Portanto, quem defende a pena de morte e o uso indiscriminado de armas de fogo, quem propaga o ódio e a perseguição aos que pensam diferente, quem ofende as mulheres, os negros, os indígenas, os pobres não merece o nosso voto.

b) Um Projeto fundamentado no perdão e na misericórdia

“Vocês ouviram o que foi dito: ‘olho por olho e dente por dente’. Eu, porém, lhes digo: não se vinguem de quem fez o mal a vocês” (Mt 5, 38-39). “Não paguem a ninguém o mal com o mal… Não façam justiça por própria conta… Não se deixe vencer pelo mal, mas vença o mal com o bem” (Rm 12, 17.19.21). “Todos vocês são irmãos” (Mt 23, 8).

A situação de violência a que somos afetados, refiro-me a todas as formas de violência (física, psicológica, privação de direitos, silenciosa) não pode nos induzir a abraçar a solução fácil da violência para superar a violência. Nossa Igreja diz não à pena de morte oficial (aprovada por lei) ou indireta (feita por cada pessoa que porte uma arma de fogo). Esta falsa solução somente faz aumentar a insegurança e a violência na sociedade, bem como somente os mais pobres, negros e grupos minoritários serão as vítimas e muitas vezes, vítimas injustas, fruto do preconceito.

c) Um Projeto fundamentado na promoção da VIDA, maior dom que Deus nos deu

“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10). Vida desde a concepção, passando por todas as etapas, da criança que nasce, cresce, chega à adolescência e à juventude, chega a idade adulta e depois na velhice, morre naturalmente. Por isto nossa Igreja diz NÃO a todas as formas de atentado à vida humana: não ao aborto, não à mortalidade infantil, não à redução da maioridade penal para nossos jovens, não às injustiças sociais que nega direitos e que produz morte em todas as idades, não a eutanásia (a antecipação da morte de idosos e enfermos com doenças incuráveis).

Temos que votar no Projeto para o Brasil e para o nosso Estado que garanta sempre a vitória da vida e os direitos inalienáveis de toda pessoa humana: direito de nascer, de ter uma família, de ter moradia, alimentação, condições de conservar e recuperar a saúde, acesso à educação de qualidade (da alfabetização até o ensino superior), trabalho com justa remuneração, liberdade religiosa, de expressão e de ir e vir; ter direito de escolher nossos representantes pelo voto direto e livre e de participar da vida política do país, do estado e do município; direito de organizar-se em associações, sindicatos e ONGs para trabalharem pelo bem comum, direito a professar sua fé livremente sem sofrer interferência do governo.

d) Um Projeto fundamentado no serviço aos mais pobres

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa Notícia aos Pobres (Lc 4, 18). “Todas as vezes que vocês fizeram isso a um dos menores de meus irmãos, foi a mim que o fizeram” (Mt 25, 40). “Fizeram isso”: com fome, demos de comer; com sede, demos de beber; estrangeiro, recebemos em casa; sem roupa, vestimos; doente e preso e fomos visitar. Disse Jesus: “foi a mim que o fizeram”, numa clara opção de Jesus pelos pobres. Tiago, Pedro e João pediram a Paulo que se lembrasse dos pobres. Paulo declara: “Isso eu tenho procurado fazer com muito cuidado” (Gl 2, 10).

Nosso voto tem que ser no Projeto para o Brasil e para nosso Estado que faça uma clara opção pelos pobres, excluídos e marginalizados da sociedade e que garanta a superação das desigualdades sociais entre pessoas, raças e regiões. Seja um projeto para todos, mas que olhe de modo especial os empobrecidos e marginalizados de nossa sociedade.

e) Um projeto que respeite o Meio Ambiente, nossos Biomas

Na hora de escolher o Projeto para o Brasil e para o nosso Estado, merece levar em consideração, um Projeto que respeite a natureza e se comprometa em preservar nossos biomas. Para nós que vivemos na Amazônia brasileira, precisamos votar em quem no seu projeto se compromete com a preservação de nossa Floresta, Rios, Lagos e Igarapés, bem como garanta o respeito aos territórios e culturas dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores artesanais e seringueiros.

A REPAM está nos propondo votar pela Amazônia. A Prelazia de Itacoatiara, onde procuro servir como bispo, abraçou esta Campanha.

Quero propor a você que nos acompanha neste artigo: Vamos votar pela Amazônia? Isto vale para cidadãos e cidadãs de qualquer Estado do Brasil, quando for escolher em quem vai votar para Deputado/Deputada Federal e para Senador/Senadora. Vote pensando na Amazônia. Precisamos qualificar melhor o nosso Congresso Nacional, diminuindo o mais que se puder as bancadas da bola, da bala e do boi; diminuindo o chamado Centrão, gente que vota contra o meio ambiente, contra nossos biomas, contra os povos indígenas e quilombolas, gente que vota a favor da liberação de venenos para a agricultura, gente que recebe verba do orçamento secreto para votar sempre a favor do governo.

“Queremos que a Amazônia continue sendo berço transbordante de beleza e diversidade, nosso jardim sagrado de vida. Para isso, precisamos eleger candidaturas comprometidas com o cuidado integral dos povos e territórios amazônicos. Nas eleições de outubro de 2022, temos o compromisso de refletir e escolher projetos que promovam a dignidade da pessoa humana, o enfrentamento à pobreza e as desigualdades sociais, o combate imediato às mudanças climáticas e a proteção da Amazônia, dos povos e comunidades tradicionais que lá vivem. Junto com o Papa Francisco, sonhamos com uma Amazônia que ‘lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja escutada e que sua dignidade seja promovida […] com uma Amazônia que preserve a riqueza cultural que a caracteriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana […] com uma Amazônia que guarda zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche seus rios e as suas florestas’ (Querida Amazônia, 07). Por amor à vida, ao presente e ao futuro de todas as gerações: EU VOTO PELA AMAZÔNIA! Eu vou escolher candidatos e candidatas que vão proteger a floresta, as cidades e os povos amazônicos”. (www.repam.org.br).

A REPAM em sua página na internet faz esta pergunta: Por que votar pela Amazônia? E ela mesma nos ajuda a encontrar respostas claras e profundas que justificam VOTAR pela Amazônia. Compartilho algumas destas razões e motivos aqui neste nosso Artigo. Convido a você leitor/leitora a refletir e decidir, também, votar pela Amazônia.

Eu VOTO pela Amazônia por quê?

<> Porque votar é um compromisso cristão de defesa do bem comum, da dignidade da pessoa humana e da promoção da justiça social. Votar é um gesto de amor, pela humanidade e por todos os seres;

<> Porque a Amazônia é um santuário sagrado da vida. Na Amazônia, Deus revela a beleza de toda sua Criação: águas, matas, terras, pássaros, mulheres e homens, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores. Tudo é vida, tudo é sagrado e, por isso, deve ser guardado e cuidado;

<> Porque a vida de todo o planeta depende do equilíbrio ambiental do bioma amazônico. A produção de alimentos e o abastecimento de água, por exemplo, no Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil, dependem dos “rios-voadores” (massas de água) que são originados na Amazônia;

<> Porque as presentes e as futuras gerações têm o direito de viver em um país com condições ambientais saudáveis, e para isso a preservação da Amazônia é crucial. Para ter futuro, precisamos cuidar da Amazônia agora, no presente;

<> Porque queremos que os projetos de governo e as políticas públicas para os próximos anos, apoiem as muitas iniciativas de agroecologia, economia solidária, produção e consumo que respeitam a Amazônia. Essas experiências mostram que podemos avançar para economias com foco na justiça socioambiental;

<> Porque queremos fortalecer experiências de justiça econômica que sejam inspiradas no bem viver, na cosmovisão dos povos amazônicos e na permanência da floresta e dos povos em seus territórios.

Conclusão

Todos os dias, sozinho, com a família, na sua Comunidade, Pastoral, Organismo, Grupo, Movimento, rezemos a oração atribuída a Salomão, que está no capítulo 9 do Livro da Sabedoria, especialmente o versículo 10: “Manda a Sabedoria desde o céu santo e a envia desde o teu trono glorioso, para que ela me acompanhe e participe de meus trabalhos, me ensine o que é agradável a ti”.

Claro, devemos rezar e deixar-nos guiar pela sabedoria divina na escolha do voto que vamos dar no dia 02 de outubro.

Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira é bispo da Prelazia de Itacoatiara, AM.

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