Relatório Conflitos no Campo Brasil: quem matou Irmã Dorothy continua matando

O relatório da CPT mostra que, o avanço do capital e a sede pelo lucro a todo custo, e que provocou o assassinato da Irmã Dorothy.

Por Jaime C. Patias
Fotos: POM

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A Comissão Pastoral da Terra (CPT) apresentou nesta sexta-feira, 15, o relatório que reúne dados sobre os conflitos e violências sofridas pelos trabalhadores e trabalhadoras do campo, incluindo indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais.

000 a a acpt.bispo“Nestes tempos de intrigas palacianas e contendas entre os três poderes, os holofotes estão todos voltados para o Planalto. Enquanto isso, os povos das planícies, da terra, das águas e das florestas, estão entregues, cada vez mais, às feras do capital, às feras do latifúndio e do agronegócio. Estão entregues às milícias armadas e aos jagunços a serviço das grandes potências, do mercado nacional e internacional”, afirmou o presidente da CPT, dom Enemésio Angelo Lazzaris, bispo de Balsas (MA), ao apresentar o documento “Conflitos no Campo Brasil 2015”. A 31ª edição do documento anual foi publicada no Acampamento Nacional pela Democracia, montado pela Frente Brasil Popular, nas imediações do ginásio Nilson Nelson, em Brasília (DF).

“Enquanto uma Corte se diverte na Casa Grande, na Senzala e no campo dezenas de indígenas, quilombolas, pescadores, extrativistas, homens e mulheres, famílias de assentados e acampados são eliminados de seus territórios”, frisou o bispo que e pediu também, respeito à democracia, reforma agrária e urbana.

“Inspirados na Palavra de Deus condenamos os que inebriados pelo poder se esquecem do bom senso e das leis e não são solidários aos direitos dos fracos e dos pobres”, concluiu dom Lazzaris.

No mesmo dia, aconteceu outro lançamento nacional em Marabá (PA), no Centro Diocesano de Pastoral, dentro da programação da Conferência Internacional da Reforma Agrária, que ocorre de 13 a 17 de abril, em memória aos 20 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás.

Assassinatos no campo

Em Brasília, membros da coordenação executiva nacional da CPT, o professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP), Ariovaldo Umbelino de Oliveira e representantes de assentamentos apresentaram os números da violência.

O relatório de 2015 destaca o maior número de assassinatos em conflitos no campo dos últimos 12 anos, com 50 assassinatos, 14 a mais que no ano anterior, quando foi registrado 36 mortes. 47 destes assassinatos ocorreram no contexto de conflitos por terra, 1 em conflitos trabalhistas e 2 em conflitos pela água.

Confira aqui a íntegra do documento

000 a a acpt.bancaO que mais chama a atenção é que, 40 dos 50 assassinatos ocorreram na região Norte, sendo 19 no Pará, 20 em Rondônia e 1 no Amazonas. Olhando a partir da Amazônia legal, que inclui parte do Maranhão e do Mato Grosso, o número é ainda mais preocupante, com 47 assassinatos. Além disso, na Amazônia ocorreram 30 das 59 tentativas de assassinato; 93 das 144 pessoas ameaçadas de morte; 66 dos 80 camponeses presos; 94 dos 187 agredidos fisicamente; 529 dos 998 conflitos por terra; 571 das 795 famílias expulsas da terra; 2.866 das 13.903 famílias despejadas, com destaque para o Mato Grosso (1090), Rondônia (694) e Amazônia (640).

Conflitos pela água

A CPT revela que os conflitos pela água cresceram 6%, passando de 127, em 2014, para 135 em 2015. É o maior número de conflitos registrado pela CPT desde que estes conflitos começaram a ser registrados em separado, em 2002.

Estes números confirmam que a Amazônia continua sendo uma das novas fronteiras para o capital representados pela expansão da soja, da pecuária, pela mineração e a extração de madeira. Isso aliado à construção de hidrelétricas, portos, aeroportos, hidrovias e estradas. Este suposto desenvolvimento acirra os conflitos.

O relatório da CPT mostra que, o avanço do capital e a sede pelo lucro a todo custo, e que provocou o assassinato da Irmã Dorothy, continua matando, expulsando famílias de suas terras tradicionais e depredando o meio ambiente.

Fonte: Pom

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